31 de mai. de 2009

FALSAS SOLUÇÕES NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

1. A classe média não teve culpa ! A queda de qualidade da Educação Básica pública iniciou-se quando os sistemas municipais, estaduais e federais foram ampliados para incorporar parcelas crescentes de nossa população escolarizável, democratizando-se o acesso das classes mais carentes. Houve ênfase excessiva na construção de escolas. Paralelamente ao crescimento da rede física deveria ter havido um esforço proporcional de formação, aperfeiçoamento e valorização dos quadros docentes. Esforço esse, infelizmente, relegado a plano secundário. Tornou-se quase uma tradição – nefasta sob todos os aspectos – que administradores do ensino público, que não sabiam muito bem o que fazer, optassem por concentrar seus esforços na construção de novos estabelecimentos educacionais e ponto final... Medida que o povo sempre via com bons olhos, que rendia votos, mas não necessariamente melhorava as condições do ensino público. A triste realidade é que desde então faltam professores qualificados e os docentes em atividade estão desestimulados por uma carreira de retorno financeiro insuficiente e sem incentivos à meritocracia. Aí sim, a classe média teve grande influência. As circunstâncias fizeram com que a clássica professora de primário e ginásio, originada anteriormente dessa camada mais intelectualizada da população, buscasse outras alternativas profissionais, tangida pela deterioração do magistério, mal remunerado e exercido em condições penosas. O mesmo sucedeu com os filhos da classe média, muitos dos quais outrora eram professores de nível médio, mas para os quais as inúmeras oportunidades profissionais geradas pela economia - que se modernizou - colocam o magistério, nas últimas décadas, como uma de suas mais remotas opções vocacionais.
2. Essas considerações vêm bem a propósito neste momento em que o MEC está expandindo a rede federal de educação profissional. Segundo o noticiário oficial “nos últimos sete anos, o Ministério da Educação já entregou à população várias unidades das 214 previstas no plano de expansão da rede federal de educação profissional. Além disso, outras escolas foram federalizadas. Todas as unidades em obras serão concluídas até 2010. O MEC está investindo R$ 1,1 bilhão na expansão da educação profissional. Em 2010 o número de escolas ultrapassará as 354 unidades previstas. Serão 500 mil vagas em todo o país.”
3. Aparentemente, parece uma ótima notícia. Mas não é... O MEC deveria, isto sim, atacar de frente os problemas reais de nossa Educação, relacionados à péssima qualidade do ensino. Mas está preferindo a falsa solução – construir escolas - sem ir ao âmago da questão. De que adianta uma vasta rede se já agora não existem professores qualificados para atuar na educação profissional ? Serão escolas medíocres, em sua maioria. Mais do mesmo de sempre: as famílias mais pobres do País acalentam a ilusão de que tudo é feito em seu favor, mas a realidade é bem diferente...
4. E tem mais: a preparação de pessoal técnico para trabalhar em nosso parque produtivo estaria na instituição escolar ? Em minha opinião, a formação do trabalhador qualificado não pode ser feita, de modo adequado, exclusivamente em estabelecimento escolar. Só com a participação ativa da empresa esse objetivo pode ser atingido a contento. Nenhum sistema escolar pode manter-se atualizado em termos de equipamentos, a não ser no início de seu funcionamento. Rapidamente tudo fica obsoleto, pois os avanços científico-tecnológicos não param de acontecer. Só as empresas se mantêm atualizadas. Caso contrário, a falência é certa. É inviável economicamente que o MEC reequipe essas centenas de escolas a cada cinco anos, por exemplo, mantendo-as na ponta da tecnologia de produção ! Obras sem fim, compras milionárias de equipamento, inaugurações festivas...Tudo isso pode ser populismo e puro desperdício.
5. Maria Célia Pressinatto foi uma daquelas eficientíssimas Supervisoras do MOBRAL, baseada em Limeira, São Paulo. Hoje, com todos os méritos, é Pró-Reitora de Ensino do Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto. Célia enviou-me um email, lembrando um episódio que mostra bem como era o espírito do MOBRAL e como o idealismo do seu pessoal conquistava os participantes de seus projetos. Célia relembrou: “Era tempo de bipartidarismo: PDS e MDB, adversários ferrenhos. Estávamos fazendo um PRODAC/ACISO (trabalho conjunto do MOBRAL e o Exército Brasileiro, de atendimento às populações locais carentes) na cidade de Dourado/SP e o Prefeito, do PDS, tinha assumido a Prefeitura naquele ano. Não dispunha ainda de máquinas pesadas para realizar melhoramentos no seu município. Com nosso trabalho de convencimento, envolvemos o municipío vizinho, Ribeirão Bonito, mais rico, cujo Prefeito era filiado ao MDB, mas que acabou emprestando suas máquinas para todo trabalho de recapeamento de Dourado. Além disso, o MOBRAL Central fez a doação de uma perua Veraneio usada para o Prefeito e as Secretarias municipais de Bonito poderem deslocar-se até a Capital do Estado. Foi a primeira e única viatura da Prefeitura por muito tempo. Mas foi a união de duas Prefeituras de partidos opostos em favor da comunidade que comoveu a todos.”

2 comentários:

  1. Caro amigo,

    Como professor da rêde pública estadual concordo plemanamente com seu artigo. Uma das questões envolvidas é o não estímulo à pesquisa academica. Veja, um professor estadual ganha um percentual irrisório quando faz uma pós graduação. Se ele quizer fazer um mestrado ou doutorado lhe será mantido o mesmo incentivo de sua pós. Como desenvolver o impulso epistemológico diante de tal barreira? Para se ter uma idéia só na capital há um total de 16.800 tempos de aula vagos, o que nos leva a concluir que signifa um defit de 1.400 professores. Segue o entêrro!

    Haroldo Ledo.

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  2. Caro Haroldo: grato pelo comentário, bastante pertinente. Faltam professores e o Governo finge que não. Você também aborda um assunto de outro texto deste blog. Nos Estados Unidos estão discutindo se o professor deve ser pago em função dos cursos que faz ou do aproveitamento dos alunos - a turma do Obama quer pagar pelo rendimento dos estudantes. Bastante discutível... Arlindo Lopes Corrêa

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