A população mundial está envelhecendo rapidamente, graças aos avanços científico-tecnológicos e ao processo de desenvolvimento das nações, o que lhes permite aumentar os investimentos em favor da melhoria da qualidade de vida de seus povos. Esse fenômeno acarretará mudanças espetaculares sob todos os aspectos – sociais, políticos, econômicos e culturais. Parodiando Aldous Huxley às avessas (ele escreveu Brave New World – Admirável Mundo Novo) estamos às portas de um “admirável mundo velho” !
Trata-se de algo tão importante e impactante que, a meu ver, a Organização das Nações Unidas (ONU) deveria criar uma Agência Especializada para a Terceira Idade. Afinal, a UNICEF - Agência Especializada da ONU para a infância - surgiu porque a população cresceu espetacularmente, quando a mortalidade infantil foi reduzida dramaticamente e o mundo rejuvenesceu. Agora o mundo está envelhecendo. Creio que só assim haveria uma “massa crítica” de pensamento reformista, com repercussão universal, para fazer com que os Governos da Terra agissem adequadamente para enfrentar os desafios que essa estrutura etária inusitada vai colocar à nossa frente.
Ilustrativo é argumentar em favor dessa tese, usando o caso do Brasil, onde o envelhecimento populacional é assombrosamente acelerado e as providências correspondentes tardam. Para isso, listemos algumas constatações simples, do nosso cotidiano, sem sofisticar demais nossa análise.
1. A propaganda do Ministério do Turismo do Governo Federal chama a terceira idade de “melhor idade”. Mas acreditem: é pura ironia...
2. quem se aposentou pelo INSS em janeiro de 2000, recebendo à época uma pensão inicial de 3 salários mínimos (que hoje equivaleriam a R$ 1.400,00) está recebendo atualmente menos de 2 salários mínimos (R$ 930,00). Motivo: a política governamental de anualmente dar aumentos muito acima da inflação para o salário mínimo mas reajustes abaixo da inflação para os aposentados. Em poucos anos, os aposentados de hoje que ainda sobreviverem estarão todos ganhando a mesma quantia: 1 salário mínimo;
3. aposentados do INSS que tenham atrasados a receber já sabem que o INSS não paga senão quando obrigado judicialmente. Ou entram na Justiça (e pagam honorários aos advogados) ou deixarão os atrasados para seus herdeiros;
4. a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANSS), que manda e desmanda nos seguros-saúde, autoriza reajustes de 60% e até mais na mensalidade dos cidadãos no dia em que completam 60 anos e ingressam na terceira idade. É uma espécie de prelúdio dos dias negros que os esperam. Não é preciso dizer que os inúmeros idosos que desistem do seguro-saúde, por não terem como pagá-lo e tentam ser atendidos no SUS, morrem à míngua de socorro nas portas e corredores dos hospitais;
5. o Ministério da Educação não tem uma política de formação de pessoal de nível superior nas especialidades de ciências da saúde que atendem às pessoas da terceira idade de forma condigna, com serviços de qualidade, apesar do crescimento exponencial dessa parcela da população brasileira. Faltam médicos geriatras (generalistas e nas diversas especialidades), fisioterapeutas, psicólogos, dentistas e profissionais de educação física. Enquanto isso, o sistema de ensino superior brasileiro continua formando multidões de profissionais que não têm onde se empregar, por falta de demanda do mercado de trabalho;
6. o Sistema Nacional de Emprego (SINE) do Ministério do Trabalho ainda não se deu conta de que deve ter políticas específicas de colocação, treinamento e retreinamento para os trabalhadores que se aproximam ou já atingiram a terceira idade;
7. a base de apoio ao Governo no Congresso, que tem votos para aprovar qualquer coisa, ainda não percebeu que é indispensável uma legislação específica para o trabalho dos idosos. Jornada de tempo parcial, trabalho sazonal (apenas em certas épocas do ano) e teletrabalho (trabalho em casa) são modalidades que mereceriam regulamentação própria. Da mesma forma, a redução da tributação sobre o trabalho do idoso - que já não precisa contribuir para sua aposentadoria e qualificação profissional. Essa reforma favoreceria a inserção profissional dos idosos e lançaria as bases da política de “envelhecimento ativo” que o Brasil precisa adotar urgentemente.
8. Felinto Lúcio Dantas era um velho nordestino, pobre, que andava quilômetros todos os dias, empunhando sua enxada, para trabalhar na roça, esquecido pelo mundo jovem, urbano, que ignorava a cultura popular brasileira. Mas era um gênio musical. Um fenômeno inexplicável do sertão árido e inóspito. Estava na casa dos 70 anos, ignorado – como muitos idosos de talento estão hoje - até que o MOBRAL CULTURAL, na pessoa da Coordenadora do MOBRAL no Rio Grande do Norte, a heróica Lurdinha Bittencourt, chegou até ele e o revelou ao mundo. Vejam o que dele diz o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira: “Nascido no Sertão do Seridó, compôs valsas, mazurcas, dobrados e peças sacras. Uma parte do seu repertório está registrada em partituras que se encontram em mãos da família, em arquivo pessoal. Em 1978, o Centro Cultural Mobral gravou em um LP duplo, algumas de suas obras, contando com a participação do maestro Radamés Gnattali. Em 1982 gravou depoimento para o programa "Memória viva", da TV Universitária. Em 1983, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) gravou outras de suas composições em um LP editado naquele ano. Em 1997 teve a música sacra "A quinta novena", executada em missa na Catedral do Rio de Janeiro, com a presença do Papa João Paulo II. Em 1999, por ocasião das comemorações dos 400 anos da fundação da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, teve sua composição "Estréia", gravada pelo Quinteto Natal Metais no CD "Nação Potiguar". (in Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, http://www.dicionariompb.com.br/)
Para minha honra, guardo carinhosamente a partitura da “Valsa Arlindo Lopes Corrêa” que o gênio agradecido me dedicou...
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Mais uma vez parabenizo por trazer temas muitas vezes esquecidos à discussão. A Terceira Idade precisaria realmente de maior atenção por parte de nossos governantes...É preciso criar uma política voltada para as necessidades reais desta parte de nossa população.
ResponderExcluirAlain
Arlindo,
ResponderExcluirExcelente esta sua idéia de uma agência especializada para a terceira idade. Sem dúvida, o rápido envelhecimento das populações está se tornando um dos mais sérios problemas sociais a ser enfrentado pelo mundo. Sem contar que não se sabe ainda até que ponto os avanços da engenharia genética poderão conduzir a um efetivo controle do processo de envelhecimento. Há cerca de quarenta anos um pesquisador inglês, John Taylor, que estudava tudo o que vinha sendo trabalhado nos principais laboratórios científicos da Europa e dos EEUU, escreveu o livro "The Biological Time Bomb", no qual fazia previsãoes para o futuro, nos campos da medicina e genética. Quando escreveu esse livro, o primeiro transplante de órgão em seres humanos ainda não havia sido feito, mas Taylor acertou com grande precisão esta e outras previsões de tantas mudanças que efetivamente já ocorreram. Mas sua última previsão, para aproximadamente o ano de 2020, era que o avanço da engenharia genética conduziria ao efetivo controle do processo de envelhecimento e que o homem poderia dar início a este processo em qualquer momento de sua vida. Segundo ele, quando isto viesse a ocorrer, o ser humano poderia viver por mais de 200 anos. Utopia ou não, pelo que já se viu até agora é o caso de se examinar a sério a possibilidade de que isto venha a ocorrer e de se estudar a fundo o impacto que ocasionaria em toda a sociedade humana.
Abs
Marcos
Agradeço os comentários, sempre estimulantes. Pela colocação do John Taylor, citado pelo Marcos Candau, verifica-se que um tamanho aumento da longevidade criaria problemas inimagináveis para a Humanidade. A bioética assumiria uma importância excepcional porque a Terra provavelmente não suportaria o aumento populacional e a pressão sobre os recursos naturais daí decorrentes. Mas a quem privilegiar ? Os velhos ou os que ainda viriam a nascer ? A ONU precisa mesmo criar essa nova Agência...Arlindo
ResponderExcluirOlá Arlindo
ResponderExcluirQue triste retrato esse que você nos dá de forma tão objetiva. É incrivel como tratamos mal os nossos idosos e isso fica mais triste ainda quando sabemos que em outras culturas eles são reverenciados, como verdadeiros sábios.
Eu mesma, pude partilhar com meus pais essa experiência: depois de tanto anos trabalhando intensamente, desde os 17 anos, não conseguiram ter uma aposentadoria digna, que correspondesse a todo o esforço que eles fizeram quando ainda mais jovens e produtivos. E embora eles não se lamentassem, porque isso não fazia parte do jeito deles serem, era possível perceber como experimentavam um certo desconforto por não serem mais tão independentes e "poderem sonhar", para usar uma expressão da mamãe que só descobri há pouco tempo em um dos seus cadernos, onde ela registrou muitas histórias e lições. Aliás essa foi uma das formas que ela encontrou para viver com alegria a terceira idade: escrever. E escreveu muito. Nos deixou inúmeros textos falando sobre sua infância, sua juventude, suas conquistas, sobre sua família, seus amigos e tantos outros assuntos.
E tanto mamãe como papai encontraram uma maneira produtiva e muito bonita de viver a terceira idade deles: cuidando da família e ajudando a criar os netos. Unidos e cercados das filhas, dos netos, das netas e dos amigos-filhos-irmãos como você podiam se sentir seguros e realizados.
Entretanto, quanto dos nossos idosos podem ou poderão viver sob a proteção da família. Como lidar com o desejo deles se sentirem produtivos e provedores e constatar que isso talvez não seja possível para a maioria deles por todos os motivos que você listou acima?
Eu acho que poderia ficar aqui listando uma série de perguntas, e correria o risco de no momento, não gostar das respostas.
Ainda bem que você nos lembrou a história do seu
Felinto Lúcio Dantas. Assim, eu vou poder dormir e sonhar que, apesar de tudo, é possível lutar e cosntruir um mundo melhor, a partir de ações que parecem pequenas, mas que são significativas e relevantes como a descoberta desse músico incrível.
Com carinho, Adélia
Adélia: grato pelo comentário. Os idosos prestam inúmeross serviços que não são considerados como "trabalho" pela sociedade produtiva mas em realidade resolvem grandes problemas. Tomar conta dos netos e da casa são exemplos triviais e clássicos. Todos idosos poderiam, mesmo modestamente, fazer inúmeras coisas úteis às escolas, asilos, comunidades: contar a história do local em que viveram a infância e adolescência, falar sobre como exerciam suas profissões, como era a escola de seu tempo, observar e relatar os problemas do lugar onde vivem... enfim há uma vasta gama de ganchos para fazê-los ativos e participantes. Falta vontade e organização, precedidos pelo devido respeito que o idoso merece. Arlindo
ResponderExcluirSem palavras...Como disse Adélia, "em outras culturas são reverenciados como sábios"....E são!Foi emocionante ler sobre "Felinto"! Quantos "Felintos" estão espalhados por aí, pelas ruas, praças, e corredores de hospitais ??? Infelizmente é uma dura realidade. Adorei a sua idéia de uma agência especializada, voltada ao idoso!Mais uma vez brilhante!Bj Vânia
ResponderExcluirGrato pelo comentário Vânia. País sem estruturas adequadas, o Brasil desperdiça talentos de todas idades. Mas é triste que ocorra no fim da vida, quando não há mais esperança de uma descoberta tardia ou do surgimento de uma oportunidade como o MOBRAL deu a Felinto. A frustração de um ser humano e sua obra vão juntos para o além e perde a Humanidade - todos nós e os que ainda vão chegar. Estou agora pensando como fazer chegar à ONU essa idéia de uma Agência especializada para a terceira idade, que é indispensável. Arlindo
ResponderExcluirEstive me lembrando de uma palestra que realizei na Universidade Gama Filho a respeito do voleibol. Os alunos organizadores do evento deixaram a meu critério o aspecto que melhor me aprouvesse. Como se tratava de final do curso, resolvi comentar sobre as possibilidades práticas de ganho profissional. Algo como "Marketing em Voleibol". Mostrei-lhes como poderiam gerenciar cursos para crianças e adolescentes de forma profícua e com rentabilidade jamais esperada ou sonhada por qualquer um deles. Infelizmene, creio ter pregado no deserto. Mais fica a mensagem de como os "velhinhos" bem intencionados e com alguma criatividade podem contribuir para a garotada. Imagino que os cursos universitários não saibam despertar neles esta "vontade de vencer e competir, própria dos jovens". A idéia que tive de lançar um Centro de Excelência em Iniciação Esportiva, tem entre outras mensagens, despertar nos jovens professores o Empreendedorismo. E nada melhor do que um "bom velhinho" a orientá-los até que se estabeleçam e alcem vôos muito mais altos.
ResponderExcluirRoberto Pimentel.
Olá Dr, Arlindo, tudo bem com o senhor? Quero lhe agradcer pela musica sonhar, que o senhor mandou, fique muito feliz. Li o comentario sobre F.Lucio Dantas, isto me fez lembrar um trabalho que fiz aqui em minha cidade com os antigos musicos, quando eu era encarregado cultural-ecult
ResponderExcluircomigo estava um supervisor de area, Nataniel,talves o mais atuante do Maranhão.Vou contar a historia destes musicos da antiga banda Sta Cecilia. Esta banda foi fundada nos anos 50, era quem animava todas as festas da cidade. Com o passar dos tempos foi surgindo a jovem guarda, então o povo começou a criticar-la chamava-os de assinos do ritimo, cavalos do cão, pavorosa e outras coisa mais, eu era um dos que criticava, até porque conheci a guitarra, orgão,etc.De tantas criticas eles acabaram com a banda. Passaram-se os anos e nunca mais viu-se a banda tocar. No ano de 1978,eu já como ecult, recebi um conjunto de slides E AS BANDAS VOLTARAM A TOCAR,convidei os musicos para fazer uma alvorada no aniverssario da cidade, todos em uma só voz disseram que não, para serem criticados de jeito nenhum participavam de eventos com a banda, então me lembei dos slides e no dia seguinte convidei-os para outra reunião e projetei para eles, foi um incentivo muito grande e passaram participar de todos eventos civicos, mais so do Mobral. Com a minha ida para a Mobralteca a banda desapareceu. Mais graças a DEUS, o nosso amigo Nataniel, muito embora hoje com um dos seus braços mutilados por um foguete, consegui a 12 anos atras resgatar a banda e fazer voltar a escola de musica, ainda tem musicos antigos participando da banda,deles até cego e outros servindo de professores. Graças ao nosso SA e que depois se tornou SE. Dr. Arlindo gostaria que o senhor escrevesse para o Nataniel, pois este homem foi um dos desbravadores da educaçã no Mobral.Quanto ao F.L.Dantas fiz muitos trabalho com suas obras.Eu tenho os dois LPs dele já até transformei em CD, gostaria se possivel o senhor me orientar como conseguir as outras obras dele. Escrever para um homem como o senhor é dicil demais(risos) Um grande abraço Trabulsi.
obs: se o senhor for escrever para o Nataniel, mande para o meu e-mail.
Caro Trabulsi: escreverei com o maior prazer para o Nataniel, mandando parabéns pelo trabalho dele com a Banda. Creio que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte ficou com as obras do F.L.Dantas. Mas quem deve saber mesmo é a Lurdinha, que foi Coordenadora daquele Estado e descobriu o músico. Mas eu não sei como encontrá-la, mas vou tentar. Caro Trabulsi: escreva-me sempre que quiser e me dará muita satisfação. Abraços do seu amigo Arlindo Lopes Corrêa
ResponderExcluirDr. Alindo, tudo bem com o senhor? Mostrei o seu e-mail para o Nataniel, ele ficou muito feliz, ele ainda não respondeu porque não tem pc, eu já o convidei para vir na minha casa, mais ele disse que só vem quando achar uma foto que tem com o senhor em um encontro de SA no hotel Naciona, RJ. A esposa dele me disse que é o dia todo falando no senhor(risos)Dr. todos nós que fomos do Mobral somos muito orgulhosos. Um grande abraço, Trabulsi.
ResponderExcluirDr. Arlindo, boa tarde, meu nome é Adriano e estou cursando Adm. de empresas e minha monografia será sobre o turismo com enfase na terceira idade, e já que o senhor conhece tudo nessa area poderia me dar umas sugestões para clariar minhas idéias.
ResponderExcluirObrigado
Caro Adriano: preciso do seu email para poder me comunicar com você. Gostaria de enfatizar, porém, que não sei tudo sobre a terceira idade, mas tenho algumas idéias. O turismo do pessoal idoso vai crescer muito pois essa população vai aumentar enormemente e cada vez com mais saúde, o que facilitará seus deslocamentos. Aguardo seu endereço eletrônico. Arlindo Lopes Corrêa
ResponderExcluirboa noite Arlindo, se não é um engano meu você foi presidente do movimento brasileiro de alfabetização, não?
ResponderExcluirsou estudante de historia pela universidade Federal de Campina grande, e pesquiso este movimento e seu impacto na educação de adultos. gostaria muito de estabelecer um contato com voce, caso o queira poderia me enviar um email?
meu email é jmaxsuel17@hotmail.com
Seu Nome (?): enviei-lhe meu email e fico aguardando. Arlindo
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