11 de mai. de 2009

MENS SANA IN CORPORE SANO

1. O Brasil não tem políticas públicas dirigidas ao “envelhecimento ativo”, conceito vitorioso internacionalmente que prevê a participação dos membros da terceira idade como sujeitos do desenvolvimento nacional. É desse tipo de iniciativa - que reconhece e aproveita o potencial produtivo dos idosos - que carecemos urgentemente, tirando da marginalidade muitos brasileiros que envelheceram com saúde e disposição, ainda aptos a trabalhar. Alijá-los do mercado de trabalho resulta em grandes prejuízos para o País. As iniciativas existentes em favor de seu lazer, entretenimento e alguns benefícios fiscais já concedidos são importantes, é claro, mas os projetos destinados a incorporá-los ao mercado de trabalho são imprescindíveis para sua saúde física e mental, auto-estima e sentimento de participação comunitária. Meio expediente, teletrabalho, atividades semivoluntárias, modalidades condizentes com a realidade dos idosos, devem ser utilizadas nesses projetos inovadores, visando aproveitar sua experiência e sabedoria.
2. Quando percebi, nos anos 70, que havia discriminação contra os velhos, o Brasil ainda era um País de população jovem. Chocou-me, sobretudo, o tom da crítica repetida que se fazia ao MOBRAL “por alfabetizar um grande número de velhos”. Seria gastar dinheiro inutilmente... E houve até quem afirmasse que eles logo morreriam e esse investimento - inútil, portanto - seria melhor empregado na educação das crianças. À época, os alfabetizandos do MOBRAL com 60 e mais de anos de idade representavam menos de 5% das matrículas, mas as peças publicitárias usavam fotos de idosos frequentando as classes, por sabermos do seu impacto favorável, pois grande parte de nossa população humilde acreditava que os velhos “davam o bom exemplo”. Aquelas críticas despertaram minha consciência para a necessidade de criar políticas específicas para esse grupo etário. Verificando que os alunos tinham problemas sérios de visão, obtivemos a adesão voluntária dos médicos e promovemos a realização de centenas de milhares de exames oftalmológicos gratuitos em todo País. A seguir, compramos mais de 100.000 óculos a preço baixo, graças à economia de escala e os doamos aos necessitados. Complementando esse esforço, a instituição adquiriu e distribuiu lampiões a gás, equipando milhares de nossas salas de aula que não dispunham de iluminação. Mas ainda mais importante, agora na esfera do “envelhecimento ativo”: reconhecendo a contribuição efetiva que essa fatia da população poderia ainda dar ao País, o MOBRAL criou o PETRA (Programa de Educação Comunitária para o Trabalho), no qual idosos que dominavam uma artesania ou uma técnica recebiam uma pequena remuneração para transmitir o que sabiam aos mais jovens, inclusive impedindo o desaparecimento de muitas profissões por falta de seguidores habilitados. Bordadeiras, tricoteiras, seleiros, ferreiros e trabalhadores em várias profissões em perigo de extinção perpetuaram suas habilidades e conhecimentos, transmitindo-os, orgulhosos, a centenas de milhares de treinandos interessados em aprender esses ofícios que aí estão até hoje, gerando emprego e renda.
3. Logo de meu ingresso no MOBRAL, cheguei certa vez a um Município do interior do Estado do Rio de Janeiro e após muito conversar com os membros voluntários da Comissão Municipal da instituição soube que a Prefeitura estava realizando uma campanha de óculos para nossos alunos que tinham problemas de visão. Perguntei como era feito o trabalho, realizados os exames e obtidos os óculos. “Muito simples – explicaram-me - os óculos são antigos, doados pela população e as pessoas vão provando um por um até encontrar aquele com o qual enxergam bem...” Veio daí minha inspiração para a Campanha de Óculos que realizamos anos mais tarde, assim que tivemos recursos disponíveis.
4. O Concurso de Miss Brasil, cuja fase final de 2009 foi transmitida pela Rede Bandeirantes, pode ser um oportuno e poderoso agente educativo. As Misses, das várias Unidades da Federação, eram muito bonitas, com biotipos variados - como é normal acontecer em um País com tantas nacionalidades em sua formação. Um ótimo exemplo para a juventude. Pois é deplorável a divulgação maciça da magreza exagerada de algumas “top models” internacionais, quase anoréxicas, assim como, no outro extremo, dos músculos exagerados das fisiculturistas, esculpidos à base de excessos. As candidatas a Miss Brasil 2009 eram equilibradas e o resultado do Concurso, exaltando a sobriedade e associando-a à beleza, é uma aula viva em prol da reação do bom gosto nacional a modismos que atentam contra a saúde de nossa juventude.

2 comentários:

  1. Gostei do Arlindo defender a ocupação do aposentado.Encontro antigos colegas bebendo em bares.Na empresa que trabalhei, havia um curso preparatório para a aposentadoria.Acho que deveria ser obrigatório as empresas/governos criarem cursos, que contem a parte economica até a social, para o aposentado melhor se adaptar ao nova maneira de viver
    Um abração
    waldir

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  2. Muito bom!!! Excelente abordagem de temas tão importantes e sempre atuais... Poderiam pensar realmente um pouco mais nos idosos e bem menos nos exageros da estética... PARABÉNS!!!

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