30 de jan. de 2010

KISSINGER, ARDUINO E DESEMPREGO

1. KISSINGER JOGOU PELO MOBRAL – Certa manhã, ao chegar à sede do MOBRAL, pedi a minha secretária, Márcia Campos, que ligasse para Henry Kissinger em Washington. Márcia ainda ficou em dúvida se era mesmo para o Secretário de Estado norte-americano. Confirmei e minutos depois Márcia informou-me que Kissinger estava muito ocupado, na Casa Branca, em uma reunião na qual os dirigentes de Egito e Israel iniciavam um entendimento de paz. Márcia deixou recado para o Secretário retornar a ligação. Meia hora depois, telefonema de Washington. Era Dr. Ballantine, assessor de Kissinger que trabalhara no Brasil pela USAID e havia negociado comigo inúmeros convênios e contratos, quando eu dirigia o Centro Nacional de Recursos Humanos (CNRH) do IPEA/Ministério do Planejamento. Expliquei-lhe que queria a interferência de Kissinger junto à TIME WARNER, dona do New York Cosmos, que acabara de contratar Pelé, para que deixasse o craque jogar pelo Fluminense contra o Bayern de Munique no Maracanã, em partida para promover o MOBRAL. Pelé prometera a nossa Relações Públicas, a atriz Lídia Matos, que jogaria, mas na noite anterior ao episódio narrado, faltando 3 dias para o evento, alegou que o Cosmos o proibira de participar. Não encontrei alternativa além da interferência de Kissinger, admirador do futebol brasileiro e promotor da ida de Pelé para o Cosmos. Ballantine falou com seu chefe, que ligou para a TIME WARNER, explicando a importância do MOBRAL e pedindo a anuência do Cosmos. Ballantine ligou-me mais tarde, desapontado, dizendo que o Cosmos jamais impedira Pelé de jogar. Pelé contou-lhes que o pedido para não atuar havia sido de Ney Braga, então Ministro da Educação. Coisas de político, administrando o seu pequeno poder. Pelé não jogou, mas o Maracanã viveu uma noite espetacular, em 10 de junho de 1975, com quase 100 mil espectadores vibrando com a vitória da “máquina” (de Rivelino, Paulo César Caju, Félix, Toninho, Marco Antônio, Mário Sérgio, Cafuringa etc) por 1 x 0, contra o “timaço” de Beckenbauer, Gerd Muller, Sepp Meier etc. Francisco Horta, Presidente do Fluminense, assistiu ao jogo ao lado do ex-Presidente Médici (com seu radinho de pilha) e de Heleno Nunes, Presidente da CBF. Nessa partida, pela primeira vez, uma empresa – a DELFIN CADERNETA DE POUPANÇA, de Ronald Levinson, grande benemérito do MOBRAL - comprou 60 mil ingressos de futebol para distribuir aos seus clientes. E também pela primeira vez um clube brasileiro pode jogar com a propaganda de uma instituição na camisa: era o nome do MOBRAL, nas costas dos craques tricolores ! Pioneirismo e criatividade...Reveja o jogo em http://www.youtube.com/watch?v=Uu1k-KoACkY
2. LULA EMPREGA MAIS QUE FHC – A criação de 8.716.000 empregos durante o Governo Lula - com a média de quase 1.250.000 por ano - supera amplamente os resultados de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, em cujos 2 mandatos na Presidência foram gerados apenas 796.000 postos de trabalho – média de 100 mil por ano. Nos 5 primeiros anos da gestão FHC houve sempre mais demissões do que admissões: o País perdeu 129.339 empregos formais em 1995; 271.298 em 1996; 35.731 em 1997; 581.753 em 1998 e 196.001 em 1999. Só em 2000 a situação se inverteu e finalmente os saldos passaram ao terreno positivo, com a criação de 657.596 empregos; em 2001 foram gerados 591.058 e em 2002 mais 762.414. O Governo FHC adotou uma série de medidas na área econômica, sem o adequado respaldo do planejamento, provocando o caos no mercado de trabalho brasileiro. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD) do IBGE, de uma população ocupada de 69.628.608 trabalhadores, em 1995, passamos a 68.040.206 em 1996. Queda de 1,6 milhão de empregos em apenas um ano ! Desde FHC o Brasil mantém uma taxa de desemprego muito elevada, entre 8 e 10%, que revela problemas estruturais graves.
3. IPANEMA CRIATIVA –O após-guerra foi uma época de grande efervescência econômica, política e cultural. Ipanema e alguns outros bairros cariocas foram privilegiados naqueles anos dourados, em que a criatividade e a inovação floresceram com vigor. E quem lá morava se beneficiou muito daquele ambiente estimulante. Na zona sul – abrangendo Copacabana, Leblon, Botafogo e Laranjeiras – assim como na zona norte, da Tijuca, Grajau e adjacências, havia ótimos colégios e se podia obter uma boa formação educacional, além de estabelecer amizades e contacto permanente com outros jovens inteligentes e cultos, ansiosos por mudanças, fascinados pelo novo e pelas oportunidades que paz mundial trazia. Lembrei-me disso tudo quando assistia a um programa da SPORTV sobre os primórdios do surfe no Brasil, desenvolvido exatamente nas praias cariocas. Como era de esperar, lá pelas tantas, apareceu o pioneiro Arduino Colasanti, que deu seu lúcido depoimento, mas não disse tudo, por causa de sua modéstia. Arduino, nascido na Itália, veio para o Brasil com 11 anos e foi meu colega no Mello e Souza. Éramos da mesma série, mas de turmas diferentes. Culto, inteligente, sonhador, Arduino chegou a cursar a Escola Nacional de Engenharia mas “trancou matrícula” para dedicar-se às atividades de que gostava. Foi pioneiro do surfe, da pesca submarina e do mergulho profissional no Brasil. Por ser um galã nato, atuou em vários filmes. Ele e sua irmã Marina Colasanti, escritora renomada, moravam com o pai (Manfredo) e a tia, a grande cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni Lage, no amplo palacete do Jardim Botânico que hoje é conhecido como Parque Lage. Mas Arduino vivia no Arpoador, ia muito a Angra dos Reis, Cabo Frio e onde houvesse um mar com ondas e peixes a desafiá-lo. Na matéria da TV apareceu também a Fernanda, dona da loja “FERNANDA DOCES”, no Barrashoping, que foi a primeira mulher a praticar surfe no Brasil e que ganhou sua prancha de madeirite do bom Arduino. Meu colega inovou no surfe e brilhou na pesca submarina, na qual representou o Brasil em dois Campeonatos Mundiais. Em 1959, ao voltar de Malta, do Campeonato Mundial de Pesca Submarina, em que o Brasil foi vice-campeão, Arduino fez escala em Paris onde eu também estava, jogando “La Petite Coupe du Monde” pela Seleção Brasileira de Voleibol. Durante três dias consecutivos fomos juntos ao Museu do Louvre, conhecer aquelas obras maravilhosas que lá estão, a consagrar o senso estético dos seres humanos. Surfe, bossa nova, futevolei, moda de praia...Criações de gente que viveu em um Rio de Janeiro glorioso... na Cidade Maravilhosa...
A teoria da localização, muito utilizada pelos empresários, permite tomar decisões sobre onde montar seu negócio, seja uma siderúrgica ou uma refinaria, uma lanchonete ou um restaurante, uma escola ou um posto de saúde. Dever-se-ia formular e explicitar, também, uma outra teoria da localização, decisiva para as pessoas: onde fixar residência, para ter uma vida feliz e plena de oportunidades...

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