1. GUERRA INJUSTA - Ronaldo Ferreira Gomes, morador veterano de Ipanema, trouxe-me à lembrança um episódio muito marcante, ocorrido em nosso bairro durante a II Guerra Mundial. Éramos ainda crianças e naquele dia nos assustamos com o barulho, a gritaria e o movimento inusitado na rua. Vândalos extremistas promoviam o “quebra-quebra” das casas de comércio que pertenciam a imigrantes de países integrantes do “Eixo” (Alemanha, Itália e Japão). Lembro-me bem que meu pai ficou muito entristecido com a destruição do Restaurante Renânia, pertencente a um amigo (o pai da bela Cristina que estudava no Fontainha) e situado no mesmo quarteirão de seu Café e Bar Ipanema (lado par da Visconde de Pirajá, em frente à Praça General Osório). Os baderneiros atacaram igualmente os restaurantes Zeppelin (do lado ímpar da Visconde de Pirajá, entre Garcia d`Ávila e Aníbal de Mendonça) e o Shangri-lá (na Lagoa Rodrigo de Freitas, perto da Montenegro), todos de alemães. Tinturarias de japoneses, bancas de jornal e oficinas de sapateiros pertencentes a modestos italianos também sofreram atentados. A comunidade de Ipanema não aceitou essa covardia contra pessoas trabalhadoras e indefesas, totalmente alheias à política internacional e prestou sua solidariedade aos agredidos. No bairro viviam muitos imigrantes estrangeiros, de várias nacionalidades e credos, sempre em perfeita harmonia, diversos deles ligados por fortes amizades. Em minha casa, por exemplo, havia uma “roda de pôquer” todas as noites, de amigos que formavam uma pacífica Liga das Nações: brasileiros como o potiguar Dr. Álvaro Borges, funcionário da Casa da Moeda; vários portugueses como meu pai Antonio Lopes Corrêa e os senhores Marques e Jucundino (ambos mestres de obras), Paulinho e Príncipe (ambos proprietários de açougues); libaneses como o senhor Nagib, comerciante; japoneses, como o Sr. Nakamura, dono da Tinturaria da Visconde Pirajá; o querido Sr. Adolfo, judeu polonês, que depois de desquitado foi morar em minha casa e era dono da sapataria Renomé; o senhor Gardon, espanhol, dono do Hotel Soto e assim por diante. As escaramuças ocorreram em todo Brasil e muitos estrangeiros foram maltratados e prejudicados. Depois de algum tempo, cessaram os distúrbios, voltou a paz e todos puderam continuar suas vidas. O Renânia ficou no mesmo lugar mas mudou o nome para Jangadeiros e anos depois se instalou na Teixeira de Melo. O Shangri-lá virou Bar Lagoa e continuou à sombra dos belos flamboyants da Rodrigo de Freitas - mas parece que foi a partir daquele dia que seus velhos garçons ficaram mal-humorados para sempre. Vocês sabiam ?
2. CRISE E MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO – Foi terrível o resultado do mercado de trabalho formal em 2009, quando geramos 995 mil empregos em todo ano e precisaríamos de pelo menos 1.600.000 novos postos. Foi o pior resultado desde 2003. Em 2008, já com crise, geramos 1.452.000 empregos, 46% mais que em 2009. Desse modo, muitos jovens que chegaram à idade de trabalhar esbarraram em mais esse obstáculo e caíram no desemprego ou tiveram que se conformar com algum biscate no mercado informal, sem carteira assinada e com salários baixos. Prejudicados por uma educação básica de má qualidade, à qual se seguem cursos de qualificação profissional muito curtos, onde aprendem apenas um arremedo de profissão, tiveram também contra si um mercado de trabalho limitado pelos reflexos da crise internacional e alguns problemas na condução de nossa economia. Dezembro foi pior do que a mais pessimista das previsões. Segundo o CAGED, do Ministério do Trabalho, o Brasil perdeu 415 mil empregos só naquele mês. Considerando que há otimismo em relação à performance econômica do País para 2010, com previsão de 5,2% de crescimento do PIB, conclui-se que o lamentável resultado terá derivado da cautela dos empresários diante do novo salário mínimo, cujos aumentos repetidamente acima da inflação são criticados pelos analistas. Muitas demissões teriam sido preventivas, para que as empresas não assumissem, já agora, compromissos para janeiro de 2010 – mês da revisão salarial – antes de avaliar exatamente como será o novo ano. E talvez janeiro continue adverso, porque os primeiros resultados do nosso comércio externo apontam para uma crescente perda de competitividade internacional em produtos importantes. Ao elevado custo-Brasil, resultado de burocracia excessiva e deficiências de nossa infraestrutura logística, acrescentou-se nos últimos anos um salário-mínimo irrealista. Nosso Governo talvez tenha perdido a noção de limites. O recente Decreto dos Direitos Humanos é prova dessa insensibilidade e pode custar caro nas eleições, pois assustou setores importantes da opinião pública. É claro que se faz um marketing maravilhoso ao fixar o salário mínimo próximo dos 300 dólares mensais, principalmente porque FHC penou, penou e não conseguiu passar dos 100 dólares por mês. O problema é saber se a economia aguenta e se os patrões podem ou estão dispostos a pagá-lo. Talvez tenhamos chegado a essa situação-limite e como o Ministério do Trabalho, neste ano eleitoral, costuma afrouxar a fiscalização em cima da informalidade, estamos diante de uma situação muito difícil, que vai acarretar níveis altos de subemprego. 3.TRABALHADOR PERDE NO FGTS E FAT – A Caixa Econômica, responsável pela administração do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), confirmou que pelo segundo ano consecutivo de sua gestão, o dinheiro do trabalhador depositado no FGTS perdeu poder de compra. Nossas contas tiveram remuneração de 3,9% em 2009, enquanto a inflação oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a 4,3%. O rendimento real foi negativo e o patrimônio pertencente aos trabalhadores brasileiros e ali depositado diminuiu em 0,4%. O mesmo já acontecera em 2008, quando o Fundo rendeu 4,5% e o IPCA atingiu 5,9%, havendo perda real de 1,4% no saldo, sem que qualquer providência fosse tomada. Também o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), gerenciado pelo Ministério do Trabalho, teve deficit em 2009. O Governo, em relação ao trabalhador brasileiro, dá com uma das mãos e tira com a outra. Cede um pouco, ostensivamente, com banda de música. Mas tira sorrateiramente, oculto na penumbra de regras que o “povão” só perceberá na hora da aposentadoria, quando já será tarde demais.
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Caro amigo,
ResponderExcluirGostei de saber que a imparcialidade da nossa Ipanema tem um longo histórico. Agora, aturar garçon mau humorado é dose. Morei ali do lado um bom tempo e apesar de poder ir a pé preferia o Alcazar em Copa onde o chopp era tão bom quanto o do Lagoa, porém bem mais feliz.
Haroldo Ledo
Seus leitores e seguidores parecem não estar tão antenados no blogue, pois passou-lhes despercebido o 10º comentário do post anterior. É uma pena, tentei fazer um agrado e ampliar a biografia sua e de Ipanema. Roberto Pimentel.
ResponderExcluir1.Haroldo: o Alcazar era muito bom e também fui bastante lá, embora reconheça que a pizza do Lagoa, seguida de um chope, me "amarrava".
ResponderExcluir2.Roberto: como o Rei Roberto Carlos, não autorizo a biografia que você fez deste blogueiro e já penso em recorrer à Justiça, pedindo indenização por danos morais no Foro de Niterói. A indenização será uma aula de voleibol do mestre Pimentel...Arlindo Lopes Corrêa
Meu querido amigo, a biografia foi sua e consta do livro da História do Voleibol no Brasil. Você a compôs com sua própria história e a sua pena. Quanto à aula em Niterói, estará sempre convidado para uma sardinha e camarões no Mercado de Peixe, na companhia de seus amigos, numa bela quarta-feira qualquer. Falaremos sobre futilidades e histórias ainda não contadas. É só marcar que estarei esperando-os a todos.
ResponderExcluirDê uma espiadinha no meu blogue que contém assunto despertado por você. Roberto Pimentel.
Caro Pimentel: já li o seu blog e a aula sobre "Repetição". Muito boa, aliás. Mas com "camarão não se brinca", já dizia Mário Silva no Restaurante Ariston de Copacabana, com um murro na mesa. Cortador guloso e craque do voleibol do Fluminense, Mário Cavalo não aceitava a divisão do prato de "camarão à americana" com o Naga, igualmente craque do Fluminense, só que levantador e pequeno. Naga ousou ficar com 4 dos 10 camarões que os dois dividiam com Ronaldo Gomes. No final, partiram o "camarão da discórdia" em três e ficou tudo bem. Eu estava lá e quase pedi que o décimo camarão ficasse para mim, mas tive medo da reação do Mário...Aliás, convidarei Ronaldo Gomes e iremos ao encontro dos camarões com muito prazer. Arlindo Lopes Corrêa
ResponderExcluirÉ muito bom ler histórias de Ipanema e assim como alguns outros leitores que " navegam " em seu blog acho que deveria organizá-las e lançar um livro!
ResponderExcluirCláudia
Arlindo
ResponderExcluirMeu tio e padrinho morava numa bela casa na rua Sadock de Sá.Com muita frequência íamos até lá e, como não poderia deixar de ser, dávamos uma esticada até o bar Lagoa.Realmente, você tem razão.A pizza e o chopinho eram do tipo "prá ninguém botar defeito".
Agora, como o nosso "chão" era Copacabana, ficamos , digamos, mais fregueses da varanda do Hotel Riviera, onde desfrutávamos da bela vista da praia no Posto 6 e, evidentemente, de um também maravilhoso chop geladinho e seus acompanhamentos de praxe.Como você deve se lembrar, depois do Copa o Riviera era, à época, um dos locais preferidos pelos famosos daqui e do exterior.
Mas , o importante é dizer que gosto de ver a sua excelente memória.Você é um ótimo colecionador de fatos e personagens daqueles anos dourados que nos alegram, nos fazem retroceder ao passado, àqueles velhos tempos, belos dias, trazendo-nos lembranças que nos emocionam e, de certa forma, nos contam um pedacinho da história de Ipanema.
Um forte abraço,
Ronaldo
Caro Ronaldo: o Riviera e o Alcazar, lembrado pelo Haroldo Ledo, eram muito gostosos. Apreciava também o terraço do Hotel Miramar. E muitos outros lugares espetaculares. Tivemos o privilégio de viver em uma região cheia de encantamentos - Copacabana, Ipanema, Leblon eram o palco perfeito para os anos dourados, românticos, ingênuos, em que ainda havia mistérios a descobrir, para nos maravilhar. Arlindo
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