7 de dez. de 2009

O QUE SERIA DE BOM TOM NA COP 15

1. 15 ANOS FORA DE TOM – No começo, para a garotada da Montenegro, ele era uma “figuraça” que chegava na praia quando já ia anoitecer e nosso “racha” de fim de tarde estava acabando. Depois, disse-nos o Juquinha, baterista talentoso com físico de jóquei, que ele era músico e que tocavam juntos no Beco das Garrafas. A manicure de minha mãe, irmã do Newton Mendonça, confirmou: os dois eram parceiros musicais. Quando Tom Jobim começou a frequentar o nosso Veloso (o nome era Bar Montenegro, mas o dono se chamava Veloso) descobrimos que ele era um tremendo “boa praça”, que conversava muito conosco, uns 10 anos mais novos do que ele. E como não éramos dos meios artísticos, Tom nos dizia coisas que provavelmente não falaria aos do seu “metier”. Sempre coisas positivas: parecia eternamente de bem com a vida e com o resto da Humanidade – essa, a impressão mais forte que tenho do Tom. Um dia ele me perguntou, afirmando ao mesmo tempo: “vocês, jovens, não gostam de música brasileira, não é ? Vocês gostam só de música americana, mas eu vou criar um som que vocês todos vão gostar...” Palavras proféticas. E lá veio a bossa nova, sucesso na minha geração. Sucesso no mundo todo. Depois que casei, só ocasionalmente passava pelo Veloso. Tom começou a viajar mais e nosso contacto acabou. Em 1993 nos reencontramos algumas vezes no Plataforma, juntamente com o Walter Clark. O doce Tom dá saudades aos amigos, mas seu gênio faz falta principalmente à música brasileira, pois o que está por aí é muito pobre e seu talento poderia revigorá-la.
2. MAIS VALE PREVENIR... – Tom Jobim, amante da Natureza, nos diria, em sua sabedoria, que pouco importa se o aquecimento global é obra ou não da ação do homem. Temos que deixar de ser predadores do planeta e esse é um imperativo ético, estético e da razão que está posto agora, na COP 15. O engenheiro Harald Hellmuth, muito a propósito, mandou-me um texto intitulado “Visão e projeto para a Amazônia no contexto da Sustentabilidade”, com oportunas considerações que transcrevo: “A COP 15 tratará das Mudanças Climáticas decorrentes do aquecimento global da atmosfera e dos mares, que está sendo induzido pelo aumento da concentração dos gases causadores do efeito estufa (GEE) na atmosfera, em consequência, principalmente, da liberação do carbono fóssil pela combustão de carvão mineral e petróleo. Não é difícil entender que o aumento da concentração de GEE será anulado quando as emissões forem equivalentes à capacidade da natureza de eliminar os gases produzidos, seja por destruição, seqüestro na fotossíntese ou por outra via. Para tanto, a Humanidade detém uma série de recursos e abordagens, dos quais se destacam: o aumento da eficiência energética na produção de bens e serviços de sua necessidade; a redução de consumo de energia nos prédios e transportes; a utilização de fontes renováveis, que não geram emissões ou que reciclam o carbono pela substituição dos combustíveis fósseis, e o aumento da capacidade de seqüestro de carbono. Simultaneamente às questões da Sustentabilidade Ambiental, na qual se situam os problemas do clima, a Humanidade precisa solucionar - com igual ou até maior urgência - o problema da miséria de numerosos contingentes da população. Caso as emissões causadas pelo aumento do consumo das populações resgatadas da miséria não sejam compensadas por medidas suficientemente enérgicas de redução e seqüestro de emissões no âmbito global, o equilíbrio da concentração de GEE na atmosfera não será atingido. Por outro lado, a Sustentabilidade Social implica na integração dos contingentes pobres no processo produtivo, aspecto que não consta diretamente na pauta da COP 15. Cada sociedade participante da conferência vê as questões em pauta a partir de suas próprias necessidades e de seus potenciais da ação. O foco nos limites de concentração e nas correspondentes metas de reduções globais de emissões em relação ao nível de 1990, formulados pelo IPCC, representa a grande inovação indutora de uma convergência. Apesar das evoluções das percepções provocadas pela iminência da Conferência, ainda persistem receios sobre conseqüências econômicas, resistências de interesses alicerçados nas estruturas existentes, preconceitos ideológicos e mesmo simples incompreensão da natureza das tratativas, diferente de uma negociação comercial. Ainda não é generalizada a percepção que os debates versam sobre a responsabilidade pelas condições de sobrevivência da Humanidade, não existindo condicionamentos reflexivos das ações que cada parte deveria empreender voluntaria e soberanamente. Ocupando o Brasil a quarta ou quinta posição entre os maiores poluidores da atmosfera apenas por conta dos desmatamentos, em particular da Amazônia, mas também do Cerrado, é certo que as florestas estarão no foco das discussões sobre suas metas e compromissos. Diante desta expectativa, a posição oficial evoluiu para uma proposição de metas aparentemente consonantes com valores defendidos pelo IPCC, embora divergentes quanto à base de referência, e prevendo uma redução dos desmatamentos em 80% até 2020 em comparação aos ocorridos em 2005. Por enquanto, passa despercebido que o critério de referência “business as usual” (BAU), empregado na quantificação de medidas de redução de emissões em sociedades industrializadas, não é aplicável às florestas e às metas brasileiras, pois elas se esgotam no desmatamento, extinguindo-se suas contribuições para a estabilidade do clima. Na verdade, o Brasil procura minimizar os compromissos a serem assumidos, praticando táticas de negociação convencional, equivocadas em relação à causa em pauta. Outra aspiração dos negociadores brasileiros é obter subsídios financeiros de sociedades desenvolvidas para prevenir os desmatamentos. Compreende-se que o Governador do Amazonas procure amealhar recursos financeiros. Mas não estaria ele equivocado? As sociedades desenvolvidas precisam investir na redução mais rápida possível de emissões e não em "compensações". Por outro lado, a China demonstra que a redenção social de numerosos contingentes rurais - e florestais - pobres está no oferecimento de ocupação com mais alta produtividade em regiões urbanas. Mas não existe ainda no Brasil sequer a idéia de um projeto para a formação de cidades industriais na costa atlântica da Região Norte. As indústrias verdes lá estabelecidas seriam supridas a partir de grandes áreas reflorestadas, hoje degradadas, que seqüestrariam carbono no seu crescimento. O reflorestamento também ocuparia um número considerável de famílias. As populações da floresta migrariam voluntariamente para sítios que oferecessem melhores condições de conforto. O esforço do Poder Público, de proteger o patrimônio florestal da nação, ficaria em muito facilitado. Não depende de recursos estrangeiros, que não são asseguráveis num prazo dilatado. E convenha-se que argumentações de “desmatamento evitado” em relação a atos de truculência aventureira têm base absolutamente frágil. Da baixa contribuição da indústria, da geração de energia, dos transportes e dos prédios nas emissões de GEE do Brasil – no total cerca de 20% - em contraste com os países desenvolvidos, com grande participação de carvão nas matrizes energéticas e necessitados de aquecimento durante o inverno – onde perfazem o total das emissões - resulta que o Brasil está em condições singulares de rapidamente reduzir as emissões com custos comparativamente baixos. Basta terminar os desmatamentos, responsáveis por cerca de 55% das emissões do Brasil. A percepção de que os desmatamentos são desnecessários para o desenvolvimento econômico e que não contribuem para a mitigação da pobreza apenas começa a aflorar. Mas a sociedade não se indigna com o fato de que os desmatamentos significam apropriação clandestina do patrimônio nacional a cuidado do Estado para conversão em pastagens e lavouras particulares. Constata-se, portanto, que a sociedade brasileira ainda não amadureceu uma percepção das suas potencialidades singulares no contexto do Desenvolvimento Sustentável e da falta de conflito entre interesses por melhor bem-estar geral e as responsabilidades diante da comunidade global. Tal conscientização teria de resultar no abandono de crenças e hábitos tradicionais, principalmente por parte dos formuladores de estratégias e políticas públicas, cujas percepções difusas explicam as atitudes preponderantemente defensivas e oportunistas na preparação para a COP.” HARALD HELLMUTH

Um comentário:

  1. Arlindo,
    É de Bom Tom falar sobre o Tom.Tive um contato com ele através do João, pois erão primos irmãos.Conversando sobre colégios soube que ele havia sido do Mello e Souza-( pouco tempo-)Tornei-me, muito efusiva,e disse que também havia estudado nesta escola . e conversa e música vai e vem, ele contou que havia um jovem do esporte com a turma da praia que aparecia no Veloso e que rolava um papo muito interessante. Concluiu em seguida que esta "outra Teresa", (era assim que me chamava/ coisas de Tom e sua mulher Teresa) deveria ter sido colega de Mello e Souza deste jovem e da turma.
    Sim eu conhecia e a prosa parou por aí. O primo se aproximava e ia querer conhecer toda a história e num bar os papos são cortados e emendados em outros. E a Bossa Nova já existia desde 1958/59. Música de um explendor que a época merecia.e vamos falar de tons
    E por falar em amante da Natureza, não negando a ciência,e aceita pelas empresas entendi que proporcionaria
    em frente com um sistema de créditos para toda sorte de dióxidos a redução da poluição a um baixo custo e consequentemente uma melhoria na economia.
    Acertei!?
    Naquela língua esquisita, Copenhague poderá nos trazer esta tradução.Que assim seja. Thereza

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