30 de nov. de 2009

PESQUISA, DIFUSÃO, VELUDO CHECO, OLIVEIRA DE BARREIROS

1. Evolução em Pesquisa & Desenvolvimento – sob esse título recebi mais uma valiosa contribuição do meu colega Carlos Roberto dos Santos Moura, engenheiro civil, Presidente da FEBRAE – Federação Brasileira de Associações de Engenheiros. Aborda tema da maior importância para o futuro do Brasil, que tem sido relegado ao esquecimento. Eis o texto: “O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) é fundamental para a evolução tecnológica de um país. De acordo com o Manual Frascati, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), são definidas como atividades de P&D: “todo o trabalho criativo efetuado sistematicamente para ampliar a base de conhecimentos científicos e tecnológicos e o uso desses conhecimentos para criar novas aplicações”. São três as atividades consideradas pelo referido manual: “a investigação básica, trabalhos experimentais e teóricos para obtenção do fundamento de fenômenos e fatos observados, sem pensar em aplicações; a investigação aplicada, trabalhos para adquirir novos conhecimentos com um objetivo específico; e desenvolvimento experimental, trabalhos sistemáticos de aproveitamento dos conhecimentos existentes, dirigidos para a produção de novos produtos, processos e serviços ou melhoria dos já existentes”. Os dados disponíveis no Ministério de Ciência e Tecnologia, referentes ao investimento brasileiro em P&D em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), são insatisfatórios, quando comparados aos de outros países, embora tenha havido uma ligeira ascensão, entre 2005 (0,97% do PIB) e 2008 (1,13%), após uma queda no período 2001 (1,04%) a 2004 (0,90%). Para efeito comparativo, mencionamos os percentuais referentes a alguns países desenvolvidos ou em desenvolvimento (valores conhecidos mais recentes): Alemanha 2,54% (2007); Austrália 2,01% (2006); Canadá 1,82% (2008); China 1,49% (2007); Cingapura 2,61% (2007); Coréia do Sul 3,47% (2007); Estados Unidos 2,68% (2007); França 2,08 (2007); Japão 3,44% (2007); Reino Unido 1,79% (2007). A comparação, entre diferentes países, dos percentuais aplicados em P&D é bastante confiável, tendo em vista que se baseia em metodologia consolidada e aceita internacionalmente. Assim, verifica-se ser imperiosa a necessidade de serem aumentados os investimentos do Brasil em P&D, para que possamos almejar, efetivamente, o status de nação desenvolvida. As aplicações em pesquisa e desenvolvimento são compostas por investimentos públicos (federais e estaduais) e empresariais (empresas privadas e estatais). Além do aumento do dispêndio na área federal, especialmente por meio dos programas de pós-graduação e pelas estatais federais, o Governo deve avaliar a conveniência de incentivos fiscais para a iniciativa privada investir em pesquisa e desenvolvimento. Hoje, em nossa economia globalizada, é indiferente para as empresas instalarem centros de pesquisas na Índia ou no Brasil. A escolha é função das vantagens oferecidas.” Carlos Roberto dos Santos Moura
2. DIFUSÃO – Neste momento está se desenrolando em Lisboa a Cúpula Ibero-Americana sobre “Inovação e Conhecimento”. Esse Bloco de países tem seu ponto mais fraco exatamente nos resultados medíocres no setor estratégico de P & D. E eu enfatizaria ainda outro problema dessa área, que merece nossa atenção: as dificuldades visíveis na difusão científica. Tanto na disseminação para especialistas – que interessa aos campos acadêmico e produtivo - quanto naquela voltada para a circulação de informação em ciência e tecnologia para o público em geral - que está na esfera de ação do setor educacional, no combate ao chamado “analfabetismo científico”. Aliás, um acordo na Cúpula em andamento, sobre a troca de informações científicas e tecnológicas entre os países-membros seria um passo importante. Mas temo que a tentação de se intrometer nos negócios de Honduras - a “vítima da vez” dos tiranetes sulamericanos – suplante a oportunidade de fazer algo realmente relevante para nossos países.
3. COMUNISMO REPUDIADO ! - Os checos comemoraram 20 anos da sua “Revolução de Veludo”, de 17 de novembro de 1989, que culminou em dezembro do mesmo ano com o fim da dominação soviética e do regime comunista na Tchecoslováquia. Em 1968 eu presenciara na UNESCO a rebeldia dos checoslovacos, alegres e descontraídos como nunca se vira antes, expressando opiniões que feriam os dogmas comunistas. Os sonhos de liberdade, porém, logo foram esmagados pelos tanques soviéticos. Foi o fim da “Primavera de Praga”, um experimento de “socialismo com face humana” comandado pelo líder do Partido Comunista da então Checoslováquia, Alexander Dubcek. O movimento representava o desabrochar da democracia atrás da Cortina de Ferro. Mudanças inéditas no bloco socialista foram adotadas no país: imprensa livre, Judiciário independente e tolerância religiosa. Dubcek introduziu reformas políticas e econômicas, com o apoio do Comitê Central. Mas os tanques soviéticos foram implacáveis. Lembro-me que os “intelectuais” da esquerda brasileira, sempre tão atuantes em favor da liberdade, não soltaram um simples gemido contra a crueldade comunista. Porém, em 1989 não teve jeito e o “paraíso” comunista foi enterrado para sempre. Por Praga passaram todas as grandes tiranias recentes e que lá ainda são visíveis. O nazismo, cujos traços genocidas – o gueto – encontram-se em Josefov, o bairro judeu. E o comunismo, muito bem retratado em Mala Strana, através de comoventes estátuas humanas de metal que se vão desfazendo à medida que caminham e o tempo passa. De forma genial, é assim que os checos rememoram a opressão comunista, a qual vai desintegrando a individualidade até sua destruição total. 4.OLIVEIRA DE BARREIROS – uma pequena aldeia portuguesa próxima a Viseu, de onde se avistam as neves eternas da Serra da Estrela. Situada na região do Rio Dão, famosa pelo vinho tinto de excepcional qualidade. Terra onde meu pai nasceu, em 1898; e de onde saiu para o Rio de Janeiro em 1916. Graças ao milagre da internet, descobri o blog “Oliveira de Barreiros, grandes amigos”, de autoria de Carlos Pereira e Armando Luís, em http://oliveiradebarreirosgrandesamigos.blogspot.com e fiz.contacto imediato, é claro... Nele, muitas informações para matar as saudades da terrinha querida até a próxima viagem, a oportunidade do reencontro de primos antes desconhecidos e muitas outras alegrias. Enfim, uma festa. Pena que seus vinhos – Pedra Cancela, Quinta de Reis, Vinha Paz – não cheguem ainda ao Brasil. Todos que apreciam o artigo iriam gostar muito...

26 de nov. de 2009

INSS, IPEA, EMPREGO, FILME 2012, DOPING

1. “CLOCHARD” OU “SANS PAPIER” ? – Trabalho, desde sempre, foi um valor fundamental em minha vida. Tive o exemplo de meus pais, imigrantes à busca de um lugar ao sol, trabalhando duro, cotidianamente, sem esmorecer, sempre com alegria. Ganhando seu dinheiro suado no pequeno comércio, economizando tostões para ter uma vida digna. Nada de grandes negócios - em que se ganha uma fortuna de comissão da noite para o dia ou se fica milionário explorando o contacto político certo ou ainda capitaneando uma ONG bem apadrinhada e recebendo farto dinheiro público. Não ! Sempre trabalhando duro... E assim foi minha carreira profissional. Antes, eu ganhara algum dinheiro dando aulas particulares de Matemática, Química e Geometria Descritiva, mas foi no início de 1959 que tive meu primeiro trabalho formal, como estagiário de Engenharia, na Cavalcanti-Junqueira, uma empreiteira poderosa da construção civil. No ano seguinte fui para a CONSULTEC, empresa pioneira de Consultoria, onde permaneci até janeiro de 1965. Atendendo ao convite de Roberto Campos, em fevereiro de 1965 fui dirigir o Setor de Desenvolvimento Social do IPEA, lá permanecendo até janeiro de 1972, com o cargo de Secretário-Executivo do Centro Nacional de Recursos Humanos. Tive uma breve passagem como Consultor pela FGV e convidado por Mario Henrique Simonsen assumi a Secretaria-Executiva do MOBRAL, em abril de 1972, de onde saí em março de 1981, quando já era Presidente do órgão. Fui Consultor da Presidência da Confederação Nacional da Indústria de 1972 a 1974. Em 1992/1993 trabalhei com Walter Clark na Fundação Roquette-Pinto e com ele mesmo tive mais tarde uma curta passagem pela MULTIRIO, empresa municipal que atua em tecnologias educacionais. De 2003 a 2006 fui Subsecretário-Adjunto da Secretaria de Estado de Trabalho e Renda do Estado do Rio de Janeiro, a convite do Secretário Marco Antonio Lucidi. A partir de 1981, desde que saí do MOBRAL, gerenciei minha própria empresa de Consultoria nos intervalos entre os cargos mencionados. Mas tudo isso foi apagado. Em 1999 comecei a cuidar de minha aposentadoria no INSS, que me foi concedida em janeiro de 2000, mas cujas pensões só passei a receber em dezembro de 2002. Até hoje espero pelos atrasados não pagos. Talvez por esse motivo, anteontem recebi uma singela cartinha do INSS, pedindo meu comparecimento urgente a uma de suas Agências e exigindo os originais de meus documentos, como se para eles eu não existisse: CPF, Identidade, Cartão do PIS/PASEP, Atestado de residência (recebi a carta em casa), Certidão de Nascimento ou Casamento etc. Mas mais estranho é que pediam também a Carteira de Trabalho e os Carnês pagos ao INSS – documentação que está desde 1999 com o próprio INSS, pois fez parte de meu processo de aposentadoria. Ontem fui lá e fiquei surpreso: eu não tenho Carteira de Trabalho, portanto nunca trabalhei; não tenho carnês, logo nunca descontei para o INSS e assim por diante. Meu processo sumiu, tenho que provar que entreguei os tais documentos sob as penas da lei e estou sujeito à perda da imerecida aposentadoria. Não sei como me definir: nestes 50 anos fui um eterno vagabundo, uma vocação de “clochard”, frequentador do “cour des miracles” ou sou um reles “sans papier”, um daqueles seres vagantes pelas igrejas de Paris, sempre gritando por seus direitos e de quando em vez candidatos aos “casse-têtes” da Polícia Francesa ? Nada disso, sou apenas mais um brasileiro vítima dos descaminhos da burocracia governamental e da sua vocação irrefreável para o “calote”, agora vergonhosamente oficializado pelo Congresso brasileiro, que nega a credores legítimos o pagamento dos precatórios. Porém podia ser pior: o INSS decretar, por exemplo, que eu não existo ou que já existi mas estou morto. E não seria a primeira vez que o INSS “desencarna” um pensionista inconveniente, que ousa querer receber suas pensões todo mês...
2. SER OU NÃO SER - Brincadeiras à parte, a sensação que me ficou do episódio foi um desagradável vazio... Até sonhei com ele. A burocracia sabe ser “kafkiana”, cria verdades próprias e indesmentíveis. Eu já tivera esse mesmo tipo de sentimento anteriormente. Por exemplo, quando publicaram um livro sobre os 40 anos do IPEA, fiquei sabendo que eu talvez nem tenha trabalhado lá. Desapareci como aqueles membros proeminentes do Partido Comunista que Stalin matava e apagava dos retratos oficiais. Afinal foram 7 anos de grande dedicação, 12 a 14 horas de empenho por dia. E sob minha direção foram publicados 140 trabalhos, alguns de grande envergadura e repercussão internacional como o Diagnóstico de Educação e Mão-de-Obra, o Diagnóstico de Educação Física e Desportos, os Planos Decenal do Governo Castello Branco, o do Governo Costa e Silva, o do Governo Médici (nos capítulos referentes a Educação e Mão-de-Obra, sempre coordenados por mim). Ainda em relação ao IPEA, li recentemente um artigo de uma Professora da UNICAMP afirmando que o Diagnóstico de Educação teria sido elaborado por mim e pelo Prof. Davi Carneiro. Davi Carneiro, excelente pessoa, não teve - nem pretendeu ter - qualquer participação no trabalho...Apenas utilizamos os dados de uma pesquisa de sua empresa sobre ensino superior, o que fizemos com dezenas de outros estudos e pesquisas de diferentes proveniências. Em relação ao MOBRAL, então, as mentiras que andam por aí são tantas e tão bizarras e despudoradas que às vezes não sei se devo rir ou chorar. Mas de uma coisa estou certo: um dia a verdade prevalecerá...Não sei é se vou receber esses atrasados do INSS !
3. PONTO PARA LUPI – Lula previu que o Brasil criará 1,3 milhão de empregos formais em 2009. Lupi, seu Ministro do Trabalho, “botou banca” e “chutou” algo entre 1 e 1,1 milhão de novos postos de trabalho. Nesse “duelo de competências” aposto em Lupi, que ficará mais próximo da verdade. Mas o que ambos deveriam ter em mente é que, anualmente, temos que criar entre 1,5 milhão e 2 milhões de empregos, para satisfazer a oferta de trabalho da população que chega à idade ativa. Vocês se lembram que Lula prometeu que criaria 10 milhões de empregos em 4 anos de seu primeiro mandato ? Já está no fim do segundo e nada... 4. HECATOMBE - Agora foi o Rodoanel de José Serra, que já vira naufragar outras obras de grande porte sob sua responsabilidade, como o Metrô. Dias antes, fomos surpreeendidos pelo “apagão do Lula”, em que sua ex-Ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, teve participação ativa. E o “apagão do PT” está dando filhotes, com pequenos blecautes em Ipanema, Leblon e outros bairros cariocas. Sob Dilma, a ANEEL já “garfara” 7 bilhões de reais dos consumidores brasileiros, por desconhecer em seus cálculos que a população brasileira cresce a cada ano. Com tais candidatos à Presidência, os desastres espetaculares do filme 2012 passam a ser possíveis, pelo menos em termos de Brasil...
5. DOPING – Surgiu uma nova e promissora arma contra esse crime: o passaporte biológico, que inclui um conjunto de parâmetros sanguíneos do atleta que podem ser posteriormente comparados com os resultados dos testes antidoping efetuados posteriormente. As descontinuidades paramétricas podem denunciar o doping. Os atletas são testados de surpresa e em qualquer hora e lugar. Ficará mais difícil essa prática condenável e desumana. Ainda bem !

20 de nov. de 2009

SUSTENTABILIDADE, CULTURA E FUTEBOL

1. COPENHAGEN - Volto a recorrer a Harald Hellmuth, meu colega na Escola Nacional de Engenharia, usando um fragmento de seu ensaio sobre a situação do Brasil quanto à sustentabilidade e sua posição na COP 15. Eis seu texto: “O Brasil tem uma população de 190 milhões de habitantes - 15% da população chinesa. Cerca de 40 milhões de brasileiros vivem ainda em condições inaceitáveis e se encontram, principalmente, na Amazônia, Nordeste e em aglomerações urbanas chamadas favelas. Nosso esforço de desenvolvimento deveria estar focalizado no resgate desses contingentes mas infelizmente, até hoje, não existe uma estratégia consistente com este objetivo. Na China, os esforços são orientados a propiciar, à população pobre rural, oportunidades de trabalho com produtividades que gerem rendas compatíveis com melhores condições de vida. No Brasil, até agora, as políticas públicas foram paliativas, de redistribuição de renda, estimulando apenas indiretamente o crescimento da produção. As oportunidades de ocupação seriam criadas pelo mercado. Iniciativas de reforma agrária não produziram os resultados imaginados. A consciência da dívida social inspirou a formulação das “responsabilidades compartilhadas, porém diferenciadas”, consagrada na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), que deu origem ao Protocolo de Quioto. Nele, o Brasil ficou entre os países não comprometidos com metas de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE). Partia-se do princípio que o desenvolvimento econômico e social necessário causaria, inevitavelmente, aumento de emissões. Esta percepção mudou diante dos desenvolvimentos ocorridos nas demais sociedades e o Brasil está sendo induzido à apresentação de metas. Quanto ao problema das Mudanças Climáticas, o fato básico é a posição do Brasil como quarto maior emissor de GEE: 55% das nossas emissões são causadas pelo desmatamento - principalmente mas não exclusivamente da Floresta Amazônica - e 25% pelas atividades agrárias e pecuárias. O desflorestamento não tem contribuído significativamente para a diminuição da pobreza e é desnecessário para o desenvolvimento da economia. Sob um regime de governo democrático e uma economia liberal de mercado as soluções dos problemas econômicos, sociais e ambientais são dependentes das evoluções das percepções na sociedade. A Sociedade Civil, desde os anos 80, tem exercido influência importante no desenvolvimento institucional, na formulação de políticas públicas e sobre o setor produtivo. Mas pode se encontrar na dimensão e na diversidade do país uma explicação parcial para a dificuldade da convergência para um projeto nacional de desenvolvimento, integrando as três dimensões da sustentabilidade. Por outro lado, as circunstâncias felizes da matriz energética com predominância da hidroeletricidade e da liderança no emprego do biocombustível etanol têm servido para desviar a atenção do nosso atraso na solução dos problemas estruturais acima abordados. Ainda assim, a situação do Brasil é em princípio cômoda. As tecnologias com que os demais países aumentam a eficiência energética e reduzem as emissões – nos prédios e eletrodomésticos, nas indústrias, nos transportes e na geração de energia, na agricultura – ingressarão automaticamente no país e os modelos de incentivo conhecidos podem ser adaptados sem dificuldades às circunstâncias locais. Mesmo reticente na avaliação do problema do desmatamento, estudo da McKinsey&Company indica que o Brasil tem um grande potencial para reduzir emissões. Devido à particularidade da predominância da origem hídrica na energia elétrica, o aumento da eficiência energética nas indústrias, nos prédios, na iluminação e nos eletromésticos tem uma participação relativamente menor na queda das emissões do que nos outros países. Entretanto, a redução possível do consumo, estimada em 20%, corresponderia a uma diminuição da necessidade de novos investimentos na geração de energia na ordem de grandeza de 30% da capacidade total instalada. Adicionalmente, a exploração do potencial de energia eólica, estimado ser da ordem de grandeza da capacidade de geração hoje instalada, torna desnecessária a construção de novas usinas hidrelétricas e de longas linhas de transmissão na Amazônia. As indústrias são motivadas à racionalização de seus processos produtivos para se manterem competitivas. Cabe ao Estado estimular tanto o setor produtivo como os consumidores a contribuir para o aumento da eficiência energética. Tais esforços servem também para movimentar o mercado interno e gerar ocupação. Mas de forma alguma o problema social do resgate de numerosos contingentes da pobreza será resolvido espontaneamente “pelas forças do mercado”. No Brasil, o aumento da eficiência energética contribuirá com o máximo de 6 a 7% na redução das emissões de GEE. Falta no Brasil a percepção de que problemas que abrangem grandes contingentes da população e extensas áreas territoriais são da responsabilidade do Primeiro Setor – Governo e Estado. Também não existe ainda a percepção de que a floresta não oferece oportunidades de trabalho com produtividade bastante para uma renda que sustente uma situação de bem-estar desejável. Por conseqüência, não se percebeu ainda que a possibilidade de resgate dos contingentes mais pobres da população está fora da floresta, em ocupações industriais urbanas, como no modelo chinês. No caso do Brasil, extensos projetos de reflorestamento ocupariam outras centenas de milhares de famílias. O fim do desmatamento e a recuperação de áreas degradadas são as maiores oportunidades para o abatimento de GEE no Brasil. Essas ações não dependem de novas tecnologias e os seus custos são comparativamente baixos. Estima-se que as duas medidas executadas simultaneamente e em conjunto com o aumento da eficiência energética e iniciativas no setor agrícola podem converter o país num sumidouro líquido de GEE em apenas 10 anos. Dessa forma o Brasil tem uma possibilidade ímpar de contribuir numa trajetória de desenvolvimento direcionada à Meta Necessária: detém condições/capacidade de planejar/executar os projetos correspondentes e os problemas são conhecidos e bem divulgados. Mas precisa ainda ocorrer uma ruptura – ou atualização – de percepções para que uma mobilização nacional para o Desenvolvimento Sustentável se torne possível. É desejável que as expectativas e os condicionamentos gerados pela COP 15 venham a induzir essas novas percepções.” Harald Hellmuth 2.MÚSICA - Cinquentenário da morte de Heitor Villa-Lobos, gênio que soube captar os sons das terras e gentes brasileiras e transformá-los em arte universal. No MEC, fui colega de Mindinha, sua segunda mulher, incansável Diretora do Museu Villa-Lobos e admiradora do MOBRAL. Era onipresente nas solenidades de nossa área cultural, com sua amiga Elisa Carrazoni, Diretora do Museu de Belas Artes. Sempre a incentivar-nos com seu sorriso, irradiando simpatia. Villa-Lobos acreditava em Educação e influiu para que minha geração estudasse Música no colégio e aprendesse a inesquecível manossolfa (sistema de sinais que transmite uma melodia pela posição dos dedos e mãos). 3.EMPREGO - O Governo comemora o resultado do CAGED, que em outubro registrou 231 mil novos empregos, acumulando 1.160.000 novos postos de trabalho desde janeiro. Omite que no mesmo período do ano de 2008 esse número chegou a 2.046.000, 75% maior que este ano. Ignora o desemprego total próximo de 10% no Brasil. De qualquer modo, o resultado é bom, indicando estabilidade nas oportunidades de emprego formal nos últimos meses e sobretudo marcando a recuperação da Indústria de Transformação - que gerou 75 mil postos de trabalho no mês, acumulando saldo de 137 mil empregos no ano. Mas precisamos anualmente de 2 milhões de novos empregos para atender aos jovens brasileiros que chegam ao mercado. 4.FUTEBOL - Vendo na TV a situação de Washington, ex-craque do Fluminense que sofre de uma doença degenerativa e precisa de ajuda financeira, lembrei-me de um fato inusitado, em face dos personagens envolvidos. A pedido do então Presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ), Eduardo Viana, elaborei um projeto para pedido de financiamento ao Ministério do Esporte, então dirigido por Pelé. Tratava-se da “Casa do Jogador de Futebol”, que Eduardo Viana sonhava implantar em terreno pertencente à FERJ, com a finalidade de prover, a ex-jogadores de futebol necessitados, residentes em nosso Estado, a possibilidade de pernoite e um atendimento médico ambulatorial com posterior encaminhamento, quando fosse o caso, a unidades de tratamento dotadas de maiores recursos técnicos. Por incrível que pareça o Ministério e seu titular jamais se dignaram sequer a responder ao pleito da FERJ. O então Ministro enriqueceu como jogador de futebol e sua omissão em relação aos carentes foi, para mim, imperdoável. Em seu curto reinado no Governo essa foi a milésima “bola fora” de Pelé...

12 de nov. de 2009

PLANEJAMENTO SEM IPEA

1.Carlos Roberto dos Santos Moura, Presidente do Clube de Engenharia de Brasília e da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros foi meu colega de turma, no Mello e Souza e na Escola Nacional de Engenharia, do 5º ano primário ao 5º ano de Engenharia. Pouco antes da reeleição de Lula, ele escreveu o artigo intitulado “Onde estão as ações pró-desenvolvimento?”. A situação pouco mudou, a sucessão já chegou e vale a pena transcrevê-lo, dando conta das preocupações com o vazio de ideias dos nossos governantes que, no lugar dos remendos rodoviários daquela época, inventaram as obras eleitoreiras do PAC. O resto é o mesmo, como o artigo mostra bem:
2.”Eleições majoritárias se aproximando e daqui a alguns dias seremos atropelados por inúmeras propostas e ideias de melhoria para o nosso país. Candidatos não pouparão espaços na TV e no rádio para atrair votos. Para isso, muitos apelam para promessas esdrúxulas, inviáveis, utópicas, mas que à primeira vista atraem a todos, pois são anseios da população. Governar um país envolve dezenas de variáveis que devem ser harmônicas entre si. Como engenheiro, sei da importância das partes para sustentação de um conjunto. Ser eleitor no Brasil é ter a sensação de estar sendo enganado. Nunca vimos um governo tão repleto de casos de corrupção, envolvendo dezenas de parlamentares – aqueles que deveriam estar nos representando no Congresso Nacional e ser modelo para o resto do país. Rogo para que todos pesquisem o histórico, a vida e as propostas de cada candidato para que esta vergonha dos nossos políticos que sinto, e sei que muitos sentem, possa se transformar em orgulho. JK foi um presidente único, com características singulares. Firme, porém aberto a conversas e concessões, ele sabia retirar o que de bom cada um podia dar e prosseguir rumo aos seus objetivos. Na condução do país, nos proporcionou inúmeros ganhos. Ele sabia que havia muito o que melhorar no Brasil. Assim, estipulou 30 metas que poderiam ser alcançadas em cinco anos de governo. A maioria delas foi cumprida de maneira satisfatória. Tudo isso prova, sim, que é possível mudar um país. Ao se definir diretrizes e colocar seu “time” para jogar com vontade, garra e de forma limpa, honesta e íntegra, alcançam-se os objetivos. Há que se ressaltar que, entre as 30 propostas do Plano de Metas de JK não estava Brasília. A capital federal foi um sonho à parte. Ela entrou no Plano de Metas, a posteriori, como a Meta-Síntese. O Plano se concretizou devido a uma única palavra: obstinação. Num balanço rápido sobre os anos JK, podemos citar de relevante: a criação das indústrias automobilística e naval; a construção das primeiras grandes hidrelétricas e de rodovias; o aumento da produção de petróleo, papel, aço e cimento; a instalação de mais de 400 multinacionais no país. É claro que não podemos ser ingênuos em relação a todos esses resultados, pois como conseqüências trouxeram a instabilidade econômica e monetária, com todas suas mazelas e seqüelas. É lógico, também, que as condições atuais do mundo globalizado e do Estado brasileiro são muito diversas das que existiam há 50 anos, e o planejamento moderno é muito mais estratégico, devendo suas metas serem mais indicativas que impositivas. Entretanto, sua importância permanece, pois não há vento favorável a uma nau sem rumo... O Brasil de hoje vive o oposto do governo Juscelino. Temos estabilidade econômica e cumprimos os acordos internacionais, mas, sem metas nem planos, a população sofre, as estradas estão deterioradas, o desenvolvimento industrial é irrisório. Temos muito da política de pão e circo criada pelo império romano. Para alguns pode ser exagerada a comparação, entretanto o programa Fome Zero, que não resolve o problema de geração de emprego e renda, cumpre o papel da política romana do pão enquanto o circo é proporcionado pelo Congresso Nacional, com sua imagem suja pela participação de parlamentares que estão sendo investigados em várias CPIs como as do Bingo, dos Correios, do Mensalão e, a mais recente, dos Sanguessugas. As ações concretas em favor do desenvolvimento ficam em segundo plano em meio a tanta corrupção. E mesmo as que são implementadas, o são de forma precária, sem comprometimento sério. Exemplo disso é o Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas (PETSE), conhecido como operação tapa-buracos. Instituído pelo governo Lula para melhorar as condições das rodovias do país, utilizou recursos de forma inapropriada, marcada por superfaturamentos – quem viaja pelas estradas verifica que muito pouco foi realizado, sendo perceptível ainda que as técnicas e os materiais de restauração não são dos melhores. Um retrato do nosso atual governo.” Carlos Roberto dos Santos Moura
3. Fui do IPEA de 1965 a 1972. O período de maior intensidade de trabalho em minha vida profissional. Idealismo, em favor da reconstrução de um País minado pela incompetência. O vácuo de ideias que caracteriza o atual Governo é em parte o resultado da decadência do IPEA, concebido pelo Ministro Roberto Campos para pensar o futuro do País. Campos e Lucas Lopes haviam sido responsáveis pela elaboração do Plano de Metas de Juscelino, citado acima por Carlos Roberto,cujo principal objetivo era a aceleração do processo de industrialização brasileiro. O IPEA não desmereceu a confiança de Campos e marcou época na vida nacional com trabalhos portentosos, idéias brilhantes, conquistando grande força política. Hélio Beltrão sucedeu Campos e manteve o prestígio do órgão, mas não acreditava em planejamento e declarava-se a favor da extinção do Ministério. Na prática conseguiu seu intento, ao influir para que João Paulo dos Reis Veloso fosse seu sucessor. Fraco politicamente, buscando apenas administrar sua própria permanência no cargo, Veloso reduziu o IPEA à sua própria estatura. O órgão passou a ser uma fonte dispendiosa de estudos e pesquisas sem consequências, desprovido de prestígio. Hoje, a situação piorou, pois o IPEA politizou-se e é mais um aparelho do partido do nosso “pelego-supremo”.

4. As consequências são péssimas. Lembrando que o IPEA construiu, pela primeira vez, ao final da década dos 60, a “Matriz Energética Brasileira”, dou um exemplo ilustrativo de sua falta: o “apagão elétrico” de FHC ocorreu por absoluta falta de planejamento - como acertadamente disse a Ministra Dilma, há poucos dias.

5. Queimando a língua da candidata, o “apagão elétrico” de Lula veio logo a seguir mas, diferentemente, foi fruto da incompetência na gestão do sistema. Aliás, o erro elementar da ANEEL, que aumentou nossas contas de energia em 5 bilhões de reais, já soara o alarme do desvario técnico que impera no comando do setor.

9 de nov. de 2009

POLÍTICA, REPÚBLICA SINDICALISTA, SUSTENTABILIDADE

1. MURO DE BERLIM – Estive olhando, na DEUTSCHE WELLE, as emocionadas comemorações dos 20 anos de derrubada do Muro da Vergonha, erigido pelos comunistas para impedir a fuga do povo para o lado ocidental. Até hoje o Governo alemão coloca 30 bilhões de euros anuais no lado oriental, visando reduzir as desigualdades decorrentes do caos econômico do regime pró-soviético. A renda per capita do lado comunista era 40% da ocidental em 1989 e agora é 70%. Mas comemoremos, pois afinal o mundo pode apreciar a beleza alegre de Berlim, que sobreviveu a Hitler e Stalin – o que é dose ! - e a liberdade do povo alemão vale o preço...
2. A HORA DO BANHEIRO - A imprensa brasileira tem “gozado” o Presidente Chávez e sua escalada autoritária. Agora, por exortar sua população a limitar a 3 minutos o banho de chuveiro e por promulgar uma legislação pela qual dois aumentos seguidos da conta de energia elétrica do consumidor implicarão em corte do fornecimento. Há quem, ironicamente, afirme que no caso de guerra contra a Colombia, Chávez determine os horários permitidos para os bolivarianos “irem ao banheiro”. Concordo com as críticas. Só não entendo o silêncio obediente da mídia brasileira em relação a interferências tão ou mais ridículas de nossos Governos, tolhendo nossa liberdade. Exemplos: há dois anos fomos proibidos de comprar pão por unidade; mais recentemente, idem em relação à prosaica banana nossa de cada dia. Antes dessa ridicularia, pagávamos o pãozinho a 20 centavos a unidade e hoje o preço pode chegar a 50 centavos, sem motivo que justifique esse aumento de 150%, pois a maior parte do trigo é importada da Argentina a preço baixo e o dólar ainda caiu sensivelmente no período. Macacos nos mordam se em breve tivermos a inflação da banana... Uma reação midiática apenas modesta acabou de acontecer, quando do anúncio da esdrúxula medida de mudar todas as tomadas do Brasil e adotar um “design” sem similar no mundo, quando a utilização do já existente “modelo universal” seria a lógica. Governos que interferem em nossas vidas nesse nível, também poderão, pouco adiante, tolher liberdades muito mais importantes. É uma questão de “cabeça”, de ideologia... E na nossa “república sindicalista” abundam os pequenos Stalins nos terceiro e quarto escalões...É claro que não podemos esquecer outras intervenções, igualmente danosas, sobre as quais pesa suspeição de corrupção. Quem não se lembra do gracioso “kit do DETRAN” e daquela proibição de venda de álcool líquido pelo Ministério da Saúde, que queria impor-nos o álcool em gel como obrigatório ? A liberdade e nossos direitos civis têm dimensões das quais o povo nem se dá conta e os ditadores de plantão aproveitam-se disso para roubá-los.
3. PROMISCUIDADE INSTITUCIONAL - O Senado somou, ao seu rosário de pecados mortais, o “corpo mole” em relação à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de cassar o mandato de um Senador fraudador de eleições. Atentado aos princípios democráticos mais sagrados. Por sua vez, o STF é culpado de tomar decisões que atropelam as atribuições do Executivo e do Legislativo. De outro lado, com suas várias Medidas Provisórias, Lula confisca o poder de o Congresso legislar. Vivemos uma deplorável “bagunça institucional”...
4. REPÚBLICA SINDICALISTA - O excelente jornalista Élio Gaspari, em seu livro “A Ditadura Derrotada”, afirmou que fui eu quem usou pela primeira vez, em 1962, em um documento elaborado para o IPES, a expressão “República Sindicalista”. Textualmente, escreveu Gaspari: “o Instituto teve seu momento de brilho quando o jovem engenheiro Arlindo Lopes Corrêa, num trabalho intitulado "Conquista das classes médias para a ação política em grupo", usou a expressão República Sindicalista para designar o que seria o projeto de poder da esquerda. Nunca se soube o que fosse, assim como não se encontrou nenhuma pessoa ligada ao Governo Goulart que pudesse defini-la.” Desde que li o livro de Gaspari, não mais tive o prazer de encontrá-lo, pois lhe faria uma observação e satisfaria sua curiosidade. Dir-lhe-ia que afinal jamais me perguntaram o que significava a expressão. E afirmaria que agora a definição ficou fácil, uma vez que a República Sindicalista de então seria isso que aí está hoje, em nosso Brasil varonil, mas com Stalin dominando o primeiro escalão – e não, como atualmente, relegado a Ministérios e escalões sem poder, enquanto nosso “pelego supremo” é íntimo dos capitalistas mais selvagens e banqueiros, a quem vem de desejar ainda maiores lucros.
5. AJUDE A NATUREZA - Você ama a Natureza e quer preservar nosso planeta ? Há muitas medidas bem simples, ao alcance de todos nós, que têm um efeito muito relevante sobre a sustentabilidade. Comece imediatamente e ensine a seus filhos e netos. Siga, a partir de agora, os princípios básicos: reduza seu consumo sempre que viável, reutilize o que puder e facilite a reciclagem de tudo ao seu alcance. Lembre-se: chuveiros elétricos e geladeiras mais eficientes, aquecedores de água mais econômicos, uso mais amplo de termostatos, pneus cheios e bem calibrados, veículos dirigidos com perícia e baixo consumo de combustível, manutenção regular dessas viaturas, redução de aparelhos eletrônicos em stand-by, secagem de roupas preferencialmente ao sol, uso de carros particulares em “pool” de vizinhos e co-utilização de viaturas, são algumas dessas medidas e seu impacto é formidável !

3 de nov. de 2009

EDUCAÇÃO, ESPORTE, SUSTENTABILIDADE

1 GARGALO QUALITATIVO - As deficiências qualitativas da educação básica brasileira não se restringem às escolas públicas. Tal fato fica bem claro na matéria da revista VEJA RIO desta semana, que mostra a árdua e precoce competição que crianças e adolescentes enfrentam, disputando uma vaga nos estabelecimentos de ensino cariocas identificados como de melhor qualidade pelos seus pais. Claro que esse fato poderia ser considerado natural nos poucos educandários gratuitos de bom nível, como os Colégios de Aplicação mantidos pela UERJ e UFRJ, mas na rede particular, em que a mensalidade é sempre superior a 500 dólares, a procura desenfreada mostra a lamentável escassez do ensino de qualidade. Temo também que muitos pais, ao terem seus filhos reprovados nesses “vestibulinhos”, reajam negativamente em face do insucesso e acabem por traumatizar os pequenos estudantes. Aliás, tive essa experiência, que explicarei a seguir, mas sem maiores consequências. Essa conjuntura, por outro lado, mostra a conscientização das classes médias cariocas acerca da importância da educação na determinação do futuro de seus filhos, o que infelizmente é uma aspiração ainda rara nas camadas sociais mais carentes, que por enquanto lutam apenas pela simples sobrevivência, já massacradas cotidianamente pela ineficácia do SUS, do transporte e da segurança pública. Se estivessem conscientes de como a escola pública brasileira de má qualidade sonega oportunidades de um futuro melhor a seus filhos, certamente teríamos uma seleção mais acurada dentre os candidatos nas eleições brasileiras. Reformar a educação pública dá trabalho e exige conhecimento e renúncia ao aplauso fácil, sendo preciso contrariar interesses e enfrentar a impopularidade. Não é coisa para políticos e sim para estadistas...
2. SELETIVIDADE NA EDUCAÇÃO - Minha ampla casa na Rua Visconde de Pirajá 302 era gêmea da casa ao lado, onde funcionava o Colégio Bernadette, cuja Diretora, D. Iracema, muito católica, com seus óculos grossos, claudicante, andando sempre amparada pelas sobrinhas, parecia muito enérgica, como se exigia na pedagogia de então. O Bernardette oferecia curso primário e jardim de infância. Eu costumava subir em um banquinho e ver as crianças brincando no recreio, com muita inveja, talvez por ser filho único, solitário. Mas nunca estudei lá. Quando chegou a hora, em 1944, meus pais me inscreveram no Henrique Dodsworth, escola pública no Jardim de Alah, de bom nível pedagógico, frequentado pelos filhos das famílias de classe média alta de Ipanema - autoridades, funcionários públicos civis e militares. Era muito comum que algumas escolas públicas de bairros ascendentes do Rio de Janeiro – então a Capital da República - tivessem um nível qualitativo excelente, pois iriam servir às elites e as professoras, além de bem remuneradas, eram cuidadosamente selecionadas, muito competentes e dedicadas. E é por esse motivo que alguns saudosistas costumam lembrar da velha escola pública de qualidade, como se ela fosse regra geral. Doce engano! Existiam realmente essas escolas, de qualidade, nos meios urbanos mais desenvolvidos, mas eram pouquíssimas e extremamente seletivas, como o ensino brasileiro em geral, naquela época. Resultado: aquela escola – naquela maravilha que era o Jardim de Alah de outrora - não era para mim, filho de imigrantes apenas remediados. Taxado de “imaturo”, fui reprovado no teste que se aplicava aos candidatos à entrada no primeiro ano primário. Presumo que se tratasse do Teste de Gille, que teoricamente mediria a prontidão para a alfabetização naquele minivestibular. O resultado fora mais ou menos óbvio, pois eu jamais estudara no jardim de infância – afinal não frequentara nem o obstetra - regra geral entre as crianças que não pertenciam às famílias da elite. Meus pais não deram muita importância ao fato e me matricularam no Colégio Fontainha, particular e de bom nível, que ficava na Praça General Osório. Os outros colégios privados de Ipanema eram o Silva Mendes, na Visconde, o Guanabara na Prudente de Morais em frente à Praça General Osório, o Mello e Souza feminino na Rua Teixeira de Melo, o Rio de Janeiro no Bar Vinte e os dois femininos católicos: o São Paulo, na Vieira Souto e o Notre Dame na Barão da Torre. No Fontainha, aprendi a ler em dois meses e fui em frente. Talvez eu tenha sido salvo por aquele teste, que a classe média, bem informada, comprava na papelaria para treinar seus filhos, enquanto que os “garotos da rua” - como eu - eram trucidados naquela “provinha” bastante discriminatória. Anos mais tarde, entusiasmada com meus resultados escolares no Fontainha e depois no Mello e Souza, minha mãe costumava comentar que afinal, felizmente, os professores do Henrique Dodsworth tinham se enganado...
3. V JOGOS MUNDIAIS MILITARES - Dentre os megaeventos esportivos que ocorrerão no Rio de Janeiro, na década próxima, os primeiros serão os V Jogos Mundiais Militares, em julho de 2011, reunindo cerca de 100 países. O Rio foi escolhido para sediá-los principalmente pelo fato de já ter as instalações esportivas necessárias para sua realização, graças ao que foi construído para o PAN. Eis aí, portanto, para os polemistas, um indiscutível exemplo de legado do PAN. Os Jogos Militares reunirão cerca de 7 mil participantes, disputando 21 modalidades esportivas: Atletismo; Basquetebol; Boxe; Cross Country; Equitação; Esgrima; Futebol; Futebol de Salão (demonstração); Handebol Judô; Natação; Orientação; Pentatlo Aeronáutico; Pentatlo Militar; Pentatlo Moderno; Pentatlo Naval; - Pára-Quedismo; Tiro; Triatlo; Voleibol; e Voleibol de praia (demonstração). Efetuados a cada quatro anos, os Jogos Mundiais Militares foram criados pelo CISM (Conseil International du Sport Militaire), órgão instituído logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1948. A CDMB (Comissão Desportiva Militar do Brasil), institucionalizada em 1956, representa o Brasil junto ao CISM. Comecei a ouvir falar do CISM e da CDMB no final da década dos 60, quando chamei o Comandante Lamartine Pereira da Costa para trabalhar comigo no IPEA e elaborar o I Diagnóstico de Educação Física e Esportes de nosso País. Quando da realização dos Jogos Militares poderemos, certamente, tirar lições importantíssimas para as Olimpíadas sobre o quesito Segurança, no qual seus organizadores são mestres incontestáveis.
4. SUSTENTABILIDADE - O Wall Steet Journal mostra na edição de hoje (3/10) que a criação de animais gera nos EEUU, a cada ano, 500 milhões de toneladas de excrementos, o triplo dos dejetos dos seres humanos no País. Parte desse material vai parar, sem tratamento, em rios, lagos e no mar. Entre outros elementos, estão presentes nesse material o nitrogênio e o fósforo, causando o surgimento de algas que vão roubar o oxigênio da água. Em muitos casos, estão também contaminados com E. coli e outras bactérias que ameaçam a saúde humana. Brutal problema ambiental, que no Brasil é multiplicado várias vezes - somos hoje os maiores produtores de carnes do planeta. Ao final de minha gestão no MOBRAL estávamos tentando, juntamente com o Instituto de Pesquisas da Marinha (IPQM), dirigido pelo genial Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva, implantar projeto visando disseminar o uso rural do biodigestor, capaz de gerar energia e fabricar adubo a partir das fezes animais e outros resíduos da atividade agrícola. Não houve tempo, mas muita coisa foi feita em favor do meio ambiente pelo Programa Tecnologia da Escassez do MOBRAL, competentemente gerenciado por Marlise Simyse Moreira Salles, auxiliada por pessoal de excelente nível como Vitório Mendes de Moraes, Regina Avelar, Tatiana Stepanenko, os designers Cleomar e Miro. No âmbito desse trabalho, promovemos o Concurso Transformação, em que nossos alunos foram chamados a mostrar o aproveitamento artístico e utilitário de resíduos, refugos, sucatas e matérias-primas abundantes e de custo irrisório. Em convênio com o Banco Nacional de Habitação (BNH), criamos o Balcão de Idéias, para apresentação, pela clientela do MOBRAL, de técnicas de construção destinadas a baratear a moradia popular. Há trinta anos...reafirmando o pioneirismo do MOBRAL.