1 de set. de 2009

50 ANOS DEPOIS DO PAN DE CHICAGO

1. Setembro de 1959 – Cinquentenário do PAN de CHICAGO
· Tudo que eu queria naquele momento era alcançar o ônibus que nos levaria de volta à Universidade de Chicago - onde estávamos hospedados – e descansar... Eu o achei logo, estacionado em frente aos portões do Ginásio Desportivo do PROVISO High School, onde acabáramos de jogar a Final de Voleibol Masculino dos III JOGOS PAN-AMERICANOS de Chicago, perdendo na “negra” para a Seleção dos Estados Unidos. Talvez por causa da inesperada derrota para o Uruguai na COPA DO MUNDO DE FUTEBOL de 1950, medalha de prata era sinônimo de fracasso na distorcida cultura esportiva brasileira...
· Corpo moído, tiritando de frio, cabeça “a mil”, deitei-me no último banco. É difícil aceitar uma derrota assim, quando se tem 22 anos. Lá fora, a temperatura do verão de Chicago devia ser 35 graus centígrados, mas alguém me tocou e disse que eu estava com quase 40 de febre. Coisas do meu temperamento de jovem, mutável em poucos segundos. Febre nervosa, passageira. Incapacidade de entender que vitória e derrota são consequências naturais de viver e lutar. Esquecendo que no esporte, do lado adversário, existem pessoas que querem exatamente o mesmo que você. E que Medalha de Prata Pan-Americana era um privilégio... nunca uma vergonha...
· É tempo de lembrar meus bons companheiros de jornada, com muita saudade: os mineiros Urbano (falecido), Décio e Silvério; os paulistas Álvaro e Joel; os cariocas Atila , Roque, Quaresma, Sérgio Barcelos, Coqueiro, Alexandre Studart (falecido). Enfatizando que para todos nós, atletas amadores, defender a camisa brasileira era a glória suprema da carreira esportiva.
· Na final do Voleibol Feminino, disputada entre os mesmos protagonistas, as moças brasileiras venceram categoricamente as norte-americanas e conquistaram a medalha de ouro que nós, do masculino, comemoramos como nossas. As heroínas, com todas as honras, foram: as mineiras Lia de Freitas e Martha Miraglia; as paulistas Vera Trezoitko e Iriana; as cariocas Lílian Poetzcher, Norma Vaz, Lúcia Mendes de Moraes, Ingeborg Crause, Marina Celistre (falecida), Hilda Lassen, Maria Alice Ricciardi e Rosa Maria O`Shea (falecida).
· Disputada entre 27 de agosto e 7 de setembro de 1959, há exatamente 50 anos, a modalidade de voleibol dos Jogos Pan-Americanos tinha assim sua hegemonia dividida entre Brasil e Estados Unidos, com a vantagem de que arrancáramos esse “empate” no território norteamericano, com uma estrutura mínima de apoio: o Chefe da Delegação era José Gil Carneiro de Mendonça e os técnicos, com responsabilidade sobre as duas equipes, foram Samy Melinski e Adolpho Guilherme.
2. O que eu via naquela tarde, até então, como “a derrota da minha vida”, transformou-se com o tempo em uma recordação maravilhosa, sempre evocando episódios ricos em experiência e emoção. E foi importante para a evolução do nosso voleibol...
· Embora naquele momento a conquista de uma medalha de ouro e outra de prata no voleibol marcasse a melhor performance brasileira a nível internacional, tratava-se de um passo adiante em uma evolução iniciada desde quando nosso esporte assumiu um cunho mais popular no País. Portanto, neste momento de comemorar, tenho que agradecer – e muito – a todos aqueles que incentivaram, praticaram, dirigiram, treinaram equipes e apitaram voleibol antes que chegassse a minha vez. Sem esse trabalho anterior eu não estaria em Chicago, não teria minha medalha de prata, não viveria uma das grandes emoções de minha vida. As pessoas têm muita dificuldade de entender o desenrolar dos processos históricos, os conceitos de evolução e involução, as incongruências entre o dinâmico e instantâneo. Meus companheiros de Chicago e eu, temos muito do que nos orgulhar - pois colocamos nosso modesto tijolinho na construção dessa potência voleibolista que aí está - mas também devemos louvar e agradecer aos que nos precederam e tornaram viável nossa conquista.
· Pena que não possamos reunir o grupo remanescente de Chicago para comemorar a efeméride, pois muitos de nós não nos vemos há décadas e o reencontro talvez jamais se concretize. Mas estamos juntos de coração, sempre e para sempre, no amor ao voleibol e às cores brasileiras.
3. Mais um recorde alcançado pelo Brasil: é o primeiro colocado em mortes causadas pela Nova Gripe. Nunca antes na história deste País passamos os Estados Unidos com tanta facilidade...Foi só restringir a entrega do TAMIFLU (mesmo que vencido) e proibir sua venda, para alcançarmos a liderança. Creio que se o Brasil quisesse efetivamente ter um balanço dessa tragédia, dever-se-ia fazer uma pesquisa para saber quantas, dessas pessoas mortas pela H1N1, tomaram TAMIFLU (mesmo vencido) nas 48 primeiras horas depois de mostrar sintomas de gripe.
4. Quaisquer que sejam as cores desses cartões que os senadores mostram uns aos outros, nas austeras sessões do Congresso, uma coisa posso garantir: são cartões de crédito para eles e de débito para nós...

6 comentários:

  1. Arlindo
    Não podemos esquecer, também, que o seu pionerismo - e dos demais integrantes da nossa valorosa equipe da época - contribui decisivamente para que o nosso vôlei, passados 50 anos, viesse a se transformar, na atualidade, em referência mundial quer seja nas quadras, nas areias, quer seja masculino ou feminino
    Portanto, parabéns pelas "bodas de ouro" desse marcante evento que , com certeza, já faz parte da história do nosso vôlei.
    Um forte abraço,
    Ronaldo

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  2. Arlindo
    50 anos- que leva embutido,jovens belos,tempo livre, vida namoradeira, o prazer de jogar como levantadora de Aná,Marly,Gilda...,o prazer de aplaudir as cortadas suas Arlindo,as boas defesas de Ronaldo,a pose do saudoso Naga. Vida espraiada de Montenegro,Arpoador, Mello e Souza, estribo de bonde,jogos intercolegiai,bailes de formatura, Fluminense/ uma bela sequência de alegres tempos ,que atuais são,
    trazida neste merecido prêmio por você que tanto lutou em equipe - sua ampla forma de sempre agrupar Saudações Thereza

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  3. 50 anos...será que estamos ficando velhos?
    40° de febre: você aprendeu, naquele primeiro dia de CPOR, que febre na Cavalaria começa aos 39°. Logo, 40° não foi tão alta assim.
    A medalha de prata de 1959, dadas as condições da época, foi dada à melhor equipe brasileira de voley de todos os tempos. Assim como no futebol: se aquela equipe de 1950 não tivesse perdido a final para o Uruguai, estaria sendo saudada, até hoje, como a melhor equipe da história do futebol brasileiro. E foi mesmo! Só recordando: deu de 4X0 no México, 7X1 na Suécia e 6X1 contra a Espanha. Um timaço!
    Quanto à gripe, seria bom também que se averiguasse quantos dos pacientes que vieram a falecer haviam tomado o Tamiflu vencido.
    Finalmente, os nossos amados Senadores: se eu tivesse sido chifrado por um argentino, estaria pensando mais em suicídio do que ficar fazendo gracinhas com um cartãozinho vermelho.
    Abs
    Marcos

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  4. Destes cinquenta anos acompanhei os últimos 44 e ainda me recordo do barulho da quadra do Fluminense quando fui, muito pequenininha, assistir você jogar... Depois tive outras oportunidades de vê-lo tanto em quadra fechada quanto na famosa rede de Ipanema entre a Montenegro e a Farme e até hoje o assisto jogando nas areias da Barra com a mesma dedicação e paixão pelo voleibol.
    Não sou praticante de esportes, mas adoro assistir e vibrar e hoje, trabalhando volta e meia nos eventos do COB e nos da CBV, vejo o quanto foram importantes as conquistas como a de vocês no PAN de Chicago e tantas outras que marcaram, mesmo que com derrotas, a história hoje vitoriosa do esporte brasileiro! Parabéns por esta medalha "cinquentona" a você e a todos que lá estiveram e pela importante contribuição ao esporte deste país, em especial ao nosso querido Voleibol!!!
    Beijos, Cláudia.

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  5. Seus dizeres tocaram-me profundamente. Aproveito-me particularmente da afirmação quanto aos “processos históricos, evolução e incongruências”. Acrescento, ainda, o velho chavão tupiniquim, “Somos um país sem memória”. Perdoem-me os atuais medalhistas e dirigentes, mas acontece também (principalmente) no voleibol, pois parece que o esporte nasceu, cresceu e desenvolveu-se a partir de 1984, tendo ultrapassado todas essas fazes da noite para o dia.

    Memória e história - Animou-me o desejo de retratar os indivíduos esquecidos pela história e o seu grupo social. Nestas histórias que a própria vida me contou sobressai uma relação que deve ser explorada na medida em que os documentos e relatos assim o permitam.

    Por que história é tão aborrecida?
    Há muito tempo trabalho como historiador: procuro contar histórias verdadeiras, servindo-me dos rastros, de pequenos retalhos que me foram confiados por inúmeros personagens que interagiram sempre acrescentando algo para as novas gerações. Creio estar resgatando uma “História do Voleibol” (2 volumes, mil páginas) que ainda não foi contada e que poucos conhecem. Procurei percorrer os caminhos com uma lupa, como se utilizasse o zoom de uma máquina fotográfica. Valeu a pena, pois fiz novas amizades e ganhei reconhecimento generoso do próprio Arlindo, que prefaciou a obra com a eloquência que lhe é peculiar. Acabo de terminar sua revisão e dentro em pouco enviarei para o “prelo”. Estou inclinado a inserir nela mais um de seus relatos. Obrigado por mais essa história.
    Roberto Pimentel.

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  6. Grato pelos comentários. Estou ansioso pela publicação do livro com a História do Voleibol, de autoria do Roberto Pimentel, pois sem isso temo que se perca grande parte da memória desse esporte. O Marcos tem razão, pois Tamiflu vencido pode ter causado grande danos aos que o tomaram. O nosso Naga, cheio de estilo, cara Thereza, está vivo (mas infelizmente doente. Ronaldo Coutinho, foi meu contemporâneo e também deu sua contribuição ao voleibol no Flamengo e na AMAN. Querida Claudinha: creio que a primeira vez que você me viu jogar oficialmente, com a camisa do Fluminense, foi no Ginásio do Clube Municipal, em um sábado à tarde - grato pelo seu carinho. Arlindo

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