18 de set. de 2009

ECONOMIA, FUTEBOL E POLÍTICA

1. A criação de 242.126 empregos com carteira assinada em agosto de 2009 merece comemoração. Não tanto do ponto de vista quantitativo, embora tenha superado o resultado do mesmo mês de 2008 (239.123). O problema é que somando os oito primeiro meses de 2009 foram gerados apenas 680.034 postos, muito menos que no mesmo período do ano anterior, quando o número chegou a 1.703.000 novos postos de trabalho.Mas promissora, sem dúvida, foi a distribuição setorial do saldo obtido agora , pois logo após os Serviços ( que abriu mais vagas: 85.568 ) segue-se a Indústria de Transformação com 66.564 novos postos (produtos alimentícios, com 22.614 empregos; indústria têxtil, com 9.238; calçados, com 8.974 e metalúrgica com 5.982 foram os destaques). Essa reação da indústria fortalece a esperança de um crescimento de PIB positivo ainda em 2009, pois seu peso é decisivo na economia brasileira. Restam muitos motivos de apreensão e reflexos negativos da crise. A queda de arrecadação de IPI (imposto sobre produtos industrializados), por exemplo, está batendo forte em pequenos Municípios, que vivem essencialmente do Fundo de Participação. Suas populações sofrem com a deterioração de serviços essenciais. E estão vindo por aí mais 7 mil vereadores para aumentar suas despesas ! Mas a mídia sonega essas notícias menos agradáveis e transpira um otimismo “chapa branca” irresponsável.
2. A política, tal como praticada no Brasil, é um evidente obstáculo ao progresso do País e à melhoria da qualidade de vida de seu povo. Trata-se, evidentemente, de um setor da vida nacional a necessitar urgentemente de reformas saneadoras profundas - que não chegam nunca. O que se faz é meramente cosmético e natural, pois os encarregados das reformas são exatamente...os políticos que estão no poder e pretendem continuar lá ! Caso se venha a conceber com seriedade tal reforma, tenho uma sugestão: a criação de uma instituição muito útil, existente na Austrália - o Partido de Apoio Político (PAP). Trata-se de um partido que tem filiados mas não tem candidatos próprios a qualquer cargo e que a cada eleição, de acordo com critérios bem claros, baseados na ética e nas melhores teorias de desenvolvimento econômico e social, apresenta uma lista de candidatos de outros partidos que - pela atuação pregressa e pelo programa de trabalho futuro - merecem o voto dos filiados do PAP. Uma inovação que cairia como uma luva para os muitos eleitores hoje sem rumo, desiludidos com as baixarias dos políticos brasileiros, em sua maioria viciados em práticas corruptas, inerentes ao sistema eleitoral adotado nos últimos anos. E também para os eleitores de direita que - segundo o Presidente Lulla anunciou alegremente - não terão candidato nas próximas eleições presidenciais. Uma pena, por duas razões: primeiro porque um País sem direita, ao contrário do que pensa "nosso guia", não é uma democracia completa; segundo, porque assim ficamos sabendo que Henrique Meirelles – a pessoa mais competente do Governo – não será candidato.
3. E por falar em reforma política, são tantas as atribulações a que estão submetidos os clubes de futebol no Brasil que depois de observá-los décadas, por dentro (no caso do Fluminense) e por fora (dando consultoria a entidades desportivas), tenho uma proposta para iniciar a indispensável reforma de costumes nesse meio totalmente conturbado: abandonar definitivamente o regime presidencialista nos clubes - que leva muitos incompetentes e desequilibrados ao poder absoluto - substituindo-o por outro em que a administração fosse posta nas mãos de um pequeno grupo de « notáveis » da agremiação (entre três e cinco membros), escolhidos pelo colégio eleitoral adotado em cada caso específico. De preferência, « notáveis » com talentos cobrindo os setores mais importantes da vida de um clube moderno : finanças; marketing ; gestão esportiva ; jurídico e relações com a comunidade de adeptos do clube.
4. Platini mostra que além de craque em campo é um excelente gestor esportivo. A UEFA barrará em seus torneios continentais os clubes que se endividarem irresponsavelmente. Está mais atento à conjuntura que as inertes autoridades financeiras internacionais.
5. O Lehman Brothers declarou falência já há um ano, desencadeando o colapso geral do sistema financeiro internacional. Acabaram a confiança e o crédito, paralisando o comércio internacional e decretando recessão nos países ricos. Os danos só foram sanados graças à resposta global e imediata de bancos centrais e governos, para evitar o pânico, estabilizar o sistema e permitir o regresso gradual à normalidade, com reforços de capital público aos bancos vulneráveis e crédito barato. Uma providência essencial, porém, ainda tarda: a regulação da atividade financeira internacional de forma que não violente o mercado mas impeça a repetição da crise. Por isso, voto em Platini para “regra três” de Bernanke, no Federal Reserve...

5 comentários:

  1. Arlindo
    Não sei se um colegiado funcionaria de modo eficiente na administração de um clube.Acho que quando dependemos de decisões que , muitas vezes, têm que ser tomadas rapidamente fica difícil conseguir consenso em tempo hábil.Acho que o problema fica restrito à qualificação das pessoas que decidem.Veja vc : o São Paulo, e os grandes times paulistas, por exemplo, adotam o regime presidencialista e funcionam muito bem.Acontece que os clubes do Rio, além de estarem tremendamente endividados, não têm tido a sorte de verem à frente de seus destinos pessoas interessadas em realizar uma boa administração. O Vasco é um exemplo interessante.Com o Eurico Miranda foi o caos e agora com o Roberto Dinamite (regime presidencialista também) está ressurgindo das cinzas, qual Fênix, levando ao Maracanã, em alguns jogos, mais torcedores que o Flamengo, mesmo estando na segunda divisão.
    Poder não se divide diz uma velha máxima, nem deve ser dispersado e deve funcionar, de maneira eficiente,a partir de uma forma unitária de decisões.
    Uma boa decisão no tempo certo é melhor que uma ótima 3 meses depois.
    Mais ou menos isso que penso a respeito e quanto ao Platini, sigo seu voto tranquilamente.
    Um abraço,
    Ronaldo

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  2. Caro colega da ENE 1960.
    Antes de tudo sou leitor assiduo de suas ideias.
    Sobre reforma politica li atentamente a ideia de um partido sem candidatos, o que ja seria um avanço mas eu sempre sonhei num sistema eleitoral que voce fosse obrigado a votar sempre em dois cantidados , um a favor (positivo) e outro contra (negativo).
    O voto seria valido somente com os dois votos validos.
    Os eleitos seriam aqueles com a maior soma algebrica dos votos e se fosse negativa não seria eleito e caso não houvessem preenchido todas as vagas não seriam preenchidas .
    Isto faria com que os partidos escolhessem melhores os seus candidatos ( com menos rejeição).
    O que voce acha?

    Elias

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  3. Grato pelos interessantes comentários. a) A objeção do Ronaldo quanto à velocidade de decisão está teoricamente certa porque poder dividido gera um certo "assembleísmo", obrigatório para decidir. Mas no caso, diante do caos das decisões isoladas nos clubes de futebol, acho que essa demora compensaria as insanidades que hoje são feitas. Mas também asseguro que mesmo um pequeno colegiado pode tomar decisões rápidas - depende de quem o compõe e de sua organização... No caso do Vasco, todos estamos percebendo o que ocorre dentro do campo, mas não sabemos como está a administração como um todo. Aguardemos...b) muito boa e engenhosa a sugestão do Elias que, posta em prática, permitiria que o eleitor expressasse sua rejeição, além da sua preferência. c) Mas tanto no futebol como na política, acho que como está não pode ficar, de modo que os comentários do Ronaldo e do Elias são oportunos e geram novas reflexões, o que é essencial neste momento da vida brasileira. No caso do futebol, eu tenho uma dúvida sobre a minha própria ideia: a administração seria amadora ou profissional ? Como contornar as dificuldades desse ponto ? Bem, o importante é que surjam opiniões inovadoras e saiamos da bagunça em que estamos. Arlindo

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  4. Arlindo
    Economia: três perguntas necessito para que me sinta mais solta
    1ªAcredita Delfim Netto que é necessario um Estado Forte dirigindo "a nova Consciência Econômica"expressando-se pelo bem-estar e justiça social /Lula mudou o país de forma a salvar o capitalismo diz ele/você vem assistindo esta salada e entendeu?
    2ªA crise financeira mundial é cedo ainda para comemorar / ainda há fundo de poço a se atingir?
    3ªAinda sobre uma economia humanizada expressa pelo bem-estar e justiça social /já não fez parte de tendências anteriores,ex:Suécia com tempos de Social- Democracia no poder e não representa uma nova consciência econômica e foi utópica /me ajude a entender este novelo?

    Política - entendi a folosofia do PAP australiano,
    mas coloquei-me a pensar! - para unir pessoas
    preciso se tornar uma ideologia mais indicativa/ou a iniciativa é realmente o apagar das ideologias - sei lá é para meditar...

    Esporte - concordo com Ronaldo na questão do não "parlamentarismo"Tudo depende da escolha de um presidente honesto e de" um sistema de saúde " que não funcione seguindo "a Escolha de Sofia"
    Quanto ao excesso de preocupação com o lucro no futebol /e se não a bola ficar escondida atrás do monte de dinheiro-como vamos vê-lá? Concordo com você ,Arlindo- futebol não é um negócio
    empresarial como outro qualquer. "Profissionais são as relações entre jogadores e clubes ou entidades.tudo o mais ,dirigentes,árbitros se quiserem ser dignos da confiança popular,terão de ser amadores,esportistas"

    e viva os Platinis
    Saudações thereza

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  5. Thereza: Grato pelo comentário. 1. Quem salvou o Brasil da crise foram suas boas condições econômicas nestes últimos anos de inflação baixa, superavits elevados, formação de grandes reservas internacionais etc, o que devemos principalmente ao Henrique Meirelles e ao fato de o Lulla não ter uma ideologia. 2. O PAP não pretende ter membros necessariamente com uma ideologia. O PAP é para os pragmáticos de vários matizes, pois sua lista positiva não privilegiará candidatos desta ou daquela orientação ideológica, necessariamente, mas sim os objetivos que seus membros fixarem: se for ética, será a ética dos candidatos; se for a orientação na área social, assim será etc etc 3 o presidencialismo clubístico não está dando certo e isso não se pode discutir...Arlindo

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