12 de set. de 2009

La Rochefoucauld tinha razão...

1. Graças à publicação e divulgação deste blog tenho refeito o contacto com muitos amigos de outrora, afastados pelas contingências da vida. A esse propósito cabe a Máxima de La Rochefoucauld - que também se aplica às amizades: “A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, como o vento apaga as velas e ateia o fogo”.
2. A exemplo do ocorrido em outros países (como Alemanha, França, Portugal etc) a economia brasileira saiu da recessão técnica (dois trimestres seguidos de PIB negativo) e voltou crescer no segundo trimestre deste ano, com alta de 1,9% em relação ao trimestre anterior. O resultado do primeiro semestre ainda é negativo em 1,5% em relação a igual período do ano passado, ou seja, o PIB brasileiro ainda é menor do que era um ano atrás. A notícia boa é o desempenho da indústria, que apresentou crescimento de 2,1% no segundo trimestre. Além da indústria, o consumo das famílias também apresentou crescimento, contribuindo para o resultado positivo, mas crescimento sustentável só se obtém com investimento (e não com consumo) e nesse ponto não estamos bem.
3. André Vassarely, húngaro que morava na Vieira Souto e estudava no Mello e Souza (uma turma depois da minha), veio para o Brasil após o fim da guerra na Europa. Achava interessante que se jogasse voleibol em todos os recreios de nosso colégio e também houvesse muitas redes de praia em frente ao seu edifício. Uma de suas lembranças mais vívidas da infância, na Hungria invadida, eram os soldados soviéticos, com os braços cheios de relógios de pulso (“confiscados”), aproveitando os tempos disponíveis para jogar voleibol na rua, usando um barbante como "rede". Já era, antes da guerra, um esporte muito popular nos países do Leste Europeu, inclusive na Hungria. Assim se explica a hegemonia absoluta que os países da “Cortina de Ferro” mantiveram no voleibol durante as últimas décadas do século XX.
4. Sobre a vitória de nosso futebol contra a Argentina, li no DIÁRIO DE NOTÍCIAS de Portugal e reproduzo aqui, pois na nossa imprensa essa “notícia-gozação” não saiu: “o benfiquista Luisão abriu caminho ao triunfo através de um golpe de cabeça no coração da área, depois de ter sido deixado à vontade pelos defesas argentinos. Estava dada a resposta a Maradona, que antes do jogo havia dito que o gigante brasileiro mais parecia um basquetebolista.”
5. Nasci no lugar certo: Ipanema. Poucos da minha geração desfrutam desse raro privilégio - pois ali não havia maternidade nos anos 30. Nasci de parteira, em um quarto que ainda lá está, com duas janelas debruçadas sobre a rua, na Barão da Torre 193, entre Montenegro e Farme de Amoedo. E com essa credencial indiscutível quero agradecer e dar meus parabéns aos que demoliram aquele monumento à breguice que alguém colocou no Bar Vinte - certamente por ódio ao meu bairro tão chique.
Quando vi aquele monstro arquitetônico pela primeira vez, saí correndo à procura da Embaixada de Tuvalu mas não pude naturalizar-me tuvaluano porque teria que ir a Funafuti, sua Capital, correndo o risco de afogar-me - pois o País está afundando. Ainda bem, porque não suportaria deixar de ser ipanemense, principalmente agora, depois dessa demolição libertadora...

8 comentários:

  1. A história se repete.
    Como é bom "ouvi-lo" dizer sobre formas de difusão do voleibol. Pena que nossos "educadores" sejam surdos a apelos criativos e de baixo custo. Em 1974, dei início aos cursos sobre a aplicação do minivoleibol no ambiente escolar. Estava em Recife (PE) numa das instalações do SESI (Ibura)e mandei confecionar alguns postes (PVC) e utilizei-me de cordas finas para configurar as redes. Foi um curso proveitoso, repetido 6 meses após no próprio local. Anos mais tarde, em Niterói (RJ), contribui para a instação de 13 mini campos no páteo de um dos maiores educandários. Até hoje é um sucesso de público, pois os alunos aproveitam todos os momentos de folga para a prática. As redes são ficas, não são recolhidas ao final do dia. Além disso, os próprios alunos organizam os torneios e campeonatos, respeitando as respectivas séries. O professor/treinador das equipes do colégio agradece até hoje, uma vez que os alunos candidatos já têm um histórico no esporte. Qual é a dificuldade de se generalizar a ideia? Em Portugal, a Federação de Voleibol oferece o material gratuitamente e proporciona cursos para professores. Aqui, a CBV se orgulha de uma franquia exorbitante e oferece uma apostila.
    Roberto Pimentel.

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  2. aRLINDO
    Sempre gostei de certa forma paradoxal da filosofia de la Rochefoucauld e lá vem você "dizendo" /que o vento apaga as velas mas atiça o fogo/e vida que segue...
    Quanto a minha simplória vivência da Real Economiaveja se certo entendi:
    houve reações dos mercados-emprego,comécio externo e consumo interno, mas é apenas a parte visível de um fenômeno maior/o resto é especulação-? entendi?Thereza

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  3. Arlindo:
    Muito me lembro do André Vassarely,acho que ele era da turma da Mira, minha prima e andava lá pelo 7ºandar do Nuno Pinheiro,não sabia de sua vida húngara,mas gostava de sua forma meio estrangeira,já no colegial,ainda fora de foco,prometia fazer sucesso com as mocinhas/nós.

    BrasilxArgentina -e dois técnicos Dunga x Maradona,jogadores de futebol de suas seleções
    Entre eles dois estilos de ser:
    Maradona craque argentino/Dunga excelente nas suas bolas de passes redondos para o belo futebol brasileiro /Maradona dependente entre outros materiais de uma onipotência e arrogância que ultrapassa qualquer passo de Tango/Dunga, gaúcho simplório,sério e sem malícia, que esta quase conseguindo reger nosso samba através da cadência dos jogadores que temos.
    Estamos na Copa Africana ( estou com vontade de Africar)a Argentina em 5º lugar terá que deixar de lado sua empáfia ao se julgar pura- Espanhola/ mas é importante que consiga ser classificada/tem um bonito futebol.
    Muito peculiar a maneira de expressão da qual somos descendentes Saudações Thereza

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  4. ARLINDO,COMO PENSO QUE O HUMOR É A INTELIGÊNCIA,ADOREI O SEU TEXTO SOBRE O MONUMENTO AO DESCONHECIDO E A SUA FANTÁSTICA QUEDA -EU NASCIDA EM COPACABANA-CHEGUEI A TEMER QUE O FANTÁSTICO ARQUITETO RESOLVESSE LEVANTAR OUTRO MONUMENTO CRIANDO A DIVISÃO DOS DOIS BAIRROS MAIS LINDOS DO MUNDO-SAUDAÇÕES THEREZA

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  5. Grato pelos comentários. a) O minivoleibol, há muitos anos preconizado como a solução para a ezpansão do esporte da rede pelo Prof. Roberto Pimentel, é também um instrumento pedagógico poderoso e o próprio Pimentel já desenvolveu metodologia nesse sentido. Sua adoção pelos sistemas de ensino seria um sucesso e um grande avanço. b) como eu já disse anteriormente, a economia brasileira, por ser ainda muito fechada, normalmente já sofreria menos com a crise global. Como o Banco Central logo tomou medidas muito oportunas e o Governo Federal iniciou o programa habitacional, o impacto da crise foi minimizado. Comparando no plano internacional o Brasil está menos mal que os demais países ricos e a Russia. Minhas ponderações são no sentido de contrabalançar o excesso de otimismo e algumas informações distorcidas que o Governo e sua imprensa (quase toda...) divulgam. Nossa indústria ainda está em má situação e o desemprego crescendo. A renda per capita do brasileiro será, ao final de 2009, menor que aquela que tínhamos ao fim de 2008 e isso é muito ruim. c) Mas é verdade que a Argentina está muito pior do que o Brasil - em tudo ! Arlindo Lopes Corrêa

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  7. Arlindo - tenho 81 anos. O André que eu conheci deve ter agora 71 e fomos colegas no judô. Ele formou-se em engenharia no Ita, foi para a França e foi um dos cientistas que o Costa e Silva "chamou" de volta para o Brasil. Foi parar na Alpacartas Rodia...Fomos muito amigos. É dele ou do pai que você citou em 12/9/2009 (?) Ele morava com a mãe, irmão e o pai (?)

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  8. Caro Anônimo (???): o André (que lutava judô, estudou no Mello e Souza e depois no ITA) foi quem me contou sobre os soldados russos. Ele morava na praia, em edifício entre a Farme e a Montenegro, já semolido. Eu só conheci o irmão dele. Gozado ele ter sido um dos cientistas que o Governo trouxe de volta nos anos 60. Eu não sabia disso mas fui um dos artífices dessa operação. O Setor de Educação e Mão de Obra que eu dirigia no IPEA fez um Estudo sobre "fuga de cérebros" e isso inspirou o Governo a tomar providências. Essa sua informação me alegra muito... Grato pelo comentário, caro Anônimo... Arlindo

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