17 de jul. de 2009

EMPREGO, TERCEIRA IDADE, AMOR MATERNAL

1. As estatísticas do Ministério do Trabalho mostram que o Brasil criou 300.000 (trezentos mil) empregos de carteira assinada no primeiro semestre de 2009. Um desastre ! Em 2008, nesse mesmo período, o País gerou 1.360.000 (um milhão, trezentos e sessenta mil) postos formais de trabalho. A perda causada pela crise já passa portanto de um milhão de empregos. Outra notícia ruim desse levantamento é que a Indústria praticamente não teve novos empregos este ano, indicando sua estagnação e confirmando PIB brasileiro de 2009 no entorno de zero.
· Entre janeiro de 2003 e junho de 2009 foram gerados 8.020.478 postos de trabalho com carteira assinada. Mas desse total, quase 2 milhões, na verdade, foram de pessoas que já estavam empregadas informalmente, que tiveram a carteira assinada por força da fiscalização severa (e às vezes arbitrária) do Ministério do Trabalho e de novas regras criadas para ocupações temporárias, de modo a inflar o emprego.
· A promessa do candidato Lulla - gerar 10 milhões de empregos no primeiro mandato – não se realizará nem nos 8 anos que os eleitores lhe concederam.
· Mas ainda há tempo: para que jovens, arrimos de família etc não amarguem o desemprego, o Governo Federal precisa reduzir suas perdulárias despesas correntes e investir mais em nossa precária infraestrutura, de modo a criar novas oportunidades de trabalho produtivo, realmente útil para o Brasil.
2. As políticas públicas dirigidas à população da terceira idade devem contemplar também a classe média. Muitas das necessidades dos idosos independem da renda auferida e se situam mais nos campos psicológico e da cidadania. Depressão, auto-estima em baixa, sentimento de inutilidade e desprestígio social, solidão, conflito generacional etc são passivos intangíveis, não monetizáveis e que atingem fortemente todos os idosos.
· A promoção da política do “envelhecimento ativo”, por exemplo, contribuiria para evitar muitos daqueles males, além de alimentar o desenvolvimento local e nacional. Pessoas com perfil educacional elevado e que chegam a essa etapa de suas vidas cada vez com melhores condições de saúde física, podem perfeitamente continuar a trabalhar.
· Sempre que passo por Ipanema, Copacabana e Leblon, bairros de classe média e com a característica comum da predominância de residentes da terceira idade, fico inconformado. Dá pena vê-los pelas ruas, inaproveitados, muitos(as) deles antigos(as) e bem sucedidos professores(as), profissionais liberais, militares, aposentados saudáveis, ainda dispostos a trabalhar como voluntários ou profissionalmente, em favor do Rio de Janeiro e do Brasil.
· Vários dominam outras línguas além do Português e coincidentemente moram exatamente na região onde o turismo receptivo brasileiro atinge sua atratividade máxima. Essa coincidência sugere-me a execução de um projeto para “a turma dos anos dourados” que seria muito proveitoso para o turismo carioca
· Consistiria em treinar as pessoas bilíngues da terceira idade para atuarem como Voluntários do Turismo Receptivo na Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro. Uma vez treinados, os voluntários ostentariam um crachá identificando a(s) língua(s) dos turistas que a eles se poderiam dirigir, pedindo informações e dicas sobre o bairro e as principais atrações cariocas. Os hotéis alertariam os turistas sobre a disponibilidade dos voluntários e o projeto seria um sucesso.
3. Nasci na casa da Rua Barão da Torre 193, em Ipanema e lá morei durante os dois primeiros anos de minha vida. Em 1938 eu tinha um ano de idade e na altura da hora do almoço acordei. Estava só e comecei a sacudir meu berço, que foi se aproximando de uma janela aberta, do outro lado do quarto, que dava para uma escada que descia ao porão, três metros abaixo. Como já engatinhava, passei do berço à janela e caí. Milagrosamente fui encontrado chorando, sentado, ileso, no patamar que ligava a escada ao porão.
· Minha mãe estava em casa, dedicada aos afazeres domésticos. Seria negligência ? Filho único, minha mãe dedicou-se de corpo e alma à minha educação. Eu era a missão principal de sua vida, o objeto de suas esperanças de rude camponesa que levara uma existência dura, que parecia eternamente voltada para construir o meu futuro. Até os meus 11 ou 12 anos de idade não houve uma só noite em que ela e meu pai estivessem simultaneamente ausentes – um deles ficava sempre em casa, cuidando de mim. Quis o destino que nada me acontecesse naquele dia do tombo. Mas eu poderia ter morrido. E não canso de agradecer a meus pais, cotidianamente, pela sua dedicação ao filho, pelas oportunidades e a vida maravilhosa que me propiciaram.
· Conto esse episódio, a propósito da prisão desse pobre casal do subúrbio carioca que perdeu a filha em um acidente similar ao que sofri. Além da desgraça que os marcará pelo resto de seus dias – uma punição perpétua - coube-lhes , em vez da solidariedade, o vexame de um constrangimento difícil de entender. A Justiça deve ser cega mas tem que ter coração...

12 comentários:

  1. http://walkingbutterfly.com/diary/2009/06/25/mirrors-review/

    Uma indicação interessante, s/ Economia!! Gilda Arantes

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  2. Cara Gilda Arantes: no momento não disponho de tempo para atender sua disciplinada indicação, pois estou lendo algo muito mais interessante, que até recomendo a você. É o “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”, de Álvaro Vargas Llosa que descreve com perfeição a síndrome da idiotice que acomete o Brasil e de certa forma é uma perfeita introdução para entender os Eduardo Galeano da vida...Leia e aproveite. Arlindo Lopes Corrêa

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  3. Arlindo,
    Ótimo post, é muito bom ver alguém defendendo aquele pobre casal que perdeu a filha num acidente estúpido e, além da dor da perda, ainda sofreu a humilhação de uma prisão baseada na fria letra da lei.
    Quanto a leituras, sugiro também "A volta do idiota", dos mesmos autores, no qual destacam a estupidez dos Chavez, Evos e demais idiotas contemporâneos, que pululam por aí no continente. No dia a dia, uma boa e divertida leitura é o blog do Coronel (coturnonoturno.blogspot.com), com cacetadas homéricas diárias em toda essa corja.
    A propósito, esse Galeano não é o autor daquele besteirol intitulado "As veias abertas da América Latina", que o idiota mor atual deu de presente ao Obama?
    Abs
    Marcos

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  4. Caro Marcos: grato pela sugestão perfeita para o caso. O Galeano é o próprio do livro. Um jornalista uruguaio, charlatão escalado pelos comunistas do pedaço para ser o "novo gênio da esquerda", capaz de dar opiniões sempre perfeitas sobre todos os assuntos e calar pobres mortais que ousam pensar sem rezar pelos dogmas marxistas. Imagino quantas risadas não foram ouvidas do banheiro do Obama lendo aquelas sandices...É incrível como esses fósseis custam a desaparecer da América Latina. Arlindo

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  5. Caro Senhor Arlindo: conheço a obra de Vargas Llosa, agradeço a indicação, mas nesta "geopolítica", prefiro Gabriel Garcia Marques. Pena, no site indicado há um encontro de Economistas fantásticos, da London School, não sei se conheçe, fiz lá meu Mestrado, atenciosamente, Gilda Arantes Pereira-Pinto.

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  6. Professora Gilda, ilustre sindicalista do SINPROF: como a senhora disse em comentário a texto anterior, citando Quintana, eu envelheci...Não posso mais perder tempo lendo sobre utopias fracassadas, que mataram dezenas de milhões de pessoas de fome, nas forcas e paredões das tiranias comunistas. E que ainda infelicitam países atrasados onde têm seguidores disciplinados no Poder. Não posso nem me dar ao luxo de rir com a ingenuidade de seus adeptos e suas ironias baratas. London School of Economics ? Não sei não...Será que fica perto do Big Ben (ou será do Big Mac da Economist)? Arlindo Lopes Corrêa

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Caro amigo,

    Gostei muito deste post. Na Europa e oriente médio vivenciei o valor dado aos mais velhos. Será que estamos criando uma mentalidade esquimó, onde se deixa os mais velhos morrerem afastados da família? Viver com inteligência é levar em conta as nossas experiências e sabedoria levar em conta as experiências alheias. Caminhamos para ser um País obtuso?

    Haroldo Ledo.

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  9. Caro Haroldo: grato pelo comentário. Creio que se o conhecimento e a sabedoria fossem valorizadas, como você observou nas suas viagens, os velhos seriam mais respeitados no Brasil. Temo que não estejamos preparados para o envelhecimento da população brasileira, que está ocorrendo rapidamente. Os idosos são mais de 20 milhões no Brasil e falta muita coisa para atendê-los. Arlindo Lopes Corrêa

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  10. Prezado Arlindo: Como "carioca da gema" nascido no bairro de Botafogo, acredito que "os velhos unidos jamais serão vencidos". Bravo pelo post, realmente somos mais de 20 milhoes no Brasil e muita coisa ainda falta para nos atender.Isso é apenas o inicio de uma cruzada.

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  11. Geraldo Alex Hagemeyer6 de fevereiro de 2010 às 11:27

    Diz um pensamento árabe: "Secam ao sol os ossos daqueles que durante a caminhada sentaram-se para descansar" Velho? Eu? Com 57 anos voltei para escola. Aos 60 (idade atual) terminei o ensino médio. Fiz vestibular na federal e passei. Farei 5 anos de faculdade para lecionar matemática. Aposentadoria? Só quando Jesus me premiar com ela.Um grande abraço.

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  12. Parabéns, Alex, pela tenacidade. Você é um bom exemplo de que ainda temos muito a dar ao Brasil e seu povo, independentemente de nossa idade. Vá em frente e boa sorte ! Atlindo Lopes Corrêa

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