1. Deu no NEW YORK TIMES: a Food and Drug Administration (FDA) – agência reguladora norteamericana - acaba de dar publicidade a uma advertência aos consumidores para que não usem produtos que, vendidos como suplementos nutricionais, podem conter esteróides ou substâncias similares, ocasionando graves lesões ao fígado e insuficiência renal. A providência responde a um número crescente e alarmante de problemas médicos em usuários dessas drogas. Além dos citados, também embolias pulmonares e derrames foram relatados. Recentemente, a FDA havia proibido dezenas de marcas de suplementos utilizados para fins de emagrecimento, pelo fato de conterem, escondidas, substâncias potencialmente perigosas. Em 2007, os americanos gastaram US$24 bilhões em suplementos dietéticos, dos quais US$2,8 bilhões em tabletes ou cápsulas para “construir” músculos ou melhoria de performance atlética.
· A partir de 1966 passei a frequentar a sede da Organização dos Estados Americanos – OEA em Washington. Desde 1965 eu chefiava o Setor de Educação do IPEA (Ministério do Planejamento) e assinara convênio de assistência técnica com a OEA o que, por exemplo, permitiu que eu me qualificasse em planejamento de mão-de-obra na OHIO STATE UNIVERSITY (em Columbus).
· Àquela época eu ainda disputava competições oficiais de voleibol pelo Fluminense, o que despertava certa curiosidade, em virtude da aparente contradição entre as múltiplas funções de Governo que desempenhava e minha intensa dedicação ao esporte.
· Talvez por esse motivo, um economista americano, funcionário da OEA, sempre que eu ia a Washington buscava conversar comigo sobre prática desportiva, exercícios físicos, sua influência sobre performance etc. O tal economista, muito simpático, era “um armário”, de compleição muito robusta e um entusiasta dos esportes de força, praticante de levantamento de peso e musculação.
· Certo dia, mostrou-me o que considerava o seu grande segredo: um suplemento que aliado aos exercícios físicos fazia crescer os músculos rapidamente. Era um anabolizante, o precursor do que hoje chamam “bomba”. Explicou-me que graças àquelas cápsulas, que poucos conheciam e usavam (era a década dos 60), construíra aquele físico “privilegiado”. E se ofereceu para me fornecer a “poção milagrosa” – que aumentaria muito minha força e me daria um corpo exuberante.
· Delicadamente, declinei da oferta e expliquei-lhe que meu esporte exigia velocidade, flexibilidade, explosão e um biotipo longilíneo – eram assim os voleibolistas de então. Meus 73 quilos para 1,84 m de altura estavam adequados.
· Poucos anos depois soube de sua morte prematura, que amigos e familiares não conseguiam entender, pois tratava-se de um atleta, fortíssimo, frequentador assíduo do ginásio poliesportivo etc etc.
· Essa praga de “drogas miraculosas” (e mortais) infelizmente disseminou-se nos últimos anos em nosso País. Faz parte da rotina de muitos estabelecimentos teoricamente dedicados à melhoria da saúde e qualidade de vida. Está incorporada à vida de atletas – hoje todos profissionais – objetivando a performance impossível e o sucesso a qualquer preço.
· A ambição desmesurada, a busca fácil da perfeição, da beleza, geralmente faz-nos cair em desgraça. O suplício de Prometeu (na mitologia grega), a transação de Fausto com Mefistófeles (segundo Göethe) e a beleza eterna/efêmera de Dorian Gray (por Oscar Wilde) já retrataram com engenho e arte essa história - tão humana quão trágica.
2. Antigamente acusava-se furiosamente quem aplicava dinheiro em Fundos de Investimento: eram reles “especuladores”, vivendo dos juros altos, às custas da desgraça do povo !
· Agora, o Governo pede que os investidores mantenham seu dinheiro nesses mesmos Fundos “para não prejudicar a economia do País”. As autoridades alegam que a transferência desses recursos para a Caderneta de Poupança – o sempre abençoado investimento, reservado aos pobres e remediados - criaria grandes problemas para o Governo, cujos títulos seriam desprezados pelos que aplicam seu dinheiro no mercado financeiro.
· Então, cabe perguntar: o outrora mal-afamado investidor - depreciativamente chamado de especulador, especialmente pelas pessoas que compõem o atual Governo – tem um papel importante e positivo na economia nacional ? Agora parece que sim, até para eles...
· A verdade é que o dinheiro poupado e aplicado nos Fundos sempre financiou os empreendimentos que geram o desenvolvimento econômico. Mas a mentira deslavada já durava muitos anos e era repetida incessantemente por políticos à cata de votos dos revoltados com a propalada “especulação”.
· Agora, acabou...A mentira nem sempre tem pernas curtas, mas um dia a verdade prevalece. Acredito e confio nisso como em poucas outras coisas nesta vida.
· Envergonhem-se pois os que mentiram e aprendam os que embarcaram ingenuamente nessa balela.
· A hipocrisia é uma das mais nefastas doenças morais que acometem nosso País. Por sua causa e da ação deliberada de seus arautos, muita coisa errada está por aí, infelicitando nosso País e seu povo - que sofre o flagelo da corrupção, do vício e da violência.
31 de jul. de 2009
23 de jul. de 2009
TAMIFLU SIM, MAS NA VALIDADE...
1.Quando me decidi por ter um BLOG, a intenção era a mais construtiva possível: como trabalhei com grande empenho por muitos anos, algumas de minhas experiências talvez ainda possam ser úteis e resolvi partilhá-las. Neste momento, porém, meu espírito é de revolta, nada construtivo !
2.Após ter postado o texto “SOS NOVA GRIPE ! TAMIFLU JÁ !” vi no jornal da TV BANDEIRANTES, no início da noite, uma reportagem em que pacientes da rede pública de saúde de São Paulo, com gripe suína, receberam o medicamento TAMIFLU com a data de validade vencida! Uma etiqueta colada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estende o prazo de janeiro de 2009 até o próximo ano. O Ministério da Saúde garantiu à reportagem que os remédios ainda são eficazes contra a nova gripe e informou que foi estendida a validade de 50 mil comprimidos do medicamento, que estavam nos estoques estaduais.
3. O fabricante do medicamento – ROCHE - explicou na mesma matéria que a prorrogação foi feita depois de estudos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde. Para a decisão, foi levada em consideração a estabilidade do produto, com base na forma de armazenamento no estoque. A reportagem da BAND mostrou no vídeo um documento em que a ROCHE e a ANVISA aprovavam oficialmente a extensão da validade do TAMIFLU.
4.Tudo parece muito estranho porque o site oficial da ROCHE no Brasil, no seu FAQ (perguntas mais frequentes), ao responder à indagação: - O que fazer com medicamentos vencidos? – afirma: “Não recomendamos o consumo de medicamentos cujo prazo de validade tenha expirado, pois pode ser prejudicial à sua saúde ou não causar efeito desejado para o seu tratamento. Caso tenha realizado a compra do medicamento já com o prazo de validade expirado, recomendamos que retorne à farmácia ou drogaria e informe o ocorrido. Em caso de dúvidas, entre em contato conosco através do telefone 0800 77 20 289.”
5. Já no site da ANVISA, http://www.anvisa.gov.br/profissional/medicamentos/farmacia_caseira.htm fica estabelecido: “A data de validade do medicamento expressa em sua rotulagem é definida por testes laboratoriais técnico-analíticos que confirmam o período da atividade farmacológico-terapêutica, sem alterações na composição decorrentes das ações do tempo. Portanto, a data de validade expressada na rotulagem deve ser, rigorosamente, seguida, já que o medicamento vencido poderá causar efeitos diferentes das suas indicações terapêuticas originais. Por isso, descarte e inutilize sempre todo medicamento com data de validade vencida.”
6. Agora minhas perguntas: a) será que medicamento vencido não faz mal a pobre e à classe média menos aquinhoada ? – porque quem frequenta o sistema público de saúde só o faz por absoluta impossibilidade de ter alternativa, é claro b) será que aquelas histórias tenebrosas que contam repetidamente acerca dos laboratórios multinacionais e suas formas de ganhar dinheiro fácil – histórias que eu sempre repeli - se tornaram verdadeiras ? c) quando, em que quantidades e de que modo foram feitas essas gigantescas compras de antivirais pelo Governo ? d) qual a razão de os Governos multarem pesadamente os fabricantes e comerciantes que têm em seus estabelecimentos remédios, alimentos e outros produtos fora do prazo de validade ? e) quem vai me devolver o dinheiro que joguei fora até hoje, descartando produtos com data vencida ?
7. Amigos, o Brasil está muito doente...moralmente doente.
8. Estamos vivendo um clima irrespirável. Gente, o nome é Temporal !
2.Após ter postado o texto “SOS NOVA GRIPE ! TAMIFLU JÁ !” vi no jornal da TV BANDEIRANTES, no início da noite, uma reportagem em que pacientes da rede pública de saúde de São Paulo, com gripe suína, receberam o medicamento TAMIFLU com a data de validade vencida! Uma etiqueta colada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estende o prazo de janeiro de 2009 até o próximo ano. O Ministério da Saúde garantiu à reportagem que os remédios ainda são eficazes contra a nova gripe e informou que foi estendida a validade de 50 mil comprimidos do medicamento, que estavam nos estoques estaduais.
3. O fabricante do medicamento – ROCHE - explicou na mesma matéria que a prorrogação foi feita depois de estudos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde. Para a decisão, foi levada em consideração a estabilidade do produto, com base na forma de armazenamento no estoque. A reportagem da BAND mostrou no vídeo um documento em que a ROCHE e a ANVISA aprovavam oficialmente a extensão da validade do TAMIFLU.
4.Tudo parece muito estranho porque o site oficial da ROCHE no Brasil, no seu FAQ (perguntas mais frequentes), ao responder à indagação: - O que fazer com medicamentos vencidos? – afirma: “Não recomendamos o consumo de medicamentos cujo prazo de validade tenha expirado, pois pode ser prejudicial à sua saúde ou não causar efeito desejado para o seu tratamento. Caso tenha realizado a compra do medicamento já com o prazo de validade expirado, recomendamos que retorne à farmácia ou drogaria e informe o ocorrido. Em caso de dúvidas, entre em contato conosco através do telefone 0800 77 20 289.”
5. Já no site da ANVISA, http://www.anvisa.gov.br/profissional/medicamentos/farmacia_caseira.htm fica estabelecido: “A data de validade do medicamento expressa em sua rotulagem é definida por testes laboratoriais técnico-analíticos que confirmam o período da atividade farmacológico-terapêutica, sem alterações na composição decorrentes das ações do tempo. Portanto, a data de validade expressada na rotulagem deve ser, rigorosamente, seguida, já que o medicamento vencido poderá causar efeitos diferentes das suas indicações terapêuticas originais. Por isso, descarte e inutilize sempre todo medicamento com data de validade vencida.”
6. Agora minhas perguntas: a) será que medicamento vencido não faz mal a pobre e à classe média menos aquinhoada ? – porque quem frequenta o sistema público de saúde só o faz por absoluta impossibilidade de ter alternativa, é claro b) será que aquelas histórias tenebrosas que contam repetidamente acerca dos laboratórios multinacionais e suas formas de ganhar dinheiro fácil – histórias que eu sempre repeli - se tornaram verdadeiras ? c) quando, em que quantidades e de que modo foram feitas essas gigantescas compras de antivirais pelo Governo ? d) qual a razão de os Governos multarem pesadamente os fabricantes e comerciantes que têm em seus estabelecimentos remédios, alimentos e outros produtos fora do prazo de validade ? e) quem vai me devolver o dinheiro que joguei fora até hoje, descartando produtos com data vencida ?
7. Amigos, o Brasil está muito doente...moralmente doente.
8. Estamos vivendo um clima irrespirável. Gente, o nome é Temporal !
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21 de jul. de 2009
SOS NOVA GRIPE ! TAMIFLU JÁ !
1. Sou leigo em saúde pública mas estudei estatística o suficiente para perceber que a taxa de crescimento da “nova gripe” é extremamente preocupante. No caso do Brasil, em que os sistemas públicos de atendimento médico trabalham bem acima de sua capacidade, mesmo nos dias normais, o acréscimo de demanda que a acompanha vai levá-los rapidamente ao colapso. E complicar muito a epidemia e mesmo os casos de gripe sazonal. A razão é óbvia pois os pacientes, para terem acesso ao medicamento - que só existe nas unidades governamentais - enfrentarão necessariamente situações desfavoráveis para sua saúde tais como: ficar prolongadas horas nas filas, ao relento ou até sob chuva, muitas vezes nas madrugadas frias das regiões Sul e Sudeste; agruparem-se em grande número nas salas de espera das unidades de saúde, contaminando e sendo contaminados; cansar de esperar, desistir da consulta médica e optar pela auto-medicação etc etc
· É bom lembrar que os dois antivirais monopolizados pelo Estado (Tamiflu e Relenza) funcionam apenas se ingeridos nas primeiras 48 horas da gripe, o que exigiria agilidade do atendimento médico. É notório que a reação do sistema público de saúde às situações de emergência é jurássica, não funciona.
· Agora que a epidemia circula em nosso País, a orientação de impedir, na prática, que os laboratórios distribuam os medicamentos que curam a "nova gripe" para que as farmácias os vendam deve ser imediatamente abandonada, permitindo que os milhares de médicos atuando no Brasil possam receitar aos seus pacientes, descentralizando –se o atendimento e viabilizando o efetivo combate à doença;
· Negar, neste momento, o acesso franco ao Tamiflu e ao Relenza, atenta contra a liberdade de nosso povo, é certamente inconstitucional e pode causar mortes.
2. A primeira vez que vi Nalbert jogar (no voleibol juvenil do Flamengo) percebi que ali estava um futuro craque. Hoje, é ainda um espetacular jogador de voleibol de praia, dentre os melhores do mundo. Durante alguns anos Nalbert foi, nas quadras, talvez a peça mais importante da vitoriosa Seleção Brasileira de Voleibol. Aos 28 anos, porém, sofreu lesão dos tendões e operou os dois ombros, resultado da fadiga causada pelo ritmo de jogos/treinamento a que estão submetidos os atletas de hoje. Nossa Seleção perdeu prematuramente um de seus principais astros de todos os tempos. Nalbert tentou voltar ao voleibol indoor, Bernardinho incentivou-o, mas não deu para manter o nível qualitativo habitual de seu jogo e o jeito foi resignar-se ao voleibol de praia.
· O profissionalismo mudou muita coisa nos esportes olímpicos. Tem vantagens e desvantagens sobre a minha época do amadorismo. Um dos seus aspectos negativos é a intensidade dos treinamentos, teoricamente o melhor meio de superação dos adversários. O exagero, muitas vezes, põe em risco a saúde dos atletas. Tendões do ombro (supraespinhoso e infraespinhoso) se rompem por fadiga, lesão comum em jogadores que continuam praticando voleibol por muitas décadas. Eu, por exemplo, os rompi aos 70 anos, já um velho jogador decadente, depois de ter dado cerca de 960.000 saques e cortadas ao longo dos quase 60 anos de prática do voleibol. Mas Nalbert rompeu-os aos 28 anos. As lesões e cirurgias tornaram-se uma rotina no meio esportivo. As doenças ocupacionais são uma constante nesse meio profissional.
· Será que o ritmo de treinamento adotado atualmente é adequado ? Uma análise de custo/benefício seria elucidativa. Uma pesquisa comparativa dos resultados atléticos alcançados com treinamentos de diferentes intensidades e frequências, deveria ser realizada por alguma Universidade ou Instituto de Fisiologia do Esforço, de modo a esclarecer se vale a pena correr o risco de lesionar tão frequentemente os atletas, em busca de um pequeno ganho de performance, talvez não compensador.
· A prática desportiva está normalmente associada a saúde e qualidade de vida, mas em muitos casos tornou-se uma competição insana, em busca da vitória a qualquer custo.
· O Brasil, no caso do voleibol, tem Comissões Técnicas extremamente talentosas, competentes, com pessoas esclarecidas que deveriam deter-se sobre esse problema. Inclusive pesquisando alternativas de treinamento menos desgastantes.
· O voleibol mudou muito, ao adotar-se o “tie-break” – em que não há mais a velha “vantagem”, que precisava ser confirmada para transformar-se em ponto. Hoje, o voleibol é um jogo em que o fator psicológico, que sempre foi importante, tornou-se decisivo. Consequentemente, o trabalho em cima do aspecto comportamental dos atletas deve aumentar sua participação no tempo de treinamento.
· Por outro lado, o voleibol brasileiro globalizou-se e nossos atletas, para terem sucesso no exterior, deveriam receber uma formação intelectual mais ampla, inclusive sobre a cultura dos países em que o voleibol é mais praticado e cujas Seleções são as maiores rivais do Brasil. Esse preparo inclusive permitir-lhes-á entender mais facilmente e conhecer seus adversários – um fator importante para derrotá-los. Mas o mais importante: nossos jogadores, espalhados pelo mundo, ficarão mais valorizados se chegarem a esses novos pousos com maior capacidade de adaptação à cultura local.
· Finalmente, como acredito em nossos especialistas em voleibol, creio que posso desafiá-los a buscar, na imensa gama de novas tecnologias disponíveis – na informática, na robótica, na ergonomia, na fisiologia etc – modalidades de treinamento físico e de prática da técnica voleibolista com o mesmo alto rendimento alcançado hoje, mas minimizando o risco de lesionar os atletas envolvidos. A invenção do simulador de voo exemplifica e caracteriza bem o que quero significar. Provavelmente já se poderia treinar voleibol, em muitos dos seus aspectos, na realidade virtual, sem correr os riscos físicos do presente e do passado.
· É bom lembrar que os dois antivirais monopolizados pelo Estado (Tamiflu e Relenza) funcionam apenas se ingeridos nas primeiras 48 horas da gripe, o que exigiria agilidade do atendimento médico. É notório que a reação do sistema público de saúde às situações de emergência é jurássica, não funciona.
· Agora que a epidemia circula em nosso País, a orientação de impedir, na prática, que os laboratórios distribuam os medicamentos que curam a "nova gripe" para que as farmácias os vendam deve ser imediatamente abandonada, permitindo que os milhares de médicos atuando no Brasil possam receitar aos seus pacientes, descentralizando –se o atendimento e viabilizando o efetivo combate à doença;
· Negar, neste momento, o acesso franco ao Tamiflu e ao Relenza, atenta contra a liberdade de nosso povo, é certamente inconstitucional e pode causar mortes.
2. A primeira vez que vi Nalbert jogar (no voleibol juvenil do Flamengo) percebi que ali estava um futuro craque. Hoje, é ainda um espetacular jogador de voleibol de praia, dentre os melhores do mundo. Durante alguns anos Nalbert foi, nas quadras, talvez a peça mais importante da vitoriosa Seleção Brasileira de Voleibol. Aos 28 anos, porém, sofreu lesão dos tendões e operou os dois ombros, resultado da fadiga causada pelo ritmo de jogos/treinamento a que estão submetidos os atletas de hoje. Nossa Seleção perdeu prematuramente um de seus principais astros de todos os tempos. Nalbert tentou voltar ao voleibol indoor, Bernardinho incentivou-o, mas não deu para manter o nível qualitativo habitual de seu jogo e o jeito foi resignar-se ao voleibol de praia.
· O profissionalismo mudou muita coisa nos esportes olímpicos. Tem vantagens e desvantagens sobre a minha época do amadorismo. Um dos seus aspectos negativos é a intensidade dos treinamentos, teoricamente o melhor meio de superação dos adversários. O exagero, muitas vezes, põe em risco a saúde dos atletas. Tendões do ombro (supraespinhoso e infraespinhoso) se rompem por fadiga, lesão comum em jogadores que continuam praticando voleibol por muitas décadas. Eu, por exemplo, os rompi aos 70 anos, já um velho jogador decadente, depois de ter dado cerca de 960.000 saques e cortadas ao longo dos quase 60 anos de prática do voleibol. Mas Nalbert rompeu-os aos 28 anos. As lesões e cirurgias tornaram-se uma rotina no meio esportivo. As doenças ocupacionais são uma constante nesse meio profissional.
· Será que o ritmo de treinamento adotado atualmente é adequado ? Uma análise de custo/benefício seria elucidativa. Uma pesquisa comparativa dos resultados atléticos alcançados com treinamentos de diferentes intensidades e frequências, deveria ser realizada por alguma Universidade ou Instituto de Fisiologia do Esforço, de modo a esclarecer se vale a pena correr o risco de lesionar tão frequentemente os atletas, em busca de um pequeno ganho de performance, talvez não compensador.
· A prática desportiva está normalmente associada a saúde e qualidade de vida, mas em muitos casos tornou-se uma competição insana, em busca da vitória a qualquer custo.
· O Brasil, no caso do voleibol, tem Comissões Técnicas extremamente talentosas, competentes, com pessoas esclarecidas que deveriam deter-se sobre esse problema. Inclusive pesquisando alternativas de treinamento menos desgastantes.
· O voleibol mudou muito, ao adotar-se o “tie-break” – em que não há mais a velha “vantagem”, que precisava ser confirmada para transformar-se em ponto. Hoje, o voleibol é um jogo em que o fator psicológico, que sempre foi importante, tornou-se decisivo. Consequentemente, o trabalho em cima do aspecto comportamental dos atletas deve aumentar sua participação no tempo de treinamento.
· Por outro lado, o voleibol brasileiro globalizou-se e nossos atletas, para terem sucesso no exterior, deveriam receber uma formação intelectual mais ampla, inclusive sobre a cultura dos países em que o voleibol é mais praticado e cujas Seleções são as maiores rivais do Brasil. Esse preparo inclusive permitir-lhes-á entender mais facilmente e conhecer seus adversários – um fator importante para derrotá-los. Mas o mais importante: nossos jogadores, espalhados pelo mundo, ficarão mais valorizados se chegarem a esses novos pousos com maior capacidade de adaptação à cultura local.
· Finalmente, como acredito em nossos especialistas em voleibol, creio que posso desafiá-los a buscar, na imensa gama de novas tecnologias disponíveis – na informática, na robótica, na ergonomia, na fisiologia etc – modalidades de treinamento físico e de prática da técnica voleibolista com o mesmo alto rendimento alcançado hoje, mas minimizando o risco de lesionar os atletas envolvidos. A invenção do simulador de voo exemplifica e caracteriza bem o que quero significar. Provavelmente já se poderia treinar voleibol, em muitos dos seus aspectos, na realidade virtual, sem correr os riscos físicos do presente e do passado.
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SAÚDE,
VOLEIBOL E NOVAS TECNOLOGIAS
17 de jul. de 2009
EMPREGO, TERCEIRA IDADE, AMOR MATERNAL
1. As estatísticas do Ministério do Trabalho mostram que o Brasil criou 300.000 (trezentos mil) empregos de carteira assinada no primeiro semestre de 2009. Um desastre ! Em 2008, nesse mesmo período, o País gerou 1.360.000 (um milhão, trezentos e sessenta mil) postos formais de trabalho. A perda causada pela crise já passa portanto de um milhão de empregos. Outra notícia ruim desse levantamento é que a Indústria praticamente não teve novos empregos este ano, indicando sua estagnação e confirmando PIB brasileiro de 2009 no entorno de zero.
· Entre janeiro de 2003 e junho de 2009 foram gerados 8.020.478 postos de trabalho com carteira assinada. Mas desse total, quase 2 milhões, na verdade, foram de pessoas que já estavam empregadas informalmente, que tiveram a carteira assinada por força da fiscalização severa (e às vezes arbitrária) do Ministério do Trabalho e de novas regras criadas para ocupações temporárias, de modo a inflar o emprego.
· A promessa do candidato Lulla - gerar 10 milhões de empregos no primeiro mandato – não se realizará nem nos 8 anos que os eleitores lhe concederam.
· Mas ainda há tempo: para que jovens, arrimos de família etc não amarguem o desemprego, o Governo Federal precisa reduzir suas perdulárias despesas correntes e investir mais em nossa precária infraestrutura, de modo a criar novas oportunidades de trabalho produtivo, realmente útil para o Brasil.
2. As políticas públicas dirigidas à população da terceira idade devem contemplar também a classe média. Muitas das necessidades dos idosos independem da renda auferida e se situam mais nos campos psicológico e da cidadania. Depressão, auto-estima em baixa, sentimento de inutilidade e desprestígio social, solidão, conflito generacional etc são passivos intangíveis, não monetizáveis e que atingem fortemente todos os idosos.
· A promoção da política do “envelhecimento ativo”, por exemplo, contribuiria para evitar muitos daqueles males, além de alimentar o desenvolvimento local e nacional. Pessoas com perfil educacional elevado e que chegam a essa etapa de suas vidas cada vez com melhores condições de saúde física, podem perfeitamente continuar a trabalhar.
· Sempre que passo por Ipanema, Copacabana e Leblon, bairros de classe média e com a característica comum da predominância de residentes da terceira idade, fico inconformado. Dá pena vê-los pelas ruas, inaproveitados, muitos(as) deles antigos(as) e bem sucedidos professores(as), profissionais liberais, militares, aposentados saudáveis, ainda dispostos a trabalhar como voluntários ou profissionalmente, em favor do Rio de Janeiro e do Brasil.
· Vários dominam outras línguas além do Português e coincidentemente moram exatamente na região onde o turismo receptivo brasileiro atinge sua atratividade máxima. Essa coincidência sugere-me a execução de um projeto para “a turma dos anos dourados” que seria muito proveitoso para o turismo carioca
· Consistiria em treinar as pessoas bilíngues da terceira idade para atuarem como Voluntários do Turismo Receptivo na Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro. Uma vez treinados, os voluntários ostentariam um crachá identificando a(s) língua(s) dos turistas que a eles se poderiam dirigir, pedindo informações e dicas sobre o bairro e as principais atrações cariocas. Os hotéis alertariam os turistas sobre a disponibilidade dos voluntários e o projeto seria um sucesso.
3. Nasci na casa da Rua Barão da Torre 193, em Ipanema e lá morei durante os dois primeiros anos de minha vida. Em 1938 eu tinha um ano de idade e na altura da hora do almoço acordei. Estava só e comecei a sacudir meu berço, que foi se aproximando de uma janela aberta, do outro lado do quarto, que dava para uma escada que descia ao porão, três metros abaixo. Como já engatinhava, passei do berço à janela e caí. Milagrosamente fui encontrado chorando, sentado, ileso, no patamar que ligava a escada ao porão.
· Minha mãe estava em casa, dedicada aos afazeres domésticos. Seria negligência ? Filho único, minha mãe dedicou-se de corpo e alma à minha educação. Eu era a missão principal de sua vida, o objeto de suas esperanças de rude camponesa que levara uma existência dura, que parecia eternamente voltada para construir o meu futuro. Até os meus 11 ou 12 anos de idade não houve uma só noite em que ela e meu pai estivessem simultaneamente ausentes – um deles ficava sempre em casa, cuidando de mim. Quis o destino que nada me acontecesse naquele dia do tombo. Mas eu poderia ter morrido. E não canso de agradecer a meus pais, cotidianamente, pela sua dedicação ao filho, pelas oportunidades e a vida maravilhosa que me propiciaram.
· Conto esse episódio, a propósito da prisão desse pobre casal do subúrbio carioca que perdeu a filha em um acidente similar ao que sofri. Além da desgraça que os marcará pelo resto de seus dias – uma punição perpétua - coube-lhes , em vez da solidariedade, o vexame de um constrangimento difícil de entender. A Justiça deve ser cega mas tem que ter coração...
· Entre janeiro de 2003 e junho de 2009 foram gerados 8.020.478 postos de trabalho com carteira assinada. Mas desse total, quase 2 milhões, na verdade, foram de pessoas que já estavam empregadas informalmente, que tiveram a carteira assinada por força da fiscalização severa (e às vezes arbitrária) do Ministério do Trabalho e de novas regras criadas para ocupações temporárias, de modo a inflar o emprego.
· A promessa do candidato Lulla - gerar 10 milhões de empregos no primeiro mandato – não se realizará nem nos 8 anos que os eleitores lhe concederam.
· Mas ainda há tempo: para que jovens, arrimos de família etc não amarguem o desemprego, o Governo Federal precisa reduzir suas perdulárias despesas correntes e investir mais em nossa precária infraestrutura, de modo a criar novas oportunidades de trabalho produtivo, realmente útil para o Brasil.
2. As políticas públicas dirigidas à população da terceira idade devem contemplar também a classe média. Muitas das necessidades dos idosos independem da renda auferida e se situam mais nos campos psicológico e da cidadania. Depressão, auto-estima em baixa, sentimento de inutilidade e desprestígio social, solidão, conflito generacional etc são passivos intangíveis, não monetizáveis e que atingem fortemente todos os idosos.
· A promoção da política do “envelhecimento ativo”, por exemplo, contribuiria para evitar muitos daqueles males, além de alimentar o desenvolvimento local e nacional. Pessoas com perfil educacional elevado e que chegam a essa etapa de suas vidas cada vez com melhores condições de saúde física, podem perfeitamente continuar a trabalhar.
· Sempre que passo por Ipanema, Copacabana e Leblon, bairros de classe média e com a característica comum da predominância de residentes da terceira idade, fico inconformado. Dá pena vê-los pelas ruas, inaproveitados, muitos(as) deles antigos(as) e bem sucedidos professores(as), profissionais liberais, militares, aposentados saudáveis, ainda dispostos a trabalhar como voluntários ou profissionalmente, em favor do Rio de Janeiro e do Brasil.
· Vários dominam outras línguas além do Português e coincidentemente moram exatamente na região onde o turismo receptivo brasileiro atinge sua atratividade máxima. Essa coincidência sugere-me a execução de um projeto para “a turma dos anos dourados” que seria muito proveitoso para o turismo carioca
· Consistiria em treinar as pessoas bilíngues da terceira idade para atuarem como Voluntários do Turismo Receptivo na Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro. Uma vez treinados, os voluntários ostentariam um crachá identificando a(s) língua(s) dos turistas que a eles se poderiam dirigir, pedindo informações e dicas sobre o bairro e as principais atrações cariocas. Os hotéis alertariam os turistas sobre a disponibilidade dos voluntários e o projeto seria um sucesso.
3. Nasci na casa da Rua Barão da Torre 193, em Ipanema e lá morei durante os dois primeiros anos de minha vida. Em 1938 eu tinha um ano de idade e na altura da hora do almoço acordei. Estava só e comecei a sacudir meu berço, que foi se aproximando de uma janela aberta, do outro lado do quarto, que dava para uma escada que descia ao porão, três metros abaixo. Como já engatinhava, passei do berço à janela e caí. Milagrosamente fui encontrado chorando, sentado, ileso, no patamar que ligava a escada ao porão.
· Minha mãe estava em casa, dedicada aos afazeres domésticos. Seria negligência ? Filho único, minha mãe dedicou-se de corpo e alma à minha educação. Eu era a missão principal de sua vida, o objeto de suas esperanças de rude camponesa que levara uma existência dura, que parecia eternamente voltada para construir o meu futuro. Até os meus 11 ou 12 anos de idade não houve uma só noite em que ela e meu pai estivessem simultaneamente ausentes – um deles ficava sempre em casa, cuidando de mim. Quis o destino que nada me acontecesse naquele dia do tombo. Mas eu poderia ter morrido. E não canso de agradecer a meus pais, cotidianamente, pela sua dedicação ao filho, pelas oportunidades e a vida maravilhosa que me propiciaram.
· Conto esse episódio, a propósito da prisão desse pobre casal do subúrbio carioca que perdeu a filha em um acidente similar ao que sofri. Além da desgraça que os marcará pelo resto de seus dias – uma punição perpétua - coube-lhes , em vez da solidariedade, o vexame de um constrangimento difícil de entender. A Justiça deve ser cega mas tem que ter coração...
10 de jul. de 2009
RECRUTANDO FUTUROS CRAQUES
1. Praia de Ipanema, Montenegro, férias no início de 1953. A garotada ficava horas nadando ou “pegando jacaré” (o avô do surfe) e ao sair da água deitava de bruços, puxava a areia quentinha para aquecer o peito gelado e assistia à partida de voleibol. Naquele dia faltava jogador... Corrente (Hélio Cerqueira) – então técnico do voleibol feminino do Fluminense - era um dos parceiros impacientes e perguntou ao garoto deitado ao lado da quadra se podia ficar temporariamente como levantador.
2. Depois de um “set” bem jogado, foi tudo muito rápido. Na hora, recebi um convite para jogar no Fluminense e no domingo seguinte, levado pelo técnico do voleibol masculino do clube, Paulo Azeredo, fiz o primeiro treino entre os juvenis. Comecei como levantador, reserva do Ronaldo Ferreira Gomes e do Paulo Alberto Monteiro de Barros. Nas férias seguintes cresci muito e virei cortador. Foram 20 anos jogando oficialmente pelo Fluminense, muitos campeonatos ganhos, até alcançar a honra máxima de defender a Seleção Principal Brasileira de Voleibol e ganhar medalha de prata nos Jogos Panamericanos de Chicago em 1959. Curioso que o esporte de que eu gostava mesmo era o futebol e tudo ocorreu por acaso, aleatoriamente, por estar em um certo lugar, em determinado momento e por pertencer à classe média - pois éramos amadores e nossas famílias arcavam com o ônus da prática desportiva.
3. Hoje, no voleibol, é tudo diferente e começa muito mais cedo e não aos 15 anos de idade como no meu caso. Houve uma fase intermediária antes do profissionalismo, em que uns poucos técnicos abnegados, como o querido Benedito Silva, corriam quadras e praias, incansáveis, à busca de talentos. Bené levou famílias inteiras para o voleibol do Fluminense – como os Barata e os Gabino, por exemplo – e revelou muitos craques. Foi tão bem sucedido que na Seleção Brasileira da “geração de prata”, em certo momento, havia quatro jogadores descobertos por ele: Bernard, Bernardinho (o técnico imbatível), Fernandão e Badalhoca. Mas era tudo muito artesanal.
4. Agora, prevalece a massificação planejada e estruturada pela Confederação Brasileira de Voleibol, com muita mídia, escolinhas, “peneiras”, bons salários e excelentes Comissões Técnicas. Há jogadores de todas as classes sociais e o Brasil tornou-se uma potência voleibolista mundial. Os feitos de Carlos Arthur Nuzman e Ary Graça são impressionantes.
5. Por outras razões, as conquistas brasileiras na descoberta e formação de jogadores de futebol são mais antigas e espetaculares. Nosso País é a maior potência nesse esporte há décadas. Neste caso , por força de cem anos de profissionalismo, da paixão popular generalizada pelo futebol e de um empenho coletivo que começa na base, nas “peladas” da criançada, segue nas escolinhas comunitárias, passa pelas várzeas e vai desembocar nos principais clubes do Brasil, para afinal ganhar o mundo todo. No início, a família pobre do garoto promissor ganha uma cesta básica do “olheiro” local. Depois o “dono” do time da comunidade passa a dar-lhes algum dinheiro, já de olho no “contrato de gaveta” que vai assegurar seus “direitos de formação” sobre os ganhos do futuro craque. Aí entra o empresário e o processo se acelera. A globalização chegou cedo ao futebol no Brasil. A demanda pelos nossos jogadores é planetária e a remuneração compensadora.
6. Nos demais segmentos do mercado de trabalho não existe nada disso. Nem mesmo nas funções estratégicas, monopólio da classe média. As vocações vão surgindo e se colocando aleatoriamente, sem planejamento, estímulos ou incentivos da sociedade e das autoridades constituídas. Como no voleibol da minha adolescência. Uma lástima !
7. C laro que o Brasil seria outro País se para todos os setores da vida nacional procurássemos talentos como no voleibol – pelo planejamento - ou como no futebol – pela convergência da vontade coletiva. Mas a condição sine qua non para isso acontecer seria pela universalização de uma educação de qualidade ! Não se reconhece e revela talentos em uma escola deficiente, com gestão displicente e professores desmotivados.
8. O futebol, com toda razão, é visto pelas famílias mais pobres de nosso País como um dos poucos canais promissores de ascenção social no Brasil – talvez o único. E estão certíssimas! Não será com uma educação pública tão fraca como a nossa, de qualidade em certos casos até vergonhosa, que as crianças e adolescentes pobres construirão para si um futuro promissor. Só por exceção, para justificar a triste regra. Para as famílias brasileiras, em geral, a educação não é relevante, não é o caminho para o sucesso. Estão certíssimas !
9. O Brasil será potência mundial, plenamente desenvolvida e com um povo feliz, com boa qualidade de vida, quando todos os segmentos empresariais e governamentais estiverem mobilizados para descobrir precocemente os futuros grandes cientistas, profissionais, tecnólogos e professores – os agentes promotores do progresso humano e material.
10. Sem a busca incessante do talento, do seu aproveitamento pleno e do reconhecimento do mérito, obedecendo às forças do mercado, seremos sempre o “País do Futuro”.
11. Osmarina Silva era uma jovem acreana analfabeta que frequentava a classe do MOBRAL. Após três meses de curso, sua alfabetizadora – seguindo a orientação do treinamento recebido e percebendo o talento daquela aluna – encaminhou-a imediatamente para o Curso de Educação Integrada (um primário compactado), embora a alfabetização durasse 5 meses. Talvez por esse estímulo, a moça galgou rapidamente a escala educacional e hoje é a Senadora Marina Silva, do PT do Acre, ex-Ministra do Meio Ambiente. Aquela modesta alfabetizadora mudou seu destino, graças à sua perspicácia e ao treinamento recebido no MOBRAL – o primeiro sistema de educação continuada implantado no Brasil, assim que esse conceito surgiu e se firmou no plano internacional.
2. Depois de um “set” bem jogado, foi tudo muito rápido. Na hora, recebi um convite para jogar no Fluminense e no domingo seguinte, levado pelo técnico do voleibol masculino do clube, Paulo Azeredo, fiz o primeiro treino entre os juvenis. Comecei como levantador, reserva do Ronaldo Ferreira Gomes e do Paulo Alberto Monteiro de Barros. Nas férias seguintes cresci muito e virei cortador. Foram 20 anos jogando oficialmente pelo Fluminense, muitos campeonatos ganhos, até alcançar a honra máxima de defender a Seleção Principal Brasileira de Voleibol e ganhar medalha de prata nos Jogos Panamericanos de Chicago em 1959. Curioso que o esporte de que eu gostava mesmo era o futebol e tudo ocorreu por acaso, aleatoriamente, por estar em um certo lugar, em determinado momento e por pertencer à classe média - pois éramos amadores e nossas famílias arcavam com o ônus da prática desportiva.
3. Hoje, no voleibol, é tudo diferente e começa muito mais cedo e não aos 15 anos de idade como no meu caso. Houve uma fase intermediária antes do profissionalismo, em que uns poucos técnicos abnegados, como o querido Benedito Silva, corriam quadras e praias, incansáveis, à busca de talentos. Bené levou famílias inteiras para o voleibol do Fluminense – como os Barata e os Gabino, por exemplo – e revelou muitos craques. Foi tão bem sucedido que na Seleção Brasileira da “geração de prata”, em certo momento, havia quatro jogadores descobertos por ele: Bernard, Bernardinho (o técnico imbatível), Fernandão e Badalhoca. Mas era tudo muito artesanal.
4. Agora, prevalece a massificação planejada e estruturada pela Confederação Brasileira de Voleibol, com muita mídia, escolinhas, “peneiras”, bons salários e excelentes Comissões Técnicas. Há jogadores de todas as classes sociais e o Brasil tornou-se uma potência voleibolista mundial. Os feitos de Carlos Arthur Nuzman e Ary Graça são impressionantes.
5. Por outras razões, as conquistas brasileiras na descoberta e formação de jogadores de futebol são mais antigas e espetaculares. Nosso País é a maior potência nesse esporte há décadas. Neste caso , por força de cem anos de profissionalismo, da paixão popular generalizada pelo futebol e de um empenho coletivo que começa na base, nas “peladas” da criançada, segue nas escolinhas comunitárias, passa pelas várzeas e vai desembocar nos principais clubes do Brasil, para afinal ganhar o mundo todo. No início, a família pobre do garoto promissor ganha uma cesta básica do “olheiro” local. Depois o “dono” do time da comunidade passa a dar-lhes algum dinheiro, já de olho no “contrato de gaveta” que vai assegurar seus “direitos de formação” sobre os ganhos do futuro craque. Aí entra o empresário e o processo se acelera. A globalização chegou cedo ao futebol no Brasil. A demanda pelos nossos jogadores é planetária e a remuneração compensadora.
6. Nos demais segmentos do mercado de trabalho não existe nada disso. Nem mesmo nas funções estratégicas, monopólio da classe média. As vocações vão surgindo e se colocando aleatoriamente, sem planejamento, estímulos ou incentivos da sociedade e das autoridades constituídas. Como no voleibol da minha adolescência. Uma lástima !
7. C laro que o Brasil seria outro País se para todos os setores da vida nacional procurássemos talentos como no voleibol – pelo planejamento - ou como no futebol – pela convergência da vontade coletiva. Mas a condição sine qua non para isso acontecer seria pela universalização de uma educação de qualidade ! Não se reconhece e revela talentos em uma escola deficiente, com gestão displicente e professores desmotivados.
8. O futebol, com toda razão, é visto pelas famílias mais pobres de nosso País como um dos poucos canais promissores de ascenção social no Brasil – talvez o único. E estão certíssimas! Não será com uma educação pública tão fraca como a nossa, de qualidade em certos casos até vergonhosa, que as crianças e adolescentes pobres construirão para si um futuro promissor. Só por exceção, para justificar a triste regra. Para as famílias brasileiras, em geral, a educação não é relevante, não é o caminho para o sucesso. Estão certíssimas !
9. O Brasil será potência mundial, plenamente desenvolvida e com um povo feliz, com boa qualidade de vida, quando todos os segmentos empresariais e governamentais estiverem mobilizados para descobrir precocemente os futuros grandes cientistas, profissionais, tecnólogos e professores – os agentes promotores do progresso humano e material.
10. Sem a busca incessante do talento, do seu aproveitamento pleno e do reconhecimento do mérito, obedecendo às forças do mercado, seremos sempre o “País do Futuro”.
11. Osmarina Silva era uma jovem acreana analfabeta que frequentava a classe do MOBRAL. Após três meses de curso, sua alfabetizadora – seguindo a orientação do treinamento recebido e percebendo o talento daquela aluna – encaminhou-a imediatamente para o Curso de Educação Integrada (um primário compactado), embora a alfabetização durasse 5 meses. Talvez por esse estímulo, a moça galgou rapidamente a escala educacional e hoje é a Senadora Marina Silva, do PT do Acre, ex-Ministra do Meio Ambiente. Aquela modesta alfabetizadora mudou seu destino, graças à sua perspicácia e ao treinamento recebido no MOBRAL – o primeiro sistema de educação continuada implantado no Brasil, assim que esse conceito surgiu e se firmou no plano internacional.
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