5 de ago. de 2009

LUIZ GONZAGA, IPEA, ESPORTE DOENTE

1. SAUDADES - Já se passaram 20 anos da morte de Luiz Gonzaga - Rei do Baião - uma das figuras mais importantes da música popular brasileira, amado em todos os cantos do País e especialmente idolatrado no Nordeste. Luiz Gonzaga admirava o trabalho do MOBRAL e hoje recordo com saudade e gratidão sua doação à nossa causa.
· Fim da década dos 70, Estado do Rio Grande do Norte. A Coordenação Estadual do MOBRAL, com a heróica Lurdinha Bittencourt à frente, cuidava dos deserdados e esquecidos, com garra e generosidade infinitas. Dentro da filosofia de nosso trabalho comunitário, iniciou ações de alfabetização e educação sanitária junto a grupos de prostitutas – pequenos de início, maiores a seguir - buscando ao mesmo tempo conhecer suas necessidades, anseios e dificuldades. Depois de certo tempo, as reuniões no interior e na Capital adquiriram maior vulto.
· Atingida sua “massa crítica”, o processo educativo confluiu para o grande evento: um Encontro em Natal, com mil prostitutas de todo o Estado. Na data marcada, elas foram chegando ao galpão/ginásio esportivo, adaptado para aqueles dias de afirmação, nunca sonhados outrora. Vinham com suas melhores roupas, traziam colchonetes e pequenos farnéis. Surgiam de todos os recantos do Rio Grande do Norte. Tímidas umas, alegres outras, mas todas confiantes no reconhecimento pela sociedade potiguar de que agora existiam, eram gente, teriam voz e um apoio forte. Dias de encantamento e muito trabalho. Os funcionários da Coordenação Estadual desdobravam-se. Cozinhavam, lavavam, limpavam, faziam tudo – espírito MOBRAL ! As visitantes dormiam no chão, comiam lá mesmo as refeições de uma cozinha que não parava nem de madrugada. Tudo era improvisado, menos o programa de trabalho: palestras e debates sobre educação, saúde e higiene, direitos e deveres, relações humanas.
· No último dia os ânimos já eram outros, tinham identidade e reconhecimento social. À mesa do Encontro, entre as autoridades, a presença da Primeira Dama, a esposa do Governador.
· Quando a reunião estava acabando, já com saudades daqueles momentos inesquecíveis, foi-lhes pedido que silenciassem sua euforia incontida. E assim fizeram. De repente, puderam divisar, entrando no ginásio, aquela figura amada - quase um sonho ! - tocando sua sanfona e cantando com a voz inconfundível:
“Vai, boiadeiro , que a noite já vem
Guarda o teu gado
E vai pra junto do teu bem...”
Era o generoso “Lua” Gonzaga que, na sua grandeza moral, homenageava aquelas mulheres erguidas do chão. Trazia seu apoio voluntário à nossa realização pioneira: Primeiro Encontro de Prostitutas do Rio Grande do Norte. Certamente, também, o primeiro realizado no Brasil com apoio governamental. Lições do MOBRAL...
· Fica com Deus, Luiz Gonzaga, sertanejo cantador, brasileiro de talento inigualável e coração de ouro !

2. VENDENDO A ALMA - O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo Federal, anuncia ter mudado sua previsão de crescimento da economia brasileira para 2009. Passou-a de 2% para uma faixa que pode variar entre 0,2% e 1,2%. Em outras palavras: antes, apresentara uma previsão totalmente irrealista, para ficar em sintonia com o “otimismo” oficial. Agora, parte para uma futurologia discutível, dando um “chute” dentro de uma gama de variação de 500% ! Para uma instituição que já foi um modelo de competência, trata-se da mais transparente confissão de debilidade técnica e docilidade política.
· Mas não é para menos. O IPEA, onde tive a honra de trabalhar durante 7 anos (1965-1972), em época na qual funcionava com total liberdade de crítica, tornou-se um órgão político, servil aos poderosos do momento, “chapa-branca”. Demite quem desobedece à linha do Governo, inventa concursos em que privilegia quem reza pela cartilha do esquerdismo mais retrógado e publica estudos e pesquisas com resultados... digamos...“convenientes”. Agora mesmo, está sendo contestado seu estudo afirmando que pobreza e desigualdade diminuíram.
3. VENDENDO CORPO E ALMA – O profissionalismo no esporte continua mostrando sua face mais sórdida... De 44 escolhidos para representar o Brasil na próxima competição internacional de atletismo na Alemanha, 5 foram apanhados no exame antidoping, representando portanto 11% do total de selecionados. Um resultado estarrecedor que deveria levar nossos dirigentes desportivos a uma profunda reflexão sobre as políticas vigentes de recrutamento, seleção, treinamento e utilização de atletas brasileiros em competições de alto nível.

8 comentários:

  1. Olá Arlindo

    Li atentamente as suas três reflexões postadas hoje e pude fazer uma viagem ao passado com a história do Encontro em Natal. É incrível! Um evento que aconteceu há tantos atrás e tão atual. O Mobral, sem dúvida alguma, realizou eventos, adotou estratégias, criou metodologias
    desenvolveu recursos didáticos entre tantas outras iniciativas que, sem dúvida, podemos afirmar eram iniciativas inovadoras, audaciosas, mas sempre muito bem planejadas e seriamente programadas.

    Uma coisa vale registro: muitas vezes tínhamos uma ideia para um programa ou projeto (e quando digo tínhamos, estou me referindo a um grupo multidisciplinar, jovem e cheio que entusiamo, nos empenhávamos em projetá-lo e logo em seguida era possível oferecê-lo a todos os estados e municípios e em seguida, o Brasil todo estava mobilizado, envolvido com a sua realização - e não havia Internet - na maioria das vezes tudo acontecia tecido literalmente por muitas mãos, era uma rede de gente que conseguia levar de norte a sul uma ideia. Uma ideia que embora projeta por um grupo no Rio imediatamente era ressignificada, ganhava cara própria quando chegava em um Estado ou Município, a partir da criatividade e dos interesses locais.

    É isso aconteceu a muito tempo atrás, mas ainda guardo comigo muito do que aprendi e vivi no Mobral.

    Adélia

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  2. Olá Dr. Arlindo, oia eu aqui de novo.(musica de L.Gonzaga)Quando li o que o senhor escreveu falando de L.Gonzaga, fez lembrar-me do meu segundo roteiro de Mobralteca, aqui no maranhão na cidade de Zé Doca, 350km de S. Luis.L. Gonzaga estava passando por lá para realização de um show, quem patrocinava era antiga Sudene. Quando ouvi falar do show, fiquei louco, tinha que ir onde LG de quer jeito e fui, lá fiz a aprezentação do show e convidei o velho Lua para fazer uma visita na Mobralteca, que estava em um povoado distante uns 30km da sede do municipio. Pois não é que o rei foi lá, falou sobre o Mobral e cantou. Uma das musicas que cantou foi A B C do Sertão e Vozes da Seca e disse ainda que desde o tempo do PÊ QÊ RÊ, ele tinha uma escolinha no sertão do Araripe mantida por ele, mais que tinha chegado o Mobral e as coisas tinha melhorado muito no sertão, não só para crianças e sim para todo o povo. Ele aconselhou os colonos, falando sobre educação, foi uma força muito grande para o trabalho de mobilização que estavamos fazendo para o PAF. Dr. Arlindo eu tenho 90% das musicas de L. Gonzaga, caso o senhor queira alguma posso lhe mandar.Inspirado em L. Gonzaga eu ganhei em primeiro no festival de musica em minha cidade, musica alusiva ao Mobral, nome da musica era Caboclo Velho, vou lembrar da letra e mandar para o senhor. Um grande abraço. Trabulsi

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  3. Oi, Arlindo!
    Por falar em Gonzagão queria registrar o dia que ele conheceu o MOBRAL e, por coincodência, a Mobralteca também.
    Estávamos em viagem de supervisão na cidade de Patos, na Paraíba:eu, Laisy Tavares, os operadores Seymuller, Felipe Fraga e Rui. No final da noite, quando a MObralteca já havia se deslocado de um município vizinho para se apresentar em Patos, nos dirigimos ao Hotel Juscelino Kubistchek para passarmos a noite. Nesse momento soubemos que o Gonzagão estava hospedado lá também. Não deu outra, no dia seguinte tomammos café da manhã com ele e contamos o que era o MObral e seus diversos programas. Ele ficou encantado e sensibilizado. Confesso que não me recordo direito, pois viajei para a capital logo após o café, mas tenho uma vaga ideia que ele deu uma canja à noite no show.
    Acho que o Seymuller pode tirar esta nossa dúvida.
    Se der, tente falar com ele. Ainda estou debilitada e de molho.
    Afinal, tivemos os dois REIS da música brasileira se apresentando em nossas MObraltecas: Roberto Carlos e Luiz Gonzaga. Este período foi realmente indescritível e maravilhoso.
    Um grande abraço,
    Anateca (Ana Watson)

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  4. Oi, Arlindo!

    Cometi um grande lapso por não ter citado nosso tão saudoso animador Ari Leite, que também estava presente no nosso café da manhã com o Lua, na cidade de Patos/Pb.
    Rimos muito, o que era um hábito na nossa rotina de trabalho. Amávamos o que fazíamos e todos nós tínhamos elevada auto-estima e grande prazer no que realizávamos. Belos anos de nossas vidas...
    Um grande abraço,
    Anateca

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  5. Grato pelos três comentários, que enriquecem as informações deste blog e lembram as verdades do MOBRAL. Coeso, competente e com uma invejável capacidade de execução até a ponta, como disse a Adélia Maria. Acreditem: uma história simples contada pelo Trabulsi, com sua vivência de quem faz cultura popular de verdade, lá nos confins do Nordeste, é mais elucidativa e importante que aquelas dezenas de teses bem amestradas que acadêmicos fabricaram sob encomenda para atacar o MOBRAL e destruí-lo. Mande-me, caro Trabulsi, as duas músicas que o Lua Gonzaga cantou na sua MOBRALTECA. Projeto gerenciado pela Ana Maria Watson, incansável, que dá mais um depoimento da maior importância sobre a credibilidade que o MOBRAL inspirava no Rei do Baião. Ana: continue a rir porque fomos privilegiados...nós realizamos ! Arlindo Lopes Corrêa

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  6. Arlindo ,ótimo seu pensar/ atletas x doping
    Nas corridas de cavalo,o exame acusa doping no cavalo e a Comissão de Corridas determina -" o treinador tal está suspenso por dois anos e sua entrada é proibidano no hipódromo"./simples assim/.
    Na Suécia,nas internas olimpíadas, quando se trata de atletas dopados, pertencentes a determinado clube,este é pagador de ampla multa e o atleta afastado, por certo tempo.
    No nosso Brasil,torna-se difícil regulamentar a questão do doping - com normas tão confusas que na hora da ação ninguém sabe como agir.
    Os dirigentes desportivos preocupados,mas não em demasia,buscavam encobrir,mesmo com testemunho de atletas
    Agora,no exame antidoping,aqui realizado,pela-- Confederação Nacional de Atletismo , a grande surpresa!,- - dos 44 atletas que estarão na competição internacional da Alemanha,5 foram-afastados por doping.
    Ficou evidente que o assunto escapa da esfera da ciência e da moral do esporte e se encaminha para o terreno da política esportiva.Esta nós conhecemos "bons exemplos" através da CBD.
    O Regulamento ,simples assim, tem que ser enérgico e sem brechas
    Os dirigentes desportivos de maior poder possuem o dever e o direito de proteger a saúde e a integridade dos atletas,que nada mais são que vítimas da máquina. Thereza

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  7. A questão do doping é muito maior do que parece desde que somente atletas surgem como culpados como aconteceu com os 5 do atletismop brasileiro. Se o foco se desloca para dirigentes e treinadores a propria competição esportiva esta comprometida com seu futuro desde que as leis e codigos do esporte - no Brasil e no exterior - não alcançam a culpabilidade de tais atores sociais. Nesta linha de conta se insere o doping genetico no qual os laboratorios tambem tem a culpa ocultada desde que a intervenções nos atletas são similares e sobrepostas a doenças como o cancer, por exemplo. A solução parece residir em estudos socio-culturais que vão alem do esporte uma vez que o problema do doping reside mais na organização social do que em medidas repressivas. Fui durante oito anos membro da WADA, agencia mundial de anti-dopagem (Montreal- Canada) e posso garantir que uma visão simplista, persucutoria e voltada somente para esportistas é rigorosamente equivocada.
    Lamartine DaCosta

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  8. Lamartine: você tem razão. Realmente há muitos centros de pesquisa estudando meios de dopar sem que os exames detectem, o que significa o evidente envolvimento das cúpulas dirigentes. No blog que escrevi hoje reflito sobre o destino sombrio do esporte. Arlindo

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