8 de abr. de 2009

EDUCAÇÃO COM GARANTIA DE QUALIDADE

É chegado o tempo de as instituições de ensino darem garantia, à sua clientela, da qualidade dos serviços educacionais que lhes prestam.
Durante muitos anos frequentei a UNESCO, OEA e outras instituições internacionais que atuam no setor educacional, ora como representante do Governo brasileiro ora como Consultor contratado por essas organizações. Continuo acompanhando suas atividades, recebendo e lendo suas publicações e navegando em seus sites. Posso assegurar que nunca se pensou na hipótese de dar, aos alunos, garantia de qualidade dos serviços educacionais pelos quais pagam, de uma forma ou de outra.
Nos últimos tempos, tenho recebido uma profusão de e-mails que me oferecem, a bom preço e em inglês sofrível, diplomas de mestrado e doutorado com base apenas em minha experiência de vida (mas como, se os remetentes nem me conhecem ?). Como antídoto a esse estado de coisas, a essa permissividade pedagógica que se generaliza, sugiro o que nossas autoridades educacionais já deveriam ter proposto há tempos: (1) que a legislação brasileira passe a prever o direito de os consumidores cobrarem e o dever de os estabelecimentos assegurarem a qualidade dos serviços educacionais por eles prestados; (2) e que, como corolário, os agentes prestadores desses serviços no Brasil deem garantia de qualidade do ensino ministrado a seus alunos.
Nas duas últimas décadas, o sistema educacional brasileiro ampliou os números de seu atendimento mas pouco evoluiu do ponto de vista qualitativo. Apenas continua produzindo muito mais da mesma coisa: alunos despreparados, que em todos os testes internacionais sempre colocam nosso País próximo à “lanterninha” dentre as nações envolvidas. O mais conhecido e reputado desses testes, o PISA, da competente OECD, tem sido impiedoso com a debilidade qualitativa de nossa educação.
A reação interna a essa triste e indesmentível realidade é estridente e unânime: há toda uma retórica oficial em favor do “ensino de melhor qualidade”. Novos programas, projetos, atividades, medidas... Ação inócua, sem consequências práticas... Mas seria diferente caso os estudantes formados recebessem “garantia de qualidade” (o que incluiria também a “garantia de durabilidade”) dos conhecimentos e habilidades que teoricamente deveriam dominar. Nesse contexto, a expedição de um diploma para um profissional, por exemplo, implicaria em responsabilidade solidária da instituição educacional formadora – que certamente passaria a fazê-lo com o comedimento responsável que a sociedade exige. O Código do Consumidor deveria adaptar-se às peculiaridades do mercado educacional e aí vigorar como nos demais setores produtivos, nos quais provocou um indiscutível salto de qualidade.
A Educação é sabidamente resistente à mudança e à inovação no mundo todo, talvez por sua relutância em abrir-se à participação multidisciplinar. O setor geralmente é monopólio de “oficiais do mesmo ofício” e a participação de outros profissionais é considerada um assalto a direitos natos de gestão reservados aos autodenominados “educadores”. Como o mundo real é complexo, mutável e sua dinâmica se rebela contra qualquer visão unidimensional, faltam criatividade e capacidade de adaptação ao sistema educacional.
Nas circunstâncias atuais, quando alguém se inscreve em um curso de qualquer nível de ensino – básico ou universitário – nada e ninguém pode assegurar que vá receber um serviço de qualidade. E o pior: caso se decepcione, o aluno não tem a quem recorrer e sofrerá um grande prejuízo pessoal cujo ônus será inteiramente seu. Não se concebe que a prestação de serviços tão decisivos para o futuro de seus usuários e de notável impacto nos destinos da sociedade em geral, esteja fora daquela legislação saneadora. Se as instituições que atendem aos estudantes brasileiros fossem obrigadas a prestar contas judicialmente no caso de (1) fazerem propaganda enganosa dos objetivos terminais que se propõem a alcançar com seus alunos, (2) transmitirem conhecimentos e habilidades já ultrapassados e obsoletos, (3) fraudarem cargas horárias exigidas legalmente, (4) simularem bibliotecas e laboratórios que não existem ou não funcionam, (5) ultrapassarem a lotação máxima admissível das salas de aula etc etc, certamente a qualidade média de nossa Educação melhoraria rapidamente. E só o Código do Consumidor, colocado nas mãos do povo, permitirá fiscalizar a observância das normas educacionais em nosso País-continente.
Os cursos pós-universitários e de educação à distância devem ser os primeiros contemplados por essa inovação, em face de suas características. Logo de início, em vez de punir com o rigor da lei, pode-se começar por obrigar as instituições docentes a cumprirem as promessas de seu projeto pedagógico e a oferecerem dispositivos de segurança para garantirem sua qualidade de ensino. Esses mecanismos – cuja adoção comprovará o empenho das instituições em prestar um bom serviço - podem ser facilmente implantados e seus custos são relativamente baixos para os agentes educativos que encaram sua missão com seriedade.

13 comentários:

  1. Arlindo:

    Só para corroborar com seu artigo, narro a experiência de uma amiga já formada em administração de Empresas que “resolveu” prestar vestibular para Marqueting, sendo aprovada em 10º lugar em uma universidade particular. Aos 40 anos de idade, está profundamente desapontada com a facilidade que, por qualquer pretexto, as aulas são canceladas enquanto a mensalidade continua integral. Tendo já reclamado com todos de direito dentro da instituição sem nenhum efeito, está prestes a abandonar o curso em função do custo x benefício. Reclamar com quem se, ao que consta, os próprios alunos se alegram com o cancelamento de uma aula?
    Sua idéia do PROCON é fabulosa, mas me pergunto se haveriam “reclamantes”.

    Cardoso Júnior

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  2. Olá Arlindo
    Sua ideia merece toda a atenção e crédito, além de ser muito oportuna, principalmente nesse contexto de multiplicação de ofertas de cursos universitários de graduação e pós-graduação a distância. Além das inúmeras ações já em andamento, no sentido de preparar professores e professoras a distância, inclusive para atuação na escola básica.

    Não podemos negar que os avanços tecnológicos estão aí e causam impactos na formação das crianças, dos jovens e até mesmo dos adultos - às vezes não sabemos muito bem a natureza desses impactos, mas sabemos que não é mais possível virar as costas para eles - muitas crianças, jovens e adultos, mesmo aqueles que não dispõem de todos esses avanços em casa, de alguma maneira são afetados por eles.

    Por isso mesmo, acredito que devemos buscar incorporá-los de maneira crítica e criativa à prática pedagógica(e ainda temos que aprender a fazer isso melhor, apesar do conhecimento já acumulado na área), contudo isso não significa ampliar atendimento de qualquer maneira. Não basta incorporar a mídia (mesmo quando produzida por instituições reconhecidas) e achar que ela por si só já é garantia de qaulidade. Produção e utilização são faces de uma mesma moeda e, nesse sentido, é preciso garantir a observação de princípios e critérios também pedagógicos nos dois sistemas.

    Nessa perspectiva, sua idéia pode contribuir e muito para que isso aconteça efetivamente.

    Todavia, gostaria de colocar uma pergunta para fazer girar o debate: como viabilizar isso, por exemplo, no Ensino Básico público quando muitos dos seus usuários na maioria das vezes não sabe o que exigir. Ou ainda, quando na maioria das vezes os pais ficam satisfeitos e felizes com o simples fato de já ter seu filho ou filha "abrigado/a" na escola, em segurança, enquanto trabalham? Como orientar essas famílias na direção do que você propõe?

    Um grande abraço, Adélia Maria

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  3. Fui um dos primeiros a advogar, no Brasil, a utilização de novas tecnologias educacionais e no IPEA (anos 60) quase consegui que o Brasil tivesse um satélite de última geraçãoutilizado exclusivamente para Educação (TV e rádio). Era um investimento de US$ 3 bilhões em 10 anos. Não consegui, porque o General Taunay Drumond Coelho dos Reis era contra e o Exército etc etc. Continuo totalmente a favor das novas tecnologias - mas com qualidade. Você que me ajudou a fazer o Programa de Alfabetização pela TV no MOBRAL (pioneiro e um sucesso)sabe disso. O Ministério Público pode lutar pela educação dos pobres no Brasil(uma vergonha!), bastando ter um instrumento válido de coerção. É o que pretendo com a proposta do Blog. Grato. Arlindo

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  4. A ideia do blog é execelente! Vou continuar divulgando-o.

    Feliz Páscoa!
    Adélia

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  5. Meu caro Arlindo
    Sua idéia é excelente e inédita para mim.
    Acho apenas que a implementação, digamos , do PROCON para o setor da educação seria uma tarefa, não impossível é claro, mas muito difícil de ser realizada aqui no nosso País.Se considerarmos também que a educação é contínua, pois os conhecimentos nas ciências sofrem modificações diariamente, dada a rapidez dos avanços científicos e tecnológicos, ficaria, a meu ver, difícil estabelecer parâmetros e critérios.Porém,se tivermos pessoas capacitadas e com vontade política a criação de um órgão que protegesse os alunos e contribuísse com sua atuação para melhorar a qualidade do ensino, como vc preconiza, seria o ideal.
    Um abraço,
    Ronaldo

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  6. Caro Ronaldo: você tocou em pontos importantes e tem razão quanto à dificuldade de julgamento da qualidade de uma escola, em função das constantes inovações tecnológicas e científicas. Mas quando alguém se sentisse logrado pela instituição de ensino iria, de início, fazer incidir suas queixas sobre aspectos do projeto pedagógico não cumpridos, como bibliotecas e laboratórios constantes do pedido de autorização de funcionamento e não existentes, matérias não ministradas e assim por diante. De cara, iríamos obrigar a todos estabelecimentos a cumprirem direitinho o que prometeram no papel aos respectivos Conselhos Estaduais ou Nacional. Hoje isso passa em branco. Agora o mais importante: é exatamente para que todas as escolas disponham de esquemas de educação continuada para aconselhar seus ex-alunos a se atualizarem (e não necessariamente o fazerem elas próprias, mas saberem indicar onde os ex-alunos devem se atualizar) que a proposta é mais valiosa. Uma escola tem que saber detetar quando o que ela ensinou ficou desatualizado EXATAMENTE PARA QUE ELA SE ATUALIZE SEMPRE. Esta discussão é muito boa e eu poderia falar mais, porém o espaço aqui é limitado. Mas fico às suas ordens e agradeço sua bela intervenção. Arlindo

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  7. Caros Leitores: fui pesquisar a questão da garantia de qualidade da educação em nível internacional e verifiquei que minha idéia é boa mas não é original. Na Europa funciona a European Association for Quality Assurance in Higher Education (ENQA) que trabalha nesse tema e em consonância com as Regras de Bolonha da União Européia alguns países estão implantando Agências de Avaliação e Acreditação para a Garantia da Qualidade do Ensino Superior. Arlindo Lopes Corrêa

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  8. Caros Leitores: lendo os documentos europeus sobre garantia de qualidade tenho que desmentir o que escrevi no comentário anterior. As Agências de Avaliação são órgãos constituídos por especialistas em educação encarregados de avaliar e fazer a acreditação de instituições de ensino. Isso é mais velho que a Sé de Braga. Funcionarão como as Comissões que avaliam nossas escolas superiores há décadas. O que proponho é diferente: que alunos e ex-alunos possam recorrer a órgãos de defesa do consumidor para penalizar estabelecimentos que os enganem e não ofereçam a educação que prometem. Arlindo Lopes Corrêa

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  9. “Posso assegurar que nunca se pensou na hipótese de dar, aos alunos, garantia de qualidade dos serviços educacionais pelos quais pagam, de uma forma ou de outra”.

    Alguém se importa com a educação proporcionada a seus filhos na escola?
    Meus filhos estudaram num dos melhores colégios de Niterói, uma cidade com um dos melhores IDH do Brasil. Em 1985-86 um deles cursava o 2º ano colegial, já se preparando para no ano seguinte prestar vestibular para uma universidade. Numa das reuniões entre pais e professores, questionei sobre o ensino da Educação Física. Era precário, inócuo e hipócrita: alunos que não se prestassem a jogar o futebol (na aula), a eles estava destinado realizar 10 voltas no campo. Castigo? A mim soava como imbecilidade. Solicitei ao Coordenador (?) uma cópia do currículo de EF escolar e não fui atendido: indagou-me para que eu queria o referido documento; incontinenti, redigi uma carta ao diretor do educandário, com cópia que distribui a vários outros pais. Até hoje aguardo a resposta... O professor (?) era o próprio coordenador da escola.
    Lembro-me de que, no início da década de 50, quando frequentei o ginásio, também no melhor educandário de Niterói – o Liceu Nilo Peçanha – uma bola de futebol era disponibilizada para a prática da EF após uma “chamada” de 10-15 minutos. Quem quisesse, participava do jogo. Os outros, tchau! O que mudou? Para onde vai o ensino universitário? Que professor é este?
    E hoje, como imaginam que seja? Algum papai ou mamãe se incomoda?
    Roberto Pimentel

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  10. Curso de educação à distância.
    Em trabalho voluntário, estou formatando em última instância, um curso à distância para todos os professores de Educação Física ou interessados em “Aprender a ensinar”. A partir da próxima semana, estarei freqüentando um curso em que pretendo aprender as respectivas técnicas para que tenha sucesso na minha investida. Enquanto isso preparo a “entrada no ar” do meu site e blog. Tenho esperanças de sucesso e o tempo e as adesões estarão a medir a qualidade e intensidade do meu ensino. Espero que me acompanhem nesta missão, que tem como objetivo tão somente prestar bom serviço. Pelo menos, não haverá custos e encaro com bastante seriedade o assunto. Vocês verão logo a seguir. Entre os meus maiores incentivadores, o próprio autor deste blog, o Arlindo, a quem devo muitos incentivos nesta tarefa.
    Roberto Pimentel.

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  11. Arlindo
    A verdadeira questão-a qualidade da educação oferecida que à escola particular,setencia à escola pública é real.-Elas atendem a populações diferentes. Os níveis socio-econômicos não são iguais/difícil se torna esta comparação /somando a gigante diferença entre a quantidade dos alunos que são apreciados ao -Exame Nacionaldo Ensino Médio (Enem)
    Ex;
    São Bento x Pedro II
    " O Inep calculou a média dos 191 mil alunos das escolas particulares,participantes do exame.Por outro lado,selecionou as 191 notas mais altas,do total de 922 mil estudantes das escolas públicas/
    Desempenho:
    Alunos da rede privada ligeramente maior: 63,04 a 62,53 -
    teste objetivo-escolas particulares saíram-se melhor (60,73 a 54,01)
    redação - ocorreu o inverso (71,05 a 65,35), a favor das públicas"
    Esta notícia foi veívculada,pelo jornal " O Globo" em sua edicão de 29 de abril de 2009.
    A qualidade da educação brasileira é que está em crise /privada e pública/,apesar de educadores sérios /das teses lutadoras/ a educação brasileira anda mal e com ela o professor anda mal e o salário é mau
    Quem tem medo da educação?
    Paradoxalmente existe belas soluções - elas estão nas mensagens escritas é só encontrar seus igarapés.
    É lutar por uma educação brasileira como um todo
    Thereza Bulhões

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  12. Thereza: você tocou em um ponto muito importante.Não se pode avaliar, com precisão e em termos absolutos, a educação ministrada em certa escola, medindo apenas o seu produto (no caso o aluno depois de ter passado pelo curso) pois os estabelecimentos recebem matéria-prima heterogênea (os alunos ao ingressarem no curso, que chegam com diferentes condições, variáveis em função de suas condições sociais, familiares e individuais). O que esses ENEM da vida medem, depois que existe uma série histórica de alguns anos, é a evolução ocorrida em cada escola e as mudanças relativas entre as escolas. Eu compreendo bem isso porque não pude entrar no 1o. ano primário da Escola (pública)Henrique Dodsworth pois ao fazer o teste de Gille fui considerado imaturo, o que decorria do fato de ser proveniente de uma família com pouca escolaridade e não ter feito pré-escola. Fui para o Colégio Fontainha e lá melhorei muito minha performance acadêmica, depois de alguns anos, estando sempre entre os mais aplicados das turmas que frequentei. Em termos práticos, porém, seria difícil efetuar essas avaliações nacionais considerando todos os fatores causais que influem no desempenho dos estudantes. Mas sua objeção é pertinente. Grato pelo comentário. Arlindo

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  13. Arlindo
    Entendo que a idéia de um "Procon Didático"iria pressionar o surgimento da realidade escolar ,que muitas vezes oculta seu perfil,escurecendo sua história.História esta que escrita se encontra nos muros seus,gravadas nas conversas das famílias na entrada e saída de seus filhos.
    A história se torna mais obscura quando os pais buscam reclamar seus direitos na sala fechada da diretora,na burocracia das Cooredenadorias Regionais,senão nas muitas portas complicadas da Secretaria de Educação.
    A falta de vontade política dos que comandam afastam as famílias do que poderia ser a vida da escola em seu amplo sentido.
    Sinto a criação de um "Procon Didático"como um orgão técnico de direção e orientação oferecendo às famílias escolares aprendizagem para que possam cobrar seus direitos com dignidade garantindo a todos nós uma Educação de Qualidade
    Thereza Bulhões

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