1. Será o conceito de “carreira profissional” (ainda) necessário ? Desde a Reforma Universitária de 1968, que instituiu o regime de créditos no ensino superior brasileiro, aquele conceito perdeu funcionalidade. Mantê-lo obsta a flexibilização e dinamização da Universidade.
E o diploma, tal como o conhecemos ? Habilitando para uma profissão que hoje sempre admite inúmeras especializações e variantes, o diploma clássico se transformou em um genérico quase inócuo. Na concepção de uma Universidade moderna, os estudantes deveriam escolher livremente os créditos que desejassem cursar e de seus diplomas constariam os créditos cursados com aproveitamento adequado. Especificar uma carreira geralmente seria problemático, pois o número de combinações possíveis tenderia para infinito e a menção a uma profissão determinada não refletiria a realidade da vida acadêmica do aluno. O mercado de trabalho faria a seleção dos profissionais de acordo com suas competências, conhecimentos e habilidades (aliás, na prática dos empregos de qualidade, é o que ocorre). Elegendo livremente seus créditos, os alunos estudariam com maior motivação – que é um dos fatores mais importantes para o sucesso acadêmico. Com a atual rigidez, também a Universidade perde a riqueza da diversidade que teoricamente seria seu grande trunfo. É como se você entrasse em um restaurante a quilo, com um bufê maravilhoso e muito variado, mas tivesse permanentemente a seu lado um garçom que não deixaria que você se servisse de certas iguarias de seu agrado. Como seria bom para o Brasil ter mais advogados que soubessem Matemática e médicos que conhecessem Estatística. Eletricidade e Resistência dos Materiais ! Como está, nosso sistema educacional não incentiva a formação diversificada dos estudantes, exatamente aquela que conduz à inovação, ao exercício da criatividade. Claro que muitos invocarão a necessidade de tratamento especial para certas profissões. Essas cautelas compreensíveis - com segurança, ética, licitude etc - podem ser tratadas no âmbito das Ordens e dos Conselhos Profissionais. Quando participei da Reforma Universitária de 1968, na chefia do Setor de Educação do IPEA, defendi essa idéia, lá se vão 40 anos. Persisto, porque o cartorialismo brasileiro é fator de atraso.
No meu tempo de jovem, o diploma era um problema porque havia tão poucas profissões que, se o desvio ocupacional fosse fortemente coibido, não teríamos como suprir o leque das inúmeras ocupações existentes no florescente parque produtivo brasileiro. Nossa economia estagnaria. Recordo-me que minha turma - que se formou em Engenharia no Largo de São Francisco, em 1960 - deu excelentes engenheiros mas também alguns dos melhores cineastas brasileiros, um Governador, banqueiros, economistas, pesquisadores, educadores, capitães da indústria etc. Gente que teve sucesso e deu enorme contribuição ao País. Importante, no caso, é que esse grupo teve uma formação básica de excepcional qualidade.
Hoje, o diploma ainda é um problema, pelo motivo inverso – a proliferação incontrolável e incessante, no mundo real, de uma infinidade de novas ocupações que nem a CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) do Ministério do Trabalho consegue acompanhar direito em suas sucessivas edições. A regulamentação das profissões e seus monopólios funcionais não evitam erros médicos, chicanas jurídicas e muito menos pirâmides que sugam as economias dos investidores incautos. Essencial mesmo é ter uma educação de qualidade. O resto é detalhe...
2. O MOBRAL já admitia funcionários com necessidades especiais no início dos anos 70. Práticas de um órgão inovador. Geraldão era um gigante de quase dois metros, com alma de criança. Segundo meu assessor Roberto Gürsching, exercia no MOBRAL a função de “especialista em manobras de peso”. Ou seja, carregava tudo que os outros não tinham força para aguentar. Um dia, no início de 1974, me encontrou no pátio e falou: “Arlindo, você agora é o Presidente do MOBRAL, né ? Eu soube que o Simas (sic) foi criar boi... “ E diante de meu ar inquisitivo, acrescentou: “me disseram que o Simas foi pra fazenda”. Mario Henrique Simonsen, o tal Simas que o Geraldão tratava com essa intimidade mesmo, tinha sido nomeado Ministro da Fazenda e eu fui seu substituto na Presidência do MOBRAL... Geraldão, na sua ingenuidade, tinha razão, porque o novo trabalho de Simonsen era mesmo uma ”tourada”.
3. Temporão:“Que vem ou acontece fora da época apropriada; EXTEMPORÂNEO; SERÓDIO; TARDIO.” O Caldas Aulete não falha...
Tempo 1: vi e ouvi o Ministro da Saúde declarar na TV, em cadeia nacional, que já havia cortado de seu cardápio inúmeros alimentos, por estarem supercontaminados por agrotóxicos. E parou por aí... Fica Sua Excelência a nos dever a lista desses alimentos “não ministeriáveis” para que nós, pobres mortais, também possamos evitá-los. E quem sabe se o Ministro pode tomar rapidamente as medidas legais para coíbir essa prática lesiva à saúde do povo... Tempo 2: nestes tempos de globalização, avião a jato, computador e TV via satélite, nada mais extemporâneo do que a ação do Ministério da Saúde em relação à gripe suína. A concepção, impressão e distribuição de um panfleto esclarecedor nos principais aeroportos do Brasil não poderia consumir, nessa emergência, mais do que seis horas...
27 de abr. de 2009
19 de abr. de 2009
EMPREGO E CULTURA
O desemprego no Brasil continua preocupante. O Governo Federal declarou-se muito satisfeito com a geração, apurada no CAGED, de 34.818 empregos formais em março de 2009. É claro que as autoridades devem mostrar-se otimistas, especialmente em momentos de recessão. Mas a realidade é que em março de 2008 haviam sido criados 206.556 empregos. Assim, considerando o período desde o início da crise, entre outubro de 2008 e março de 2009, o Brasil perdeu 692 mil postos de trabalho e deveria, ao contrário, ter gerado 566 mil novos empregos, como ocorreu nos anos anteriores. Em outras palavras, a crise já nos custou 1.258.000 vagas no mercado de trabalho. O que mais preocupa é a supressão de 147 mil lugares na Indústria, de janeiro a março deste ano. Quando a Indústria – o grande motor do desenvolvimento – desemprega, o PIB, a riqueza nacional, desaba. Também não é bom o fato de o Comércio ter perdido 70.753 empregos no trimestre. Há um certo alento do crescimento de 31 mil empregos na Construção Civil, o qual deverá intensificar-se com os programas da casas populares. Mas o prosseguimento do inchaço da máquina pública (+23 mil empregos de janeiro a março de 2009, em plena crise !) preocupa, pois aumenta as despesas correntes, reduzindo as disponibilidades para investimento, prioridade absoluta neste momento e sobretudo mostra que os Governos ainda não entenderam o seu papel de sobriedade neste momento difícil.
Douro, Reno, Mosela
Fico a imaginar o que seria do mundo, se os ecologistas do Pier da Farme de Amoedo tivessem poder absoluto e proibissem o cultivo das parreiras nas encostas, a menos de 30 metros (???) das margens dos rios da velha Europa. Adeus a alguns dos mais saborosos vinhos de Portugal, França e Alemanha e aos cruzeiros românticos no Douro, Mosela, Reno etc para usufruir daquelas paisagens belas e repousantes.
Momentos Vívidos
No dia 18 de abril de 1974, Roberto Carlos – que merece todas as homenagens - deu uma importante contribuição ao MOBRAL. O Rei visitou, em Cachoeiro do Itapemirim, a MOBRALTECA que teve então sua maior participação popular de todos os tempos - uma multidão de 70 mil pessoas. . . A MOBRALTECA era uma unidade móvel que tinha acomodação para 3 pessoas, incluindo camas e banheiro, que estacionava 3 dias nos Municípios brasileiros mais remotos, levando livros, cinema, música, exposições de artes plásticas, shows etc e recolhendo as manifestações culturais das suas populações. Foi um projeto pioneiro de dois dos mais competentes designers brasileiros – Verschleisser e Visconti – e do Major Herbert Fiuza, um craque do IME, que concebeu o sistema eletro-eletrônico. Ana Maria Watson (Anateca), que tocava com dinamismo o projeto, teve naquele dia sua merecida glória. O animador daquela MOBRALTECA, Ari Leite, já falecido, faz-me recordar alguns dos outros animadores – como José Cardoso Junior, Alberto Eduardo Corona, Luis Carlos dos Santos – verdadeiros bandeirantes da cultura brasileira que conheceram o íntimo do Brasil e seu povo.
Douro, Reno, Mosela
Fico a imaginar o que seria do mundo, se os ecologistas do Pier da Farme de Amoedo tivessem poder absoluto e proibissem o cultivo das parreiras nas encostas, a menos de 30 metros (???) das margens dos rios da velha Europa. Adeus a alguns dos mais saborosos vinhos de Portugal, França e Alemanha e aos cruzeiros românticos no Douro, Mosela, Reno etc para usufruir daquelas paisagens belas e repousantes.
Momentos Vívidos
No dia 18 de abril de 1974, Roberto Carlos – que merece todas as homenagens - deu uma importante contribuição ao MOBRAL. O Rei visitou, em Cachoeiro do Itapemirim, a MOBRALTECA que teve então sua maior participação popular de todos os tempos - uma multidão de 70 mil pessoas. . . A MOBRALTECA era uma unidade móvel que tinha acomodação para 3 pessoas, incluindo camas e banheiro, que estacionava 3 dias nos Municípios brasileiros mais remotos, levando livros, cinema, música, exposições de artes plásticas, shows etc e recolhendo as manifestações culturais das suas populações. Foi um projeto pioneiro de dois dos mais competentes designers brasileiros – Verschleisser e Visconti – e do Major Herbert Fiuza, um craque do IME, que concebeu o sistema eletro-eletrônico. Ana Maria Watson (Anateca), que tocava com dinamismo o projeto, teve naquele dia sua merecida glória. O animador daquela MOBRALTECA, Ari Leite, já falecido, faz-me recordar alguns dos outros animadores – como José Cardoso Junior, Alberto Eduardo Corona, Luis Carlos dos Santos – verdadeiros bandeirantes da cultura brasileira que conheceram o íntimo do Brasil e seu povo.
EMPREGO E CULTURA
O desemprego no Brasil continua preocupante. O Governo Federal declarou-se muito satisfeito com a geração, apurada no CAGED, de 34.818 empregos formais em março de 2009. É claro que as autoridades devem mostrar-se otimistas, especialmente em momentos de recessão. Mas a realidade é que em março de 2008 haviam sido criados 206.556 empregos. Assim, considerando o período desde o início da crise, entre outubro de 2008 e março de 2009, o Brasil perdeu 692 mil postos de trabalho e deveria, ao contrário, ter gerado 566 mil novos empregos, como ocorreu nos anos anteriores. Em outras palavras, a crise já nos custou 1.258.000 vagas no mercado de trabalho. O que mais preocupa é a supressão de 147 mil lugares na Indústria, de janeiro a março deste ano. Quando a Indústria – o grande motor do desenvolvimento – desemprega, o PIB, a riqueza nacional, desaba. Também não é bom o fato de o Comércio ter perdido 70.753 empregos no trimestre. Há um certo alento do crescimento de 31 mil empregos na Construção Civil, o qual deverá intensificar-se com os programas da casas populares. Mas o prosseguimento do inchaço da máquina pública (+23 mil empregos de janeiro a março de 2009, em plena crise !) preocupa, pois aumenta as despesas correntes, reduzindo as disponibilidades para investimento, prioridade absoluta neste momento e sobretudo mostra que os Governos ainda não entenderam o seu papel de sobriedade neste momento difícil.
Douro, Reno, Mosela
Fico a imaginar o que seria do mundo, se os ecologistas do Pier da Farme de Amoedo tivessem poder absoluto e proibissem o cultivo das parreiras nas encostas, a menos de 30 metros (???) das margens dos rios da velha Europa. Adeus a alguns dos mais saborosos vinhos de Portugal, França e Alemanha e aos cruzeiros românticos no Douro, Mosela, Reno etc para usufruir daquelas paisagens belas e repousantes.
Momentos Vívidos
No dia 18 de abril de 1974, Roberto Carlos – que merece todas as homenagens - deu uma importante contribuição ao MOBRAL. O Rei visitou, em Cachoeiro do Itapemirim, a MOBRALTECA que teve então sua maior participação popular de todos os tempos - uma multidão de 70 mil pessoas. . . A MOBRALTECA era uma unidade móvel que tinha acomodação para 3 pessoas, incluindo camas e banheiro, que estacionava 3 dias nos Municípios brasileiros mais remotos, levando livros, cinema, música, exposições de artes plásticas, shows etc e recolhendo as manifestações culturais das suas populações. Foi um projeto pioneiro de dois dos mais competentes designers brasileiros – Verschleisser e Visconti – e do Major Herbert Fiuza, um craque do IME, que concebeu o sistema eletro-eletrônico. Ana Maria Watson (Anateca), que tocava com dinamismo o projeto, teve naquele dia sua merecida glória. A foto relembra o evento há 35 anos, mostrando esse artista excepcional com o diploma de agradecimento oferecido pela instituição. O animador daquela MOBRALTECA, Ari Leite, também aparece na foto ao meu lado e faz-me recordar alguns dos outros animadores – como José Cardoso Junior, Alberto Eduardo Corona, Luis Carlos dos Santos – verdadeiros bandeirantes da cultura brasileira que conheceram o íntimo do Brasil e seu povo.
Douro, Reno, Mosela
Fico a imaginar o que seria do mundo, se os ecologistas do Pier da Farme de Amoedo tivessem poder absoluto e proibissem o cultivo das parreiras nas encostas, a menos de 30 metros (???) das margens dos rios da velha Europa. Adeus a alguns dos mais saborosos vinhos de Portugal, França e Alemanha e aos cruzeiros românticos no Douro, Mosela, Reno etc para usufruir daquelas paisagens belas e repousantes.
Momentos Vívidos
No dia 18 de abril de 1974, Roberto Carlos – que merece todas as homenagens - deu uma importante contribuição ao MOBRAL. O Rei visitou, em Cachoeiro do Itapemirim, a MOBRALTECA que teve então sua maior participação popular de todos os tempos - uma multidão de 70 mil pessoas. . . A MOBRALTECA era uma unidade móvel que tinha acomodação para 3 pessoas, incluindo camas e banheiro, que estacionava 3 dias nos Municípios brasileiros mais remotos, levando livros, cinema, música, exposições de artes plásticas, shows etc e recolhendo as manifestações culturais das suas populações. Foi um projeto pioneiro de dois dos mais competentes designers brasileiros – Verschleisser e Visconti – e do Major Herbert Fiuza, um craque do IME, que concebeu o sistema eletro-eletrônico. Ana Maria Watson (Anateca), que tocava com dinamismo o projeto, teve naquele dia sua merecida glória. A foto relembra o evento há 35 anos, mostrando esse artista excepcional com o diploma de agradecimento oferecido pela instituição. O animador daquela MOBRALTECA, Ari Leite, também aparece na foto ao meu lado e faz-me recordar alguns dos outros animadores – como José Cardoso Junior, Alberto Eduardo Corona, Luis Carlos dos Santos – verdadeiros bandeirantes da cultura brasileira que conheceram o íntimo do Brasil e seu povo.
8 de abr. de 2009
EDUCAÇÃO COM GARANTIA DE QUALIDADE
É chegado o tempo de as instituições de ensino darem garantia, à sua clientela, da qualidade dos serviços educacionais que lhes prestam.
Durante muitos anos frequentei a UNESCO, OEA e outras instituições internacionais que atuam no setor educacional, ora como representante do Governo brasileiro ora como Consultor contratado por essas organizações. Continuo acompanhando suas atividades, recebendo e lendo suas publicações e navegando em seus sites. Posso assegurar que nunca se pensou na hipótese de dar, aos alunos, garantia de qualidade dos serviços educacionais pelos quais pagam, de uma forma ou de outra.
Nos últimos tempos, tenho recebido uma profusão de e-mails que me oferecem, a bom preço e em inglês sofrível, diplomas de mestrado e doutorado com base apenas em minha experiência de vida (mas como, se os remetentes nem me conhecem ?). Como antídoto a esse estado de coisas, a essa permissividade pedagógica que se generaliza, sugiro o que nossas autoridades educacionais já deveriam ter proposto há tempos: (1) que a legislação brasileira passe a prever o direito de os consumidores cobrarem e o dever de os estabelecimentos assegurarem a qualidade dos serviços educacionais por eles prestados; (2) e que, como corolário, os agentes prestadores desses serviços no Brasil deem garantia de qualidade do ensino ministrado a seus alunos.
Nas duas últimas décadas, o sistema educacional brasileiro ampliou os números de seu atendimento mas pouco evoluiu do ponto de vista qualitativo. Apenas continua produzindo muito mais da mesma coisa: alunos despreparados, que em todos os testes internacionais sempre colocam nosso País próximo à “lanterninha” dentre as nações envolvidas. O mais conhecido e reputado desses testes, o PISA, da competente OECD, tem sido impiedoso com a debilidade qualitativa de nossa educação.
A reação interna a essa triste e indesmentível realidade é estridente e unânime: há toda uma retórica oficial em favor do “ensino de melhor qualidade”. Novos programas, projetos, atividades, medidas... Ação inócua, sem consequências práticas... Mas seria diferente caso os estudantes formados recebessem “garantia de qualidade” (o que incluiria também a “garantia de durabilidade”) dos conhecimentos e habilidades que teoricamente deveriam dominar. Nesse contexto, a expedição de um diploma para um profissional, por exemplo, implicaria em responsabilidade solidária da instituição educacional formadora – que certamente passaria a fazê-lo com o comedimento responsável que a sociedade exige. O Código do Consumidor deveria adaptar-se às peculiaridades do mercado educacional e aí vigorar como nos demais setores produtivos, nos quais provocou um indiscutível salto de qualidade.
A Educação é sabidamente resistente à mudança e à inovação no mundo todo, talvez por sua relutância em abrir-se à participação multidisciplinar. O setor geralmente é monopólio de “oficiais do mesmo ofício” e a participação de outros profissionais é considerada um assalto a direitos natos de gestão reservados aos autodenominados “educadores”. Como o mundo real é complexo, mutável e sua dinâmica se rebela contra qualquer visão unidimensional, faltam criatividade e capacidade de adaptação ao sistema educacional.
Nas circunstâncias atuais, quando alguém se inscreve em um curso de qualquer nível de ensino – básico ou universitário – nada e ninguém pode assegurar que vá receber um serviço de qualidade. E o pior: caso se decepcione, o aluno não tem a quem recorrer e sofrerá um grande prejuízo pessoal cujo ônus será inteiramente seu. Não se concebe que a prestação de serviços tão decisivos para o futuro de seus usuários e de notável impacto nos destinos da sociedade em geral, esteja fora daquela legislação saneadora. Se as instituições que atendem aos estudantes brasileiros fossem obrigadas a prestar contas judicialmente no caso de (1) fazerem propaganda enganosa dos objetivos terminais que se propõem a alcançar com seus alunos, (2) transmitirem conhecimentos e habilidades já ultrapassados e obsoletos, (3) fraudarem cargas horárias exigidas legalmente, (4) simularem bibliotecas e laboratórios que não existem ou não funcionam, (5) ultrapassarem a lotação máxima admissível das salas de aula etc etc, certamente a qualidade média de nossa Educação melhoraria rapidamente. E só o Código do Consumidor, colocado nas mãos do povo, permitirá fiscalizar a observância das normas educacionais em nosso País-continente.
Os cursos pós-universitários e de educação à distância devem ser os primeiros contemplados por essa inovação, em face de suas características. Logo de início, em vez de punir com o rigor da lei, pode-se começar por obrigar as instituições docentes a cumprirem as promessas de seu projeto pedagógico e a oferecerem dispositivos de segurança para garantirem sua qualidade de ensino. Esses mecanismos – cuja adoção comprovará o empenho das instituições em prestar um bom serviço - podem ser facilmente implantados e seus custos são relativamente baixos para os agentes educativos que encaram sua missão com seriedade.
Durante muitos anos frequentei a UNESCO, OEA e outras instituições internacionais que atuam no setor educacional, ora como representante do Governo brasileiro ora como Consultor contratado por essas organizações. Continuo acompanhando suas atividades, recebendo e lendo suas publicações e navegando em seus sites. Posso assegurar que nunca se pensou na hipótese de dar, aos alunos, garantia de qualidade dos serviços educacionais pelos quais pagam, de uma forma ou de outra.
Nos últimos tempos, tenho recebido uma profusão de e-mails que me oferecem, a bom preço e em inglês sofrível, diplomas de mestrado e doutorado com base apenas em minha experiência de vida (mas como, se os remetentes nem me conhecem ?). Como antídoto a esse estado de coisas, a essa permissividade pedagógica que se generaliza, sugiro o que nossas autoridades educacionais já deveriam ter proposto há tempos: (1) que a legislação brasileira passe a prever o direito de os consumidores cobrarem e o dever de os estabelecimentos assegurarem a qualidade dos serviços educacionais por eles prestados; (2) e que, como corolário, os agentes prestadores desses serviços no Brasil deem garantia de qualidade do ensino ministrado a seus alunos.
Nas duas últimas décadas, o sistema educacional brasileiro ampliou os números de seu atendimento mas pouco evoluiu do ponto de vista qualitativo. Apenas continua produzindo muito mais da mesma coisa: alunos despreparados, que em todos os testes internacionais sempre colocam nosso País próximo à “lanterninha” dentre as nações envolvidas. O mais conhecido e reputado desses testes, o PISA, da competente OECD, tem sido impiedoso com a debilidade qualitativa de nossa educação.
A reação interna a essa triste e indesmentível realidade é estridente e unânime: há toda uma retórica oficial em favor do “ensino de melhor qualidade”. Novos programas, projetos, atividades, medidas... Ação inócua, sem consequências práticas... Mas seria diferente caso os estudantes formados recebessem “garantia de qualidade” (o que incluiria também a “garantia de durabilidade”) dos conhecimentos e habilidades que teoricamente deveriam dominar. Nesse contexto, a expedição de um diploma para um profissional, por exemplo, implicaria em responsabilidade solidária da instituição educacional formadora – que certamente passaria a fazê-lo com o comedimento responsável que a sociedade exige. O Código do Consumidor deveria adaptar-se às peculiaridades do mercado educacional e aí vigorar como nos demais setores produtivos, nos quais provocou um indiscutível salto de qualidade.
A Educação é sabidamente resistente à mudança e à inovação no mundo todo, talvez por sua relutância em abrir-se à participação multidisciplinar. O setor geralmente é monopólio de “oficiais do mesmo ofício” e a participação de outros profissionais é considerada um assalto a direitos natos de gestão reservados aos autodenominados “educadores”. Como o mundo real é complexo, mutável e sua dinâmica se rebela contra qualquer visão unidimensional, faltam criatividade e capacidade de adaptação ao sistema educacional.
Nas circunstâncias atuais, quando alguém se inscreve em um curso de qualquer nível de ensino – básico ou universitário – nada e ninguém pode assegurar que vá receber um serviço de qualidade. E o pior: caso se decepcione, o aluno não tem a quem recorrer e sofrerá um grande prejuízo pessoal cujo ônus será inteiramente seu. Não se concebe que a prestação de serviços tão decisivos para o futuro de seus usuários e de notável impacto nos destinos da sociedade em geral, esteja fora daquela legislação saneadora. Se as instituições que atendem aos estudantes brasileiros fossem obrigadas a prestar contas judicialmente no caso de (1) fazerem propaganda enganosa dos objetivos terminais que se propõem a alcançar com seus alunos, (2) transmitirem conhecimentos e habilidades já ultrapassados e obsoletos, (3) fraudarem cargas horárias exigidas legalmente, (4) simularem bibliotecas e laboratórios que não existem ou não funcionam, (5) ultrapassarem a lotação máxima admissível das salas de aula etc etc, certamente a qualidade média de nossa Educação melhoraria rapidamente. E só o Código do Consumidor, colocado nas mãos do povo, permitirá fiscalizar a observância das normas educacionais em nosso País-continente.
Os cursos pós-universitários e de educação à distância devem ser os primeiros contemplados por essa inovação, em face de suas características. Logo de início, em vez de punir com o rigor da lei, pode-se começar por obrigar as instituições docentes a cumprirem as promessas de seu projeto pedagógico e a oferecerem dispositivos de segurança para garantirem sua qualidade de ensino. Esses mecanismos – cuja adoção comprovará o empenho das instituições em prestar um bom serviço - podem ser facilmente implantados e seus custos são relativamente baixos para os agentes educativos que encaram sua missão com seriedade.
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