19 de mar. de 2009

EDUCAÇÃO E ACORDO ORTOGRÁFICO

Pertencer a uma comunidade linguística com 240 milhões de falantes (quase 4% da população mundial), caso dos oito países que têm o Português como idioma oficial, é uma dádiva nada desprezível neste mundo globalizado. Mas é necessário trabalhar sobre essa vantagem comparativa potencial, em princípio meramente demográfica, de modo a extrair-lhe as consequências práticas desejadas. Nesse sentido, os aspectos qualitativos do relacionamento das nações e povos envolvidos serão determinantes: é indispensável que as populações lusófonas se conheçam muito bem, mantenham amplas relações de troca, cultivem o respeito mútuo e se sintam irmanadas na busca de alguns objetivos comuns.
A implantação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa oferece uma oportunidade única para que deixemos de constituir uma comunidade que - apesar de todos os esforços - existe apenas na retórica das reuniões internacionais. Comunidade cuja consistência não resiste a uma análise mais profunda, pois seus povos se ignoram.
Para alcançar os ideais comunitários da lusofonia, o grande veículo deverá ser o sistema educacional – aliás um ponto fraco comum aos nossos países. Em meu entendimento é viável desenvolver um tipo decisivo de ação em favor do Acordo que trará concomitantemente inegáveis benefícios tanto para o sistema educacional brasileiro – reconhecido em sua debilidade e distante do atingimento de seus objetivos qualitativos - quanto para o ensino dos demais parceiros lusófonos. Sugestão que aliás já dei a alguns Municípios do Estado do Rio de Janeiro, logo após a posse dos atuais Prefeitos.
A ideia seria, ainda neste ano letivo, mobilizar todas as escolas brasileiras em que haja computadores e INTERNET banda larga disponíveis, para que os alunos, estimulados e orientados por seus professores, estabeleçam contacto sistemático e duradouro com estudantes dos demais países de língua portuguesa, utilizando-se dos diversos meios disponíveis na rede. E isso deve inicialmente ser feito de forma lúdica, motivadora, aproveitando que os jovens, normalmente curiosos, serão seduzidos pelo conhecimento desses novos interlocutores tão distantes, na África, Europa e Ásia. Nesses contactos, tudo será novidade para os estudantes e espaço fértil para a ampliação de seus conhecimentos. Tanto as diferenças - de fuso horário, escrita, pronúncia, músicas preferidas, roupas, moedas etc - quanto as semelhanças - descobertas naturalmente e às vezes surpreendentes - irão cimentando a simpatia mútua e fortalecendo a solidariedade comunitária.
Esse intercâmbio seria um momento propício para que os professores, adequadamente treinados, estimulassem os alunos a um aprendizado altamente enriquecedor de História, Geografia e, claro, de Português, com ênfase no Acordo Ortográfico e na utilização da norma culta. Entendendo as raízes comuns e diversidades de nossos povos e países, as gerações mais jovens consolidarão naturalmente a comunidade lusófona em poucos anos.
O sucesso na implantação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é da mais alta importância para facilitar o desenvolvimento dos países da comunidade. A Academia Brasileira de Letras está fazendo sua parte e lançando o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), instrumento básico para a concretização do Acordo, tarefa que deve ser anseio e meta de todos os cidadãos brasileiros. É necessário relevar os eventuais inconvenientes de sua adoção e reconhecer que na decisão de implementá-lo, a partir de 1º de janeiro de 2009, prevaleceu acertadamente a visão de Estado, abrangente, essencialmente geopolítica, visando enfrentar os desafios da globalização.
Os especialistas acreditam que 3.500 línguas desaparecerão nos próximos 50 anos, seus falantes sendo cooptados por idiomas mais poderosos como Inglês, Espanhol, Hindi ou Swahili. A implementação do Acordo talvez possibilite que o Português alcance no futuro esse status de prestígio. Não para absorver ou cooptar comunidades falantes de línguas de menor curso, como as dos índios que vivem em nosso território, pois esse processo é sempre lamentável e uma perda para a Humanidade. A unificação da nossa escrita é indispensável, isto sim, para que o Português se torne idioma oficial no Sistema das Nações Unidas, tenha maior peso (e trânsito) na INTERNET e propicie outras vantagens importantes aos nossos países, gerando benefícios no comércio externo, na atração do investimento estrangeiro, na expansão das indústrias culturais (literatura, música, teatro, televisão...) e em diversos outros aspectos sócio-político-econômicos. Reforçar a posição do Português deve ser objetivo nacional permanente.
Às vezes, porém, uma boa ideia esbarra na dificuldade de concretizá-la e esse poderá ser o caso. O envolvimento dos estudantes, começando pelo diálogo entre brasileiros e portugueses, deve ser imediato. O Ministro da Cultura de Portugal quer a aplicação efetiva do Acordo Ortográfico, o mais tardar em 1 de Janeiro de 2010, dando uma demonstração de boa vontade de seu Governo, já que anteriormente previa-se um prazo de seis anos para tal aplicação. Isso significa que não haverá qualquer obstáculo oficial às iniciativas que nossas escolas tomem no sentido estabelecer esse intercâmbio com Portugal onde, aliás, todos os alunos estarão em breve utilizando em seu trabalho estudantil um computador portátil de baixo custo (denominado Magalhães), o que facilitará o diálogo pretendido. Os estudantes dos demais países lusófonos devem ser também contactados neste ano letivo, na medida de suas possibilidades tecnológicas, participando ativamente no grande diálogo da língua portuguesa, criador do espaço de real integração comunitária lusófona.

7 comentários:

  1. Arlindo
    Que idéia incrível esse blog
    Parabéns.

    Quanto ao texto
    Estou plenamente de acordo com você.

    Como estudiosa do português e dispondo dele como minha ferramenta cotidiana de trabalho reconheço as inúmeras posssibilidades que esse acordo nos abre, inclusive como ponte para estimular o diálogo intercultural entre os países lusófonos.

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  2. Arlindo:

    Seguindo a linha da primeira postagem, leio um novo e importantíssimo assunto tratado de maneira inteligente e compreensível. Parabéns. No entanto, vejo-me obrigado a pegar um atalho no seu raciocínio sobre o que será, sem dúvida, uma das maiores barreiras para o Acordo. Já existe um acordo não governamental praticado com enorme regularidade entre os jovens (estudantes) que freqüentam a INTERNET. É o famigerado PORTUNET que se alastra com velocidade superior a língua original, qualquer Acordo globalizado e praticado entre jovens de todas as classes em suas comunicação escritas.
    Considero o Acordo importante e a implementação de suas idéias de grande valor, mas infelizmente, antes de todos “falarmos” a mesma língua, creio ser necessário aprender primeiro a escrever o Português.
    O Acordo poderá ser praticado um dia, ainda muito distante, mas tão somente se o PORTUNET (que se alastra assustadoramente) for combatido por todos os meios.
    Fica minha opinião juntamente com as felicitações de mais um texto brilhante.
    Júnior.

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  3. Junior: você tem toda razão. Foi exatamente por esse motivo que fiz referência à norma culta. A vantagem da minha proposta é que sendo o intercâmbio na escola e o objetivo "descobrir" a nova ortografia (do Acordo), os professores dirigirão o projeto sempre trabalhando junto aos alunos para que eles usem a norma culta e não o "internetês". Resolveremos dois problemas...Arlindo

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  4. Arlindo
    Suas colocações são perfeitas, como não poderiam deixar de ser, partindo de um educador com a sua qualificação.Atualização do nosso idioma se faz necessário, particularmente, se levarmos em conta o seu objetivo de instituir uma ortografia oficial única da língua portuguesa, fato que aumentaria, a meu ver, o seu prestígio internacional e serviria ainda para atender , de maneira mais eficaz, os interesses geopolíticos e econômico do Brasil.
    Um abraço do
    Ronaldo

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  5. Comunidade lusófona
    Uma boa idéia pressupõe contornar as dificuldades ou problemas e ser colocada em prática sob quaisquer riscos, caso contrário ela é morta. Na busca de estratégias para encontrar soluções estarei apoiando-me na “busca heurística”, calcada na experiência. A partir do seu desenvolvimento, novas descobertas e novos desafios que, certamente estarão a nos indicar o melhor caminho. No meu trabalho (voluntário) que será apresentado em breve no sítio que estou a preparar, estarei lançando as bases para esta integração lusófona entre estudantes e professores ligados ao minivoleibol (Gira-Volei em Portugal). A estratégia pretende unir inicialmente educação & esporte, assuntos de seu domínio e experiência. Pretendo, assim, dar prosseguimento à minha “cruzada” e por em prática o que brilhantemente expõe. Parece que estaremos mais “lincados” brevemente.
    Roberto Pimentel.

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  6. Roberto: seu comentário é um alento para mim, pois comprova a possibilidade de o meu blog gerar iniciativas úteis, como essa sua, de usar o minivoleibol como mais um elo de ligação da comunidade lusófona. Sua estratégia é perfeita, pois o potencial de motivação do esporte garantirá sucesso ao projeto de intercâmbio. Grato e parabéns. Arlindo

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  7. As iniciativas visam a democratizar esse importante idioma para as mais de 240 milhões de pessoas, mas concordo com um dos comentaristsa desse blog, ao preocupar-se com a turma da internet, que nem está aí para qualquer tipo de acordo ortográfico. Quanto as suas ideias (já estou no ritmo do novo acordo, acho que não haveria dificuldade para implantá-las ns escolas. Arlindo, você sabe que a base de qualquer mudança começa por aí, seja por intercãmbio ou pelo uso sistemático em todos os ambientes de trabalho. A mídia já está contribuindo, a exemplo de jornais como o Globo e o DIA. Um forte abraço! Corona

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